* Victor Nogueira
Ontem um bêbado abordou me quando via os livros na montra da Livraria dos Salesianos. Queria saber qual era a melhor história que ali estava. Ou a maior ? A de todo o mundo! De todos os tempos. Que todos aqueles livros eram mentiras. Para as pessoas comprarem pensando serem verdades. Era a máquina! Se eu acreditava que o homem tinha ido à Lua, se eu vira com os meus olhos. Que os jornais e os livros só diziam mentiras. Que nenhum homem pudera ter ido à Lua porque ele não vira. E que eu tinha sido enganado pelos jornais. Era mentira, talvez tivessem ido, mas tinham morrido todos. Que isso dos submarinos andarem debaixo de água era diferente: era a Terra. Quanto pagaria eu para ele me contar uma história daquelas, vinda do fundo do coração? ( E vai daí, faz um gesto como que proveniente das profundezas do mesmo mas, ou pela bebedeira, ou lá porque fosse, o gesto iniciou-se baixo demais e não pude deixar de comentar com a minha habitual ironia: "O seu coração está baixo demais!". ) Quis saber o que eu fazia - se era escritor e já escrevera o meu livro - e não acreditava que eu vivesse do ar e do vento. Enfim, que se tivesse 25 anos como eu estava mas é em Lisboa, que isso sim! E lá se ia agitando desequilibradamente o velho (de 57 anos), num asilo, convidando me (ou convidando se) para um copo ali na taberna, beata ao canto da boca com um grande morrão e deitando perdigotos como nuvem rota em dia de inverno. Mas nem queiram saber a insistência com que ele duvidava da ida dos homens à Lua. (MCG - 1972.10.23) ~ Évora
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