* Victor Nogueira
Há vários tipos de guerra, com armas "materiais"
cada vez mais mortíferas e catastróficas, desde a pedra até à bombas nuclear ou
biológicas, guerra que até há pouco era normalmente precedida duma
"declaração" formal.
Mas há outros tipos de guerras, designadamente psicológicas,
quer para "conquistar corações", quer para semear o terror, quer com
matérias explosivos, quer por manipulação da consciência dos terráqueos.
Os motivos essenciais para o estado de guerra, larvar ou
declarado, são económicos: apropriação e controle das fontes de matérias primas
ou de circuitos de troca, aquilo que se designa como mercados.
Os mercados nas sociedades primitivas ou da Idade Média
europeia, p. ex., são diferentes dos mercados capitalistas, cujo objectivo
primordial é inventarem necessidades, criando produtos e bens, muitas vezes
desnecessários, cada vez mais perecíveis e descartáveis, tudo em busca duma
mais-valia que crie lucros incessantemente crescentes.
Quando vem o bláblá “guerreiro” de governos e meios de
comunicação social que mascaram a cupidez dum sistema socio-económico como o
capitalista, predador e destrutivo, é caso para perguntar que guerra é esta em
que a maioria é apenas carne para canhão, que aceita passivamente toda a tralha
comunicacional nas mãos dos donos disto tudo e seus homens e mulheres de mão.
Invocar ou inventar um estado de guerra para destruir países
e povos, como sucede no Médio Oriente, ou dominar mercados como aquele que
existe entre os países capitalistas, manipulando as consciências através de
manchetes, de noticiário "cirurgicamente" formatado e direccionado,
numa campanha semeadora e amplificadora de medos e do terror psicológicos,
suspender a democracia e as relações inter-pessoais como sucede presentemente
com pretexto do covid-19, hoje, de outro amanhã, de um terceiro no ano seguinte,
provocar o caos e a paralisação da economia lançando na miséria grupos sociais
inteiros, que caminha para o matadouro com a inocência dos cordeiros, é algo
tenebroso.
De repente dos noticiários desapareceram as alterações
climáticas, os refugiados que buscam asilo na Europa, que morrem nas águas do
Mediterrâneo, os milhares ou milhões de mortos por outras causas e doenças,
pandemias ou epidemias no mundo. Olhando para a paróquia, Tancos, Operação
Marquês e processos similares, incêndios de Pedrógão desapareceram da
comunicação social dominante.
Dizem eles que persistem (ainda e por enquanto) os direitos
de reunião dos órgãos dirigentes dos partidos políticos e das organizações dos
trabalhadores, mas esvaziam os locais de trabalho. atomizam as pessoas, proíbem
as manifestações e reuniões, proíbem a resistência, atemorizam com multas e
encarceramento quem "resista" à Autoridade e às suas
"legítimas" ordens, "prevaricadores" apontados a dedo,
("porrada sobre eles", ouve-se e lê-se), independentemente das razões
que possam invocar.
Estamos em guerra, dizem e clamam os governos e amplificam
os órgãos de comunicação social, Não há atentados bombistas, não há atiradores
furtivos e emboscados, não há aviões ou drones bombardeando, mas de repente a
maioria do pessoal aceita o seu aprisionamento e confinamento, assim como
restrições aos seus direitos e garantias, incluindo os de resistência, de
manifestação e de reunião.
Mas se a economia parar, se as pessoas não comprarem, se as
empresas falirem, designadamente as uni-pessoais e as de pequena e média dimensão,
com o cortejo de despedimentos e da perda de rendimentos, se diminuir a entrega
de verbas à Segurança Social e ao Fisco, como poderão manter-se o Direito à
Habitação, assim como o chamado "Estado Social", o Serviço Nacional
de Saúde, geral e universal, a Escola Pública, os apoios sociais à habitação,
na doença, no desemprego, na 3ª idade? Como poderão manter-se se num quadro de
desemprego generalizado aumentando o trabalho sem direitos?
Para já criou-se um "grupo" social de gente à
partida considerada senil, incapaz de auto-discernimento, carente de especial
protecção, potenciadora da transmissão do covid-19 e de ocupar as camas e os
cuidados de saúde em prejuízo dos que têm mais valia social. Inicialmente
seriam os maiores de 65 anos, mas depois o limite passou para os 70 anos.
Inicialmente poderiam apenas circular nas duas 1ªs horas do dia, restrição que
acabou por ser afastada. Entre a 1ª e a 2ª versões, onde começa e acaba a mão
do Presidente da República, inicialmente auto-confinado na sua casa de Cascais
e depois trasladando-se para a sua residência oficial, o Palácio de Belém,
agora em prudente e recatado silêncio? Presidente da República
auto-resguardado, e mandando para a frente o Governo, diz Sua Excelência que é
para não tirar protagonismo (e a ribalta) ao Governo?
Isto porque se preocupam com os velhos, a esmagadora
maioria, que vivem sozinhos, muitas vezes desamparados, em casa ou
"armazenados" ao monte em lares mais ou menos manhosos, à espera da
morte?
Não, se esta sociedade, os governos e a maioria das pessoas
não se preocupam com os velhos, porque carga de água haviam de mudar do dia
para a noite?
É natural que morram pessoas, morrem todos os dias pelos
mais variados motivos, no mundo inteiro, vítimas da fome, de pandemias, de
doenças, que não têm meios para evitar ou curar, vítimas da guerra, da falta de
água, da falta de cuidados básicos de saúde, sejam recém-nascidos, jovens
adultos, velhos, homens, mulheres e crianças, ninguém fica cá para semente,
Como se todos os dias não houvesse senão a morte, o terror, o aprisionamento.
De repente ocorre-me que por vezes ao chegar ao local de
trabalho,encontrava o pessoal administrativo a comentar quem andava com quem,
para além das mortes e divórcios da véspera, perguntando-lhes eu de seguida se
na véspera não tinha havido festas, nascimentos e casamentos!
Deveríamos considerar que tudo isto é um "barro à
parede", criando um grupo social de potenciais infecto-contagiosos,
irresponsáveis, compulsivamente confinados à solidão ainda maior, à impossibilidade
de cavaquearem ou jogarem à bisca ou ao xadrez no banco do jardim ou na
taberna, "proibidos" de passearem pelos jardins, pelas ruas mesmo que
não ponham em causa a saúde deles ou de outrem, ainda mais impossibilitados de
receberem manifestações físicas de carinho e afecto, os poucos que ainda as
recebem?
Confinadas a "consumirem" o que as redes sociais,
a imprensa on-line e as televisões despejam nas casas das pessoas, mergulhadas
na alienação das relações meramente virtuais, encasuladas em casa, vítimas
crescentes do stress, da depressão, das frustrações, impossibilitadas de
espairecerem ou de mudarem de ares para carregar as baterias, sujeitas aos nada
inocentes massacres noticiosos, violentadas na sua condição humana, como
reagirão as pessoas?
Em seguida, com o "triunfo" da barbárie e da
desumanidade, logo chegarão outros grupos sujeitos a confinamento e perda de
direitos. Tudo isto em nome duma crise que os donos disto tudo e o capitalismo,
endemicamente criam e reproduzem, com resultados cada vez mais desastrosos.
Que Liberdade tem quem não tem dinheiro, quem não pode
viajar ou deslocar-se porque não há meios de transporte acessíveis, quem não
pode estar desempregado,com cada vez com menos ou nenhuns direitos, quem não
pode comprar os produtos e géneros que abarrotam as prateleiras das lojas e dos
supermercados? Quem não tem dinheiro para pagar seguros de saúde, por exemplo?
Que sociedade de mercado e de produção e de troca é esta em
que se não houver dinheiro são negados e tripudiados os já considerados
"subversivos" direitos humanos solenemente proclamados na sequência
da derrota do nazi-fascismo?
SOBRE AS 4 GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS VER