As "últimas" palavras de Álvaro Cunhal em
2005
"É minha vontade ser incinerado no forno
crematório e que as cinzas sejam espalhadas na terra ou canteiros de flores do
cemitério.
É também minha vontade, que peço ao meu Partido que
respeite, que no funeral não sejam pronunciados quaisquer discursos.
É-me também particularmente grata a ideia de que
poderão querer (seja-lhes ou não possível fazê-lo) despedir-se de mim nesse
dia, designadamente:
- camaradas meus, dos mais responsáveis aos mais
modestos e desconhecidos, junto com os quais, antes e depois do 25 de Abril,
lutei até aos últimos dias de vida (sempre com confiança no futuro) pelos
interesses e direitos dos trabalhadores, por uma sociedade de liberdade e
democracia, pelo bem do nosso povo e da nossa pátria, pelo nosso partido como
partido da classe operária, dos trabalhadores, de todos os explorados e
ofendidos, por uma sociedade socialista;
- também familiares a quem muito quero, antes de
mais a filha querida e seus filhos, a irmã, a companheira mulher amada e outros
familiares próximos, aos quais, mesmo quando longe, me ligaram, e ligam, até
aos últimos momentos de vida, os mais profundos e ímpares sentimentos de amor e
ternura;
- e ainda amigos sem partido, e homens, mulheres e
jovens que me habituei a estimar e a respeitar, e a muitos dos quais me ligaram
profundas relações de amizade e compreensão;
- outros que queiram estar presentes, com respeito
pelo que como comunista fui toda a vida, com virtudes e defeitos, méritos e
deméritos como todo o ser humano.
A todos desejo que, vida fora, realizem os seus
sonhos."
Álvaro Cunhal
2005 - a última "caminhada"