sábado, 3 de maio de 2014

NOS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL 23 - Sermão do Bom ladrão, segundo o Pe. António Vieira


O que está em causa na pena de morte, a pena de Talião, é a de ser estilo "olho por olho, dente por dente", como se a pena de morte tivesse efeito dissuasor, para além dos inúmeros erros judiciais. Isto sem falar na “tortura” de anos de espera no corredor da morte e na execução de condenados que entretanto se haviam regenerado.
E de haver "criminosos" e "Criminosos". Como aliás já António Vieira escrevia no Sermão do Bom Ladrão:
- Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? —
- Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco pone latronem et piratam, quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
- (…) Não só são ladrões os que cortam bolsas ou espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem lhes é dado o governo dos estados, ou a administração das cidades, ou ainda a representação do povo, os quais com astúcia e malícia, já com o poder, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam países e cidades; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados; estes furtam e enforcam. (..) Quantas vezes viu-se em Roma, enforcarem um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado um país.»
[Fragmentos do Sermão do bom ladrão, de Pe. António Vieira]
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