sábado, 3 de maio de 2014

a pena de morte, o pirata e o imperador


Victor Nogueira
  1. O que está em causa é a pena de morte, a pena de talião, estilo "olho por olho, dente por dente", como se a pena de morte tivesse efeito dissuasor, para além dos inúmeros erros judiciais. Isto sem falar na “tortura” de anos de espera no corredor da morte e na execução de condenados que entretanto se haviam regenerado. E de haver "criminosos" e "Criminosos". Como aliás já António Vieira escrevia no Sermão do Bom Ladrão: Um pirata respondeu a Alexandre Magno «eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? » «O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.» E assim, sg Vieira, «o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.»
    1. E no mesmo sermão A Vieira escreve: «Não só são ladrões os que cortam bolsas ou espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem lhes é dado o governo dos estados, ou a administração das cidades, ou ainda a representação do povo, os quais com astúcia e malícia, já com o poder, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam países e cidades; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados; estes furtam e enforcam. (..) Quantas vezes viu-se em Roma, enforcarem um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado um país.»

http://www.publico.pt/mundo/noticia/quando-tudo-o-que-pode-correr-mal-numa-execucao-acontece-1634418


1
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à
sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de
andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor,
que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? —
5
Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o
roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as
significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco pone latronem et piratam, quo regem
animum latronis et piratae habentem. 
Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o

pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.

[Fragmento do Sermão do bom ladrão, de Pe. António Vieira]

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