Em 26 de Abril, no Forte de Caxias, 5 ou 6 inspectores da PIDE aguardavam a chegada das forças do MFA comandadas pelo capitão-tenente Abrantes Serra, às ordens de quem se colocam afirmando lealdade. O objectivo da força dos Fuzileiros era garantir a segurança dos presos políticos com vista à sua libertação.
Contudo um telefonema de Spínola impõe que não sejam libertados os presos acusados de delito comum os quais pela força de fuzileiros haviam sido libertados das celas e circulavam na prisão. Após o telefonema Abrantes Serra verifica que o comandante da Força de Paraquedistas que guardava o Forte havia mandado recolher às celas todos os presos políticos, alegando que não havia ordem da Junta para libertá-los.
Abrantes Serra ordena de novo a abertura de todas as celas enquanto chegam delegados do MFA e da Junta para libertar os presos. Em consequência os delegados da Junta e do MFA e Abrantes Serra solicitam a colaboração dum dos inspector da PIDE/DGS para que sejam identificados os presos políticos a libertar. O inspector da PIDE/DGS resolve pois aconselhar quem deveria ou não ser libertado, isto é, distinguindo os “muito perigosos”, que segundo ele não deveriam ser libertados, ou seja, cerca de 60 dos 82 continuariam presos.
Perante a exigência de Spínola e com vários advogados oposicionistas presentes no meio da multidão que no exterior exigia a libertação de todos os presos políticos, inicia-se por iniciativa de Abrantes Serra e dos delegados da Junta e do MFA uma inconcludente discussão entre os advogados sobre a legalidade de libertar os presos políticos acusados de crimes de delito comum.
Face a isto o delegado do MFA major Menino Vargas telefona ao tenente-coronel Franco Charais, da Coordenadora do MFA que, contrariando o general Spínola, Presidente da Junta de Salvação Nacional, ordena a libertação de todos os presos políticos, sem distinções, já na madrugada do dia 27 (segundo Pedro Lautet in “Os anos de Abril” – volume 5 - “O cerco a Marcelo Caetano” - Lisboa 2014)
Enquanto isso, na cadeia da PIDE no Porto os agentes da PIDE exigiam aos familiares dos presos políticos elevadas quantias em dinheiro para que fossem libertados. A libertação de todos os presos políticos verificou-se a 27 de Abril.
Os presos políticos do Forte de Peniche são libertados nesse mesmo dia 27 enquanto que os presos políticos (dos movimentos de libertação das colónias) no Campo de Concentração do Tarrafal apenas foram libertados a 30 de Abril.
Havia outras prisões políticas, nas colónias, para além do Tarrafal.
Filmes sobre a libertação dos presos políticos podem ser vistos em
As listas dos presos políticos libertados de Caxias e de Peniche encontram-se aqui
Em tempo - os militares do MFA presos no Forte da Trafaria na sequência do golpe militar de 16 de Março foram libertados ao princípio da tarde do próprio dia 25 de Abril de 1974
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DA MINHA CORRESPONDÊNCIA em 27 de Abril de 1974:
«O telejornal transmite a libertação dos presos políticos do Forte de Caxias. Fico indignado com as delongas: mas que história é essa da distinção entre presos de delito comum e presos políticos? Vão para o raio que vos parta, mais o vosso “percebes?”. Não percebo, nada!
Começa a saída dos presos: reconheço alguns – o Sérgio Ribeiro, o Luís Moita. Ouço nomes conhecidos: Nuno Teotónio Pereira. E ouço as declarações de alguns dos libertos, nomeadamente [Palma Inácio] da LUAR (Liga Unida da Acção Revolucionária): aí, valentes, assim é que são! Nada de entusiasmos despropositados, nada de pactuações demagógicas. Não haja ilusões: o poder não irá para o povo; a burguesia reorganiza-se. Vamos ver durante quanto tempo durará este novo ar que se respira, duma liberdade que nunca tinha havido nos meus 28 anos de existência. É bom sentir também essa liberdade nos outros.» (MCG – 1974.04.27/28)
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