Este é o meu contraponto à excelência de Durão, embora talvez demasiado longo. Não fica o Manuel Abrantes obrigado a publicá-lo.
Em Angola onde nasci e vivi, qual era a excelência do ensino ante-25 de Abril ? Do ensino primário e do Liceu falo aqui:
(...) Em Luanda nasci / Em Luanda vivi / Em Luanda estudei // Não Angola mas Portugal / Todos os rios e afluentes / Todas as linhas férreas e apeadeiros / Todas as cidades e vilas / Todos os reis e algumas batalhas / as plantas e animais / que não eram do meu país. // De Angola /pouco sabíamos /até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março // Veio a guerra e ....................a mentira / que alimenta / ..................a Guerra, / Veio a guerra e a violência / veio a guerra e a liberdade. (...)»
No Liceu as aulas eram teóricas – ao contrário do que sucedia nas escolas industriais - e apenas uma vez em Ciências Naturais foi dissecado um coelho, enquanto que no laboratório de ciências físico-químicas (o Planeta Proibido, como lhe chamávamos) entrámos duas ou 3 vezes para ver o funcionamento duma máquina a vapor ou o professor a fazer umas experiências.
Quanto à Universidade, o que vim encontrar em Portugal, em Económicas, em 1966, foram aulas teóricas com 250 alunos em Matemáticas Gerais ou em Direito Civil e uma cadeira bianual de Propedêutica Comercial, para nos darem, entre outros, os conhecimentos de Estatística e de Contabilidade Geral que o Liceu nos não fornecera. Em Matemáticas Gerais, com o Fernando de Jesus, na 1ª aula teórica, as boas vindas aos novos alunos - que se consideravam uns "heróis" por serem a minoria que no Liceu vencera a barreira da Matemática - "aquilo que vocês aprenderam no Liceu nada tem a ver com a Matemática, esqueçam-no, agora é que vão aprender".
E nunca efectivamente havíamos ouvido falar em Álgebra Booleana e na Teoria dos Conjuntos. O quadro era constituído por 3 ou 4 placas de ardósia e ele começa a desbobinar escrevendo de costas voltadas para os estudantes, sempre sem parar, sempre a escrever, com muitos "como é evidente" e nós sem vermos as evidências. Desesperados, começámos a copiar do quadro para os cadernos (as Folhas eram editadas com atraso pela Associação dos Estudantes) e ele escrevendo, escrevendo, escrevendo, com muitas "evidências" pelo meio. Ainda íamos a meio de copiar mecanicamente o 1º quadro e já ele terminara o 3º ou 4º e apagava o 1º. Nas aulas práticas as turmas eram menores, cerca de 30 ou 40 alunos. Logo na 1ª as boas vindas do assistente: "Daqui a 15 dias a última fila já desistiu, daqui a um mês desiste a 2ª, lá pelo Natal só deve haver metade do curso". E assim sucessivamente até à estocada final "Ao fim do ano só devem chegar 2 ou 3, se chegarem".
Direito Civil era dado pelo Dias Marques também professor da Faculdade de Direito de Lisboa (A sebenta de Económicas era igual à de Direito, salvo o frontispício - Uma dizia Universidade Clássica de Lisboa, Faculdade de Direito, a outra Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras Aqui as turmas também eram imensas e a tourada era serem os alunos varridos" com notas baixas por "não usarem linguagem jurídica como é vossa obrigação", argumentava o professor aos protestos de quem lhe dizia que éramos estudantes de economia e não de direito.
Economia I tinha aulas teóricas e práticas e nas teóricas calhou-me o Oehen Gonçalves, assistente, cujas prelecções não se conseguiam seguir pois deixava os assuntos e as frases a meio e continuava com outro e assim sucessivamente. O livro base eram as "Lições de Economia", do Pereira de Moura.
No 1º ano as únicas aulas interessantes e que me cativaram – combinando a teoria com a prática - foram as de Geografia Económica Portuguesa, do Simões Lopes.
Era pois esta a “excelência” do ensino no Liceu e nos colégios particulares que frequentei, em Luanda e no Porto.
Depois de 1974 fui professor do ensino técnico e apercebi-me que não poucos alunos meus se limitavam a "reproduzir" o livro de apoio. E um dia e em várias turmas disse a vários alunos que lessem um parágrafo e o explicassem por palavras deles. A maioria não foi capaz, desconheciam o significado de termos que para mim eram do vocabulário corrente, para além das dificuldades de raciocínio abstracto.
Quando se fala da "excelência" do ensino, de que "excelência" estamos a falar ?
http://corporacoes.blogspot.pt/2014/04/barroso-da-o-mote-para-aplicacao-da.html
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