sexta-feira, 18 de abril de 2014

NOS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL 06 - "posso usar da palavra?" ou a memória por vezes é muito curta e benevolente, apesar do fascismo !

*  Victor Nogueira

1969.04.17 - "Posso usar da palavra?", perguntou o Presidente da Associação Académica de Coimbra. (...) "Pois, agora fala o senhor Ministro das Obras Públicas, respondeu o Presidente da República, 
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1. - «Entretanto a Universidade de Coimbra está em greve desde há largas semanas, greve de que os jornais não falam, a não ser publicando os diversos e por vezes incoerentes e inverosímeis comunicados das autoridades académicas. A música continua a ser monoral. (...) (NSF 1969.06.10)

2.- Do que me lembro na altura é de no início da sessão, o estudante Alberto Martins, Presidente da Direcção da Associação Académica de Coimbra, ter pedido a palavra, em nome dos estudantes. durante uma cerimónia oficial presidida pelo Presidente da República de então, conhecido pelo Cabeça de Abóbora e pelos seus discursos dignos duma antologia do humor non sense, de que a revista Seara Nova fazia transcrições regularmente. Após um certo embaraço da mesa, foi-lhe dito que falaria após o Presidente da República. Mas este, mal terminado o discurso e não dando a palavra ao representante eleito pelos estudantes, escapuliu-se seguido duma enorme vaia dos estudantes. Imediatamente a PIDE entrou em acção, a Direcção da Associação foi demitida, nomeada uma Comissão Administrativa da confiança do Governo e, perante a greve desencadeada pelos estudantes, houve inúmeras cargas da cavalaria da GNR e prisões de estudantes pela PIDE/DGS, seguidas de incorporações compulsivas nas Forças Armadas com destino ao sangrento teatro da Guerra Colonial.
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O Ministro da Educação de Salazar,e de Caetano (1968-1970) , José Hermano Saraiva, que fora deputado à Assembleia Nacional fascista, o agora bonacheirão, populista e apreciado «historiador» e apresentador com cadeira cativa na Televisão do regime «democrático», apesar de admirador confesso de Salazar e do seu regime, fez na TV de então um discurso intimidatório mas que se revelou inútil

Mais em 
crise-academica Dossier sobre o 40º Aniversário da Crise Académica - 1962-2002 (Auto executável-zip).


3. - Um outro Ministro da Educação Marcelo, Veiga Simão, sucessor de Hermano Saraiva no Governo de Caetano, foi introdutor dos "gorilas" nas Universidades em 1973, destinados a reforçar o controlo policial sobre as actividades académicas. Devido à luta dos estudantes, foi forçado a ordenar a sua retirada alguns meses depois, nesse mesmo ano. Veiga Simão foi "recuperado" depois de Abril por Spínola e posteriormente inscreveu-se no Partido Socialista, chegando a Ministro da Dfesa do Governo PS/Guterres.
40 anos depois de Abril, Veiga Simão decidiu perorar sobre a fragilidade e a "decadência dos partidos", afirmando numa entrevista ao DN que "Os políticos não corresponderam ao sonho de Abril", defendendo que "a classe política encontra-se desprestigiada" e aproveitando para reclamar "políticos a sério". Seguramente deve estar a pensar em Marcelo, Spínola e Guterres/PS.

4. - Outro Ministro do Governo fascista de Salazar do partido único, o da união nacional / acção nacional popular, também foi bem acolhido e mesmo homenageado já em democracia, pelas suas "excelências" académicas em 2011.12.07 - dia internacional dos Direitos Humanos, apesar de ter tido a pasta das Colónias rebaptizadas Províncias Ultramarinas, de ter sido um dos Delfns de Salazar e de em 1961,06.17 (Portaria 18539) ter reaberto em Cabo Verde o Campo de Concentração de Tarrafal, já não para presos políticos de Portugal mas para presos políticos dos Movimentos de Libertação e das Colónias.
Adriano Moreira depois de Abril foi dirigente do CDS, partido fundado por Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa e Basílio Horta, o único partido que na Assembleia Constituinte em 1976 votou contra a Constituição da República (ainda) em vigor, de ter sido um aliado de Spínola em todas as tentativas contra revolucionárias. Adriano Moreira foi Presidente do CDS em 1986/1988 e 1991/1992. O CDS é um partido com o qual o Governo PS/Mário Soares esteve coligado.
Freitas do Amaral como "independente" foi Ministro do governo PS/Sócrates em 2005/2006.
Basílio Horta, que também foi alto dirigente do CDS, Nas eleições legislativas de 2011, foi cabeça de lista do Partido Socialista no Círculo Eleitoral de Leiria como candidato independente. Cabeça da lista "independente", foi também eleito em 2013 nas listas do PS à Câmara Municipal de Sintra, com nomes sonantes na sua "Comissão de Honra": Jorge Sampaio, Mário Soares e Freitas do Amaral.

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