Fala Ferreira
Assim me saúdam os amigos de Guatemala.
Exigimos a nacionalização da banca!
Os meus últimos textos aqui têm esbarrado num ponto. Eles parte de uma premissa estratégica distinta da esquerda portuguesa, plasmada nas suas palavras de ordem. Os partidos de esquerda enfermam de patriotismo e, consequentemente, colocam o problema errado. O debate negociação vs repúdio da dívida coloca a nação à frente da classe. Consequentemente, a estratégia toma um ponto de vista burguês – pois só a classe dominante ou em vias de dominar fala em nome da nação. Ou, pelo menos, a estratégia não está colocada do ponto de vista da classe operária. A provar isto está o facto de que a tática (a greve geral que se aproxima) não se desdobra da estratégia.
Por isso vou propor outra estratégia, orientada pela palavra de ordem: Exigimos a nacionalização da banca!
1. Tenho vindo a afirmar que a classe burguesa se divide entre o setor financeiro e os outros, com algumas nuances. A crise em torno da TSU provou, mais uma vez, essa tensão. Historicamente, foi a banca, junto com a construção civil, que conduziu os destinos de Portugal. E, depois de uma breve interrupção, na qual perdeu o seu parceiro, está de novo no governo. Portanto, a única forma de mudar qualquer coisa é suprimir economicamente, nacionalizando, este setor.
Além do mais, a classe trabalhadora está igualmente dividida em duas frações. Os trabalhadores do setor público e os trabalhadores do setor privado. Simplificando muito, os primeiros lutam contra o capital e os segundo contra o Estado corrupto. Consequentemente, a luta dos segundos é, em parte, contra os primeiros. Demonstrar que a corrupção se concentrou especialmente nas negociatas entre Estado, banca e construção civil é o caminho para unir as duas lutas. Mais uma vez, a palavra de ordem ‘Exigimos a nacionalização da banca’ estabelece uma estratégia mais pertinente que as palavras de ordem atuais.
2. Assim pensa um marxista. Mas não é assim que pensa o cidadão comum. O cidadão comum vê as coisas em termos de legitimidade sob a perspetiva da nação. De qualquer modo, um curto inventário dos factos da história económica recente demonstrará a justiça desta reivindicação. Perdões fiscais, PPPs e, mais recentemente, juros da dívida pública, e com a troika, o Fundo de Recapitalização mostram que a banca engordou com dinheiro públicos. Os lucros da banca são dinheiro de impostos. Por isso não é uma nacionalização do património privado (da banca), senão reverter 25 anos de privatização do património público.
Além do mais, essa parece ser a solução para a crise. Ou, pelo menos, foi assim que a Islândia a solucionou. Depois de deixar falir a banca falida, nacionalizou o resto e agora quer inscrever na Constituição que a banca deve ser pública e não privada.
3. Tendo em conta a presença bastante grande da base do PS e do BE nos movimentos de massas em geral e na CGTP em particular, não estou a propor que o PCP (e o PCTP) se isolem? Não. Até porque é errado tática, teórica e politicamente que o PCP tenha a mesma estratégia que a CGTP. Primeiro, essa coincidência mostra uma de duas coisas: ou o PCP recua ao ponto de acompanhar aqueles com quem luta no movimento unitário; ou aqueles que não militam no PCP não têm voz na CGTP. Segundo, a passagem das lutas setoriais (sindicais) às lutas globais (partidárias) representa um passo no amadurecimento das condições subjetivas. Se as estratégias coincidem, esse passo, tão caro a Lénin, desaparece. Terceiro, que decorre do anterior, a diferença entre as estratégias dos sindicatos e do partido deve definir o caminho da revolução do mesmo modo que dois pontos definem uma reta. Quando os pontos coincidem a reta e o caminho da revolução permanecem indefinidos.
O mesmo se aplica a coordenação entre o partido revolucionário e as frentes de massa onde atua.
2 Comentários »
- Parece-me que nesta fase exigir a nacionalização da banca é extemporânea. Teríamos novos BPN ? E os banqueiros não estão afins ! Já se pronunciaram em tempos pelo Não !Primeiro é preciso que o Governo a formar não seja o dos grandes grupos económicos e financeiros e que tenha força para se lhes opôr ! Doutro modo é pôr a carroça a andar à frente dos bois !Comentário por kantoximpi | 21 de Outubro de 2012 |
- Para além de Jardim Gonçalves, houve outro banqueiro importante que tb se opôs mas cujo nome me não ocorre. E sendo certo que a nacionalização da banca se impõe, a verdade é que os banqueiros não vão nessa, salvo se forem eles a mexer os cordelinhos.Parece-me que o actual governo tentou tornear isso através dum banco estadual de investimento a criar, enquanto o mesmo tempo procura privatizar a CGD, de cujo grupo já retirou os seguros, como 1º passo.Portanto, salvo se essa for a directiva da UE, com este ps-psd-cds não há nacionalizações salvo estilo bpn – socialização dos prejuízos, privatização dos lucros. As gorduras ricas do bpn não foram nacionalizadas. Aliás, a actual crise capitalista é um bom exemplo.O bcp millenium é uma fraude, que só não teve o destino do bpn pk o joe berardo esperneou qd viu que lhe estavam a ir ao bolso com os empréstimos ao filho de Jardim que pretendiam “perdoar”. O BCP, apresentado como o exemplo da boa gestão privadaCom efeito, em 2009 noticiava o Público que:« apenas seis clientes do BCP devem 3,5 mil milhões de euros (cerca de 80% da capitalização bolsista do grupo) ao grupo, que ontem tinha um valor de mercado de 4,3 milhões de euros.Os seis são a Mota-Engil, Teixeira Duarte, Soares da Costa, Cimpor, Joe Berardo e Joaquim Oliveira.Só a Mota-Engil contraiu crédito ao BCP no valor de 1,2 mil milhões de euros ao banco, ou seja, 28% da capitalização bolsista do banco»http://www1.ionline.pt/conteudo/34896-seis-clientes-devem-ao-bcp-80-do-valor-do-banco-em-bolsaAliás, em 2006 Joe Berardo fizera empréstimos junto da CGD, do BES e do BCP para adquirir acções deste , no valor de mil milhões de euroshttp://www.tvi24.iol.pt/aa—videos—economia/joe-berardo-accoes-bcp-troika-emprestimos-agencia-financeira/1278238-5797.htmlNa notícia fala-se na célebre colecção de arte berardo, que ninguém sabe ao certo se vale o que berardo diz que vale, “guardada” no CCB num escuro negócio do governo ps-sócrates com o beneplácito da então Ministra da Cultura e que levou à demissão duma sub-secretária de estado do mesmo governo, que é referido nesta súmulahttp://papalvos.blogspot.pt/2012_02_01_archive.htmlComentário por Victor Nogueira | 21 de Outubro de 2012 |http://falaferreira.wordpress.com/2012/10/08/exigimos-a-nacionalizacao-da-banca/#comment-954
Sem comentários:
Enviar um comentário