Fala Ferreira
Assim me saúdam os amigos de Guatemala.
A greve geral devia ter sido marcada hoje
Gostaria de ter ouvido, hoje, da boca de Arménio Carlos não apenas que a CGTP anunciará, em breve, uma greve geral, senão a data de realização dessa greve. Até porque essa ação de luta deviria coincidir com a entrega do Orçamento de Estado na Assembleia da República, portanto, na semana de 15 a 20 de outubro – ou seja, daqui a três semanas! Por um lado, a entrega do OE será, seguramente, o momento de maior tensão intra-elitária. (A este respeito pode ver-se a troca de galhardetes de hoje entre António Borges e António Saraiva). Por outro lado, o Terreiro do Paço “cheio que nem um ovo” avalizaria a marcação dessa greve geral.
1. Para entender de forma acutilante o que está em jogo, é preciso corrigir a estratégia da central sindical. É necessário abandonar o corte nacionalista por detrás de “Renegociar a dívida! Rejeitar a troika!” e colocar a questão em termos de classe. (Se, pela necessidade de criar consensos alargados, a CGTP é obrigada a manter o corte nacionalista, isto podia ser facilmente resolvido se o PCP adotasse o corte de classe. Aliás, não se compreende porque as duas organizações têm a mesma estratégia sendo uma, segundo os próprios comunistas, unitária e a outra não).
É um facto que a classe trabalhadora e os partidos de esquerda não podem, no próximo ano, almejar chegar a governo. Portanto, a sua estratégia deve passar por destruir os instrumentos de dominação ideológica burguesa. Se a burguesia muda governos e queima cartuchos (queimou Sócrates, está a queimar Passos e vai queimar Seguro) para manter o seu programa, a tarefa dos partidos dos trabalhadores é, por agora, encurtar a vida desses cartuchos. Portanto, a tarefa imediata é derrubar o governo de Passos Coelho mesmo que, inevitavelmente, Seguro ocupará o seu lugar com o mesmo programa. E, na medida em que o PS tiver se envolvido na oposição ao atual governo, o seu reinado ainda será mais curso. As palavras de José Seguro hoje servirão contra ele amanhã.
2. Postas as coisas assim, é muito importante envolver as bases do PS nesta luta. E o PS está literalmente à espera para ver (já comentei isso aqui). A UGT recuou na proposta de greve geral – questão que a própria UGT levantou no passado dia 12 e mantinha há 4 dias atrás. Então, o adiamento daconvocação da greve geral para 3 de outubro dá, à CGTP, quatro dias para negociar com a UGT esta ação de luta. Obviamente, nenhuma agulha se acerta em tão pouco tempo. Ainda que fosse importante o contrário, pois o antagonismo entre as duas centrais sindicais deve aprofundar a tensão latente entre os trabalhadores, é muito provável que a CGTP tenha de fazer a greve geral sozinha. Por outras palavras, parece inútil esperar pelos socialistas.
3. A CGTP pode, pelo contrário, ter adiado a convocação por outras razões. Seja para seguir a burocracia da organização. A decisão de convocar uma greve geral tem de ser decidida em Conselho Nacional. Seja para impor, democraticamente, a realização de uma greve geral à grande franja de simpatizantes do PS que existe na CGTP. Num e noutro caso, a reunião extraordinária do CN foi marcada já para a próxima semana. De qualquer modo, não haveria diferenças formais entre o que Arménio Carlos disse hoje e ter dito, por exemplo, “A direção da CGTP proporá ao seu Conselho Nacional a realização de uma greve geral no próximo dia 17 de Outubro”. Se o tivesse dito, a greve poderia começar a ser preparada segunda-feira com todo o afinco. Mas não disse.
4. Pode, em alternativa, pretender convocar uma greve, como sempre, em torno do dia 20 de novembro. Então, nesse caso, há tempo. Mas também, nesse caso, a CGTP cumprirá, burocraticamente, a sua greve geral anual, completamente desencaixada de uma leitura fina do evoluir das condições subjetivas da luta dos trabalhadores. Se for assim estamos diante de um erro crasso.
4 Comentários »
- Falando em erros crassos, a tua afirmação – “… a CGTP cumprirá, burocraticamente, a sua greve geral anual, completamente desencaixada de uma leitura fina do evoluir das condições subjetivas da luta dos trabalhadores” -, é um bom exemplo.Informo que este ano já houve uma Greve geral promovida pela CGTP, 22 de Março de 2012 não te diz nada?Devias ter mais rigor.Comentário por Carlos Carvalho | 3 de Outubro de 2012 |
- Vou lendo os teus posts e não comentando na altura,, depois fico apenas com a memória e sem tempo para relê-los.Parece-me que por vezes esqueces que há um tempo e que o teu tempo é por vezes apressado e nem sempre atende à realidadeConvocar uma manif estrondosa pelas redes sociais poderá ser fácil. Dar continuidade e aglutinar essa força para ir vencendo etapas exige muito mais.Pelos vistos, entre a data em que escreveste este post e a greve geral de 14 de Novembro há um tempo que tem sido preenchido por outras manifestações como rios que se juntam para fortalecer a corrente.E entretanto vai surgindo a consciência – ainda difusa – que é preciso um outro governo que não seja mais do mesmo. Um outro governo com outro programa e que tenha uma base social de apoio consistente.Que me parece não poderá no futuro incluir os órgãos dirigentes do ps-sócrates-seguro.Mas para isso é preciso que a base social do ps descole deste ps sócrates-seguroComentário por kantoximpi | 21 de Outubro de 2012 |
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