Carlos Rodrigues
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Victor Nogueira
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Évora - Foto Victor Nogueira
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Bela Reportagem do quotidiano, desse tempo e especificamente dos frequentadores do Café Arcada, onde em 73 se lia A Sociedade de Consumo, O Século a Bola, O Diário de Notícias ( mau gosto ), um misto de realismo ficcionado, alguma caricatur...a social, orlada de sentimentos pessoais. Não conheci Évora assim tão bem, conheço a Praça de Don Geraldo e pouco mais,o meu cunhado é que é de lá, muitas vezes cantámos juntos o " Eu não seio que tenho em Évora ", um sucesso, mas ainda hoje não sei quem é que lá tinhamos, a não ser saudades. Imagino que depois de Abril de 74 se tivesse começado a ler, como no Martinho da Arcadia, em Lisboa e muitos Cafés Centrais e Colaterais do País, o " Poder Global - a força incontrolável das multinacionais ", que circulasse mais o Diário de Lisboa,excertos do Capital de Marx e o Manifesto começasse a passar de mão em mão, livremente, ( já antes passava o Avante dobradinho em quatro partes, nalgumas Repartições e Cafés ) os Jovens respirassem melhor porque já não tinham de, como nós, interromper o que estavam a fazer para levarem com 3 ou 4 anos de Tropa,de castigo por terem nascido, aqui ou em África, e que os Alentejanos estivessem todos licitamente prontos a Lutar pela Reforma Agrária. Ainda assim os desgostos de Amor, os desmaios no duche da adolescência ou de outras idades igualmente perigosas não teriam terminado, a núdez é igual em qualquer tempo, em qualquer parte, aos olhos das pobres Donas Vitórias, que continuarão a alugar quartos a estudantes e a achar porcas as mais simples atitudes do mundo, o dia do Porco não sei se continuará, mas a Vida sim, essa tem de continuar, mesmo que tudo vá de mal a pior, que é a parte onde entra O Surrealismo, porque o Realismo manda continuar a lutar pelas transformações que não foram ou foram, simplesmente bombardeadas.
Gostei, sinceramente, Vitor. Um abraço.
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#Victor Nogueira
Também lia o Couurier da UNESCO, o Comércio do Funchal (côr de rosa), o Jornal do Fundão (Azul), a Vida Mundial, o República e o Diário de Lisboa, a Capital, o Expresso, a Seara Nova, O Tempo e o Modo, o Le Monde hebdomadaire e o Le Monde Diplomatique, Os livros marxistas eram livremente lidos na biblioteca no Instituto dos Jesuítas, pois o marxismo era dado em História da Sociologia, História das Teorias Políticas, Doutrinas Sociais e em Sociologia II. Duas cadeiras eram dadas numa perspectiva marxista: Economia II e Sociologia Urbana, esta por um jesuíta basco. Como escreveu Alçada Baptista na sua "Peregrinação Interior, eu não sei se os jesuítas são ou não bons educadores, mas que são educadores, são e davam sempre duas perspectivas opostas
há 2 minutos ·
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Victor Nogueira perspectivas opostas. Deixavam a cada um a liberdade de escolha, o que levou um deles a dizer-me cordialmente um dia destes "O Victor hoje podia ser uma pessoa importante, mas escolheu outro caminho" :-)
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Carlos Rodrigues
Claro, Vitor, devorava-se tudo o que nos vinha parar às mãos, oficialmente ou por portas e travessas e também se aprendia a ler nas entre-linhas, até nos Jornais Desportivos. Agora a Teoria da Unidade dos contrários ( apresentar duas correntes contrárias como o Yin e o Yang, o Positivo e o Negativo, o Bem e o Mal, dizendo que se completam, teoria circular) nada tem a ver com Marxismo. Um Jesuíta, mesmo Basco, dificilmente passaria daí para a Dialética Materialista ou para o Materialismo Histórico do F. Engels, que se baseava na oposição desses polos opostos e na rotura, para que se alcançasse um novo estágio social : Tese / Antítese = Síntese, por oposição, até violenta, como os próprios avanços quantitativos e qualitativos das classes. Bom, mas isso é outra História. Vamos conversando. Até já.
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Victor Nogueira
Economia || era leccionada pelo Armando Nogueira, que denominava "delta" a mais valia e ficou muito embaraçado quando numa aula lhe disse, após as minhas leituras na biblioteca, que afinal o delta era a mais valia. O jesuíta basco dava mesmo a sociologia urbana numa perspectiva marxista. Os outros davam o marxismo apenas para fornecer armas que permitissem aos futuros quadros superiores das empresas capitalistas ou da Administração Pública serem mais eficazes na luta em defesa do Grande Patronato, cujos filhos também por lá andavam; Champalimauds, Espíritos Santos ou filhos de agrários ou latifundiários! Aliás o Instituto era financiado por um grande latifundiário, através da Fundação Eugénio de Almeida, e a direcção férrea da Escola era da Companhia de Jesus!
.Victor Nogueira Eu não disse que eles advogavam a teoria dos contrários ou a dialéctica marxista. A síntese era a Doutrina Social da Igreja: o capitalismo tinha algumas coisas más, o socialismo algumas coisas boas, mas a Verdade, segundo eles, estava na Doutrina Social da Igreja.
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Carlos Rodrigues
É evidente que a única doutrina tinha de ser a dos Dogmas, o resto seriam sábias estratégias de captação de aderentes e Mercados. O Marquês de Pombal é que não foi tão ingénuo, mas na verdade, há que admitir que no Brasil os Jesuítas até ...fizeram alguma coisa em pról da libertação dos escravos e, essa seria realmente uma medida perfeitamente cristã.
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Aparte religiões, como filósofo, até admiro muito Agostinho da Silva. Não me recordo se teve ou não educação Jesuíta, mas um homem que viveu da forma modesta que ele sempre privilegiou, com uma cabecinha daquelas, merece todo o meu respeito e admiração.
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Victor Nogueira; O senso comum diz que os jesuítas eram os senhores da Inquisição, mas a verdade é que os senhores eram os dominicanos, também criados na onda da Contra Reforma e do Concílio de Trento. Paradoxalmente o Instituto funcionava em Évora no antigo Palácio da Inquisição, em cujas celas dos presos de então se guardavam os livros da biblioteca abrangente. Dois jesuítas perseguidos pela Inquisição foram António Vieira e Malagrida. Os jesuítas sempre foram os mestres das elites governantes e a sanha do Marquês de Pombal contra eles, que detinham uma vasta rede de escolas ou colégios para além da Universidade de Évora, justificava-se pelo facto do Marquês ter querido quebrar os dentes à nobreza parasitária, que retomou as rédeas do poder e não deu seguimento à incipiente industrialização após a morte de D. José. O 25 de Abril impediu a concretização do sonho dos Jesuítas de restaurarem a "sua" Universidade de Évora. Sonho que abandonaram em Dezembro de 1974. Não previram o 25 de Novembro de 1975 nem tinham condições para serem os senhores incontestáveis do Instituto e da sua orientação ideológica.
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