TUDO NA VIDA SE TRANSFORMA E NADA É IGUAL AO QUE JÁ PASSOU, EMBORA SEMELHANTE POSSA PARECER!
Bem, pessoal, embarcando na quadra natalícia que cada vez menos festiva é, vai sendo tempo de deixar os habituais votos de boas festas e bom ano, embora cada vez mais sombrios sejam para a maioria e para a humanidade os dias que se avizinham.
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Tudo muda e o Pai Natal não passa afinal duma invenção da Coca Cola e o Menino Jesus para uma certa parte da humanidade que nisso cria já deixou de oferecer prendas ou mesmo responder aos díspares ou contraditórios pedidos que ainda lhe fazem, mentalmente, em reza ou por escrito.
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Vejam lá como são as coisas. Lá em Luanda - Angola - como aqui no Puto (Portugal) fazia-se a consoada com bacalhau e rabanadas e arroz doce e aletria e bolo rei e nozes e pinhões e passas e camarão e no Ano Novo champagne e fogo de artifício iluminando o negrume da noite, deslumbrantemente reflectido nas calmas águas da baía. E havia também árvore de Natal com bolas coloridas e lâmpadas pisca-pisca e fios brilhantes multicolores. A coroar a árvore uma estrela brilhante. E na véspera, lá se punham os sapatos à espera do dia seguinte, bem de manhã cedinho, para, alvoraçados, vermos as prendas que o Menino Jesus lá colocara e que pedidos haviam sido satisfeitos. E juntarmo-nos depois todos, nos quintais ou na rua ou de casa em casa, para vermos as prendas uns dos outros. Lá em casa, livros [em francês, português ou inglês], muitos, mas também soldados de chumbo ou de plástico, miniaturas de carros, chocolates, aviões, engenhos mecânicos, construções de armar, em cartolina, madeira ou de metal (meccano), um microscópio, uma bicicleta, uns patins, a máquina fotográfica «caixote» da Kodak ... E com as construções de armar e outras miniaturas se ia aumentado todos os anos a «cidade» do comboio eléctrico, que da primeira vez o meu pai armou em surpresa por entre a louça da mesa de jantar, no quintal onde comíamos habitualmente. Davam-se e recebiam-se muitas prendas.
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Mas nem tudo era igual. Em Luanda, salvo no presépio, não havia nem burros, nem ovelhas, nem pastores ... Nem neve, primeiro substituída por flocos de algodão hidrófilo e depois por uma bisnaga de spray mais «realista». E também não havia frio - era tempo de calor e também das grandes chuvadas e assustadoras e ensurdecedoras e relampejantes e rápidas trovoadas trovejantes - o pino da estação quente - e muitas vezes o dia de Natal era passado na praia, tal como os antecedentes e subsequentes, e à noite jantava-se fora, num restaurante na Ilha [do Cabo] ou em casa de uma das muitas famílias amigas com quem se convivia durante o ano.
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Depois, com a entrada no Liceu, a realidade dita pela minha mãe - quem dava as prendas não era o Menino Jesus mas sim os Pais, os familiares, os amigos e conhecidos. E do Natal subsistiu apenas e durante muitos anos a troca de presentes e o (re)encontro da família. Mas tudo passa e o tempo vai afastando as pessoas e levando aqueles que povoaram a nossa infância, meninice ou adolescência a sumirem-
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E o que fica hoje é a voragem das prendas apressadamente compradas como obrigação ou simples ritual, os postais, os telefonemas, os sms ou as mensagens electrónicas, cada vez mais apressados ou despersonalizados. E o sem sentido dos rituais e o vazio e a pressa deste tempo passar rapidamente na voragem do nada, papel de embrulho rasgado e lançado para o cesto dos papéis.
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E pronto, aqui fica o meu texto personalizado. Depois das duas séries antecedentes dedicadas ao «cartoon e a quadra natalícia», fica uma «antologia da poesia portuguesa de Natal» fruto das minhas memórias e das pesquisas que fiz na WEB, antecedida dum texto retirado dum blog que de algum modo subscrevo. São perspectivas ou abordagens diferentes da quadra e do seu significado e contradições. Por curiosidade, segue também uma pequena recolha de provérbios populares em que surgem referências ao Natal.
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2006.12.19
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