quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

João Baptista Cansado da Guerra (11)

* Victor Nogueira
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É bom
ficar pensando
em você
mas às vezes

cansa ...


... pois gosto de ti e da tua presença e companhia, mas tu andas longe e por outros caminhos em busca do sol e do mar, deixando-me na berma da estrada com as mãos vazias e um conto amarfanhado e por terminar a meio caminho de coisa nenhuma "E houve um gesto, [ um nome, ] uma palavra que se intrometeram [ e confundiram ] e burilaram os sinais, refrearam as palavras [ e as mãos ] e não houve tempo nem ocasião para que João Qualquer Coisa dissesse com simplicidade:


Gostas de mim? Queres ser minha companheira ou namorada? Mas nem João nem Joana tinham a simplicidade da gente simples, pelo que o canto ficou a meio caminho de coisa nenhuma. E não havia nem sol nem mar nem estrelas nem o murmúrio de mil candeias, nem os olhos da cor do trigo em flor eram um campo de giestas com sabor a cravo e canela [ onde as aves encontrassem a liberdade. ] E por isso por todo o lado havia um pesado, envolvente e crescente cansaço, invadindo todos os poros e o menor interstício, as palavras e os gestos esfarelando-se em negro de fumo, um areal no lugar do coração, vulgaridade quanto baste, uma gasta armadura impedindo a pirueta e o sorriso de quem lança os males por cima do ombro e prossegue a caminhada de mãos nos bolsos e assobio nos lábios, a passada larga e despreocupada, em busca de outros portos e marés onde o viajeiro pudesse finalmente descansar da guerra e sentir o ar belo e calmo e o mar verde e sereno que busca(ra)em Joana Princesa dos muitos, doces e ásperos nomes, mulher-menina, mulher-achada de mil promessas em flor fugidas."


E voltando de novo sobre si mesmo, o viajeiro perguntou: Queres ser minha amiga e ensinar-me a ser teu amigo?!


1989.12.19
Paço de Arcos

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