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Depois de chegar a este casarão onde vivo, pus a Cesária Évora no leitor de CD's e dei comigo a bailar ao som da música de Cabo Verde, maneira de descontrair e quebrar a tensão e os rios de lágrimas. De resto a música serve muitas vezes para me descontrair. Agora, estou na ressaca, como quem apanhou uma sova. A propósito, comprei um CD com música do Mendelssohn para oferecer á Maria do Mar. Trata-se de Sonho de Uma Noite de Verão e de Sinfonia A Italiana.
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Bem daqui a pouco vou interromper para ver um filme policial na televisão. Entretanto apareceu o Caló, o miúdo de quem falei em tempos, para visitar o grande amigo dele, que sou eu. Abancou ali numa cadeira a ver fotografias, comentando-as em voz alta, com perguntas e grandes exclamações. Agora fez uma interrogação enorme por causa dum bicho que nunca tinha visto: um perú. Entretanto viu umas fotografias de esculturas feitas pelo meu irmão e diz que não acredita que ele as tenha feito, respondendo que não, que não me estava a chamar mentiroso, mas lá que não acreditava, não acreditava, acrescentando «Mas o meu pai sabe desenhar». Vai daí, disse-lhe: «Eu não sei desenhar nem cuidar de ovelhas como o teu pai mas escrevo melhor que ele.» Não acreditou. Que escrevesse Fernando ali num papel. Disse-lhe, apontando para o meu volumoso livro de poemas: «Então não vês que escrevi aquele livro?». Respondeu-me: «Ah! mas isso não é escrever, isso foi feito no computador». Claro que para o Caló não saberei escrever, tanto mais quanto ele não será capaz de ler os meus hieroglifos. Depois perguntou-me onde é que eu trabalhava e respondi-lhe que na Câmara. Exclamou ele: «Ah! Apanhas o lixo!» No prédio dele mora um cantoneiro de limpeza do Município, o Ramiro. Respondi-lhe que não, que trabalhava num escritório, o que nada lhe terá dito pois não deve conhecer a palavra e muito menos o que faz um sociólogo. Enfim !
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Bem, lá voltei aqui depois de ver o filme Armadilha Mortal, com suspense e surpresas no enredo umas atrás das outras. Os principais intérpretes eram o Michael Caine, que aprecio, e o Cristopher Reeve (o Super-Homem, que acho um canastrão). Entretanto revi o texto anterior e reparo agora que já é uma da matina, pelo que vou sozinhito para Vale de Lençóis. A lavagem da louça do jantar fica para amanhã.
Bem daqui a pouco vou interromper para ver um filme policial na televisão. Entretanto apareceu o Caló, o miúdo de quem falei em tempos, para visitar o grande amigo dele, que sou eu. Abancou ali numa cadeira a ver fotografias, comentando-as em voz alta, com perguntas e grandes exclamações. Agora fez uma interrogação enorme por causa dum bicho que nunca tinha visto: um perú. Entretanto viu umas fotografias de esculturas feitas pelo meu irmão e diz que não acredita que ele as tenha feito, respondendo que não, que não me estava a chamar mentiroso, mas lá que não acreditava, não acreditava, acrescentando «Mas o meu pai sabe desenhar». Vai daí, disse-lhe: «Eu não sei desenhar nem cuidar de ovelhas como o teu pai mas escrevo melhor que ele.» Não acreditou. Que escrevesse Fernando ali num papel. Disse-lhe, apontando para o meu volumoso livro de poemas: «Então não vês que escrevi aquele livro?». Respondeu-me: «Ah! mas isso não é escrever, isso foi feito no computador». Claro que para o Caló não saberei escrever, tanto mais quanto ele não será capaz de ler os meus hieroglifos. Depois perguntou-me onde é que eu trabalhava e respondi-lhe que na Câmara. Exclamou ele: «Ah! Apanhas o lixo!» No prédio dele mora um cantoneiro de limpeza do Município, o Ramiro. Respondi-lhe que não, que trabalhava num escritório, o que nada lhe terá dito pois não deve conhecer a palavra e muito menos o que faz um sociólogo. Enfim !
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Bem, lá voltei aqui depois de ver o filme Armadilha Mortal, com suspense e surpresas no enredo umas atrás das outras. Os principais intérpretes eram o Michael Caine, que aprecio, e o Cristopher Reeve (o Super-Homem, que acho um canastrão). Entretanto revi o texto anterior e reparo agora que já é uma da matina, pelo que vou sozinhito para Vale de Lençóis. A lavagem da louça do jantar fica para amanhã.
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Hoje resolvi fazer uma bruta omolete de camarão com cebola picada, salsa e queijo ralado. Não ficou mal, mas deveria ter posto menos azeite na frigideira. Menos sorte tive ontem, que me distraí e não ouvi o marcador de tempo, pelo que os raviolli pegaram ao fundo do tacho e ficaram um amontoado esquisito e sem graça. Ora, mas só não faz asneira quem não cozinha, não é ?
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Já é um novo dia, dum sábado soalheiro mas coberto com uma leve neblina. Continuo rouco, com a garganta irritada e tosse, desde que anteontem saí do consultório médico.
Hoje resolvi fazer uma bruta omolete de camarão com cebola picada, salsa e queijo ralado. Não ficou mal, mas deveria ter posto menos azeite na frigideira. Menos sorte tive ontem, que me distraí e não ouvi o marcador de tempo, pelo que os raviolli pegaram ao fundo do tacho e ficaram um amontoado esquisito e sem graça. Ora, mas só não faz asneira quem não cozinha, não é ?
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Já é um novo dia, dum sábado soalheiro mas coberto com uma leve neblina. Continuo rouco, com a garganta irritada e tosse, desde que anteontem saí do consultório médico.
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Já é meio da tarde. Enquanto escrevo estou distraído. Como sempre fui comprar os jornais, mas desta feita não fui lê-los para debaixo duma árvore na estrada da Figueirinha ou no cimo das escarpas de S.Nicolau, com o Rio Sado e a Serra da Arrábida ao fundo. Não, desta vez fiquei-me pelo porto de pesca, mas como o tempo se tornara de trovoada quente e desagradável, mudei para debaixo duma árvore do degradado Parque José Afonso, agora transformado em parque de estacionamento automóvel, embora hoje quase vazio.
Já é meio da tarde. Enquanto escrevo estou distraído. Como sempre fui comprar os jornais, mas desta feita não fui lê-los para debaixo duma árvore na estrada da Figueirinha ou no cimo das escarpas de S.Nicolau, com o Rio Sado e a Serra da Arrábida ao fundo. Não, desta vez fiquei-me pelo porto de pesca, mas como o tempo se tornara de trovoada quente e desagradável, mudei para debaixo duma árvore do degradado Parque José Afonso, agora transformado em parque de estacionamento automóvel, embora hoje quase vazio.
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Depois, bem depois resolvi almoçar um prato africano, moamba de galinha com farinha de pau, num restaurante aqui perto de casa. Faço isso normalmente uma vez por semana, para variar e porque me aborrece tomar as refeições sistemáticamente sozinho. Mas desta vez o único comensal era eu, mas ao menos comi um prato que não sei cozinhar e não me preocupei com a arrumação da cozinha.
Depois, bem depois resolvi almoçar um prato africano, moamba de galinha com farinha de pau, num restaurante aqui perto de casa. Faço isso normalmente uma vez por semana, para variar e porque me aborrece tomar as refeições sistemáticamente sozinho. Mas desta vez o único comensal era eu, mas ao menos comi um prato que não sei cozinhar e não me preocupei com a arrumação da cozinha.
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Com isto tudo já são oito e trinta da noite, o Fausto toca Por este Rio Acima, um álbum que aprecio, e vão sendo horas de fazer o jantar, hoje será bacalhau á Brás.
.Com isto tudo já são oito e trinta da noite, o Fausto toca Por este Rio Acima, um álbum que aprecio, e vão sendo horas de fazer o jantar, hoje será bacalhau á Brás.
Setúbal, 1993.09.10/11
2 comentários:
Neste dia, a escrita do Diário é menos triste...
talvez porque a época do "adeus" ainda não tinha chegado...
E flares dos cozinhados, tem graça!
Maria Mamede
OLá
Gosto de ler, este "correr da pena"... e gosto também de Cesária èvoria e do album de Fausto.
Beijos estrelados
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