sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Ao (es)correr da pena e do olhar (23)

* Victor Nogueira
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Continuando o registo meteorológico, hoje o dia amanheceu nublado e chuvoso mas para a tarde já estava soalheiro embora quente e abafado como nos anteriores. Não há duvida que este mês de Agosto tem sido farto em variações climatéricas algo surpreendentes.
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De manhã passei pelo Jumbo de Alferagide, cheio como sempre, apesar de estarmos a meio do mês. Ao menos no de Setúbal anda-se à vontade, excepto no final dos meses. Mas o de Alferagide tem mais variedade de filmes em vídeo ao meu gosto, que não comprei, enquanto os CD estão mais arrumadinhos.
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Como não podia deixar de ser eu e a Susana perdemo-nos na confusão do Jumbo, só a encontrando à minha espera no carro, pois esquecera-se duma nossa velha combinação sobre o ponto de encontro após perdimentos nestes malfadados hipermercados. E lembro-me duma das vezes em que nos perdemos no Jumbo de Setúbal. Farto de andar às voltas, dirigi-me à recepção dizendo que perdera a minha filha e se lhe podiam marcar um ponto de encontro. Ia tudo bem até que a empregada me perguntou a idade da menina. Devidamente informada das suas 16 risonhas primaveras, a empregada foi-me logo dizendo que com tal idade nada feito, pois a desaparecida já era muito crescida para andar perdida, pelo que não podiam satisfazer a minha pretensão. De modo que lá andámos os dois num hiper cheio como ovo, aos encontrões, à procura um do outro, cada um para o seu lado desconhecido, deixando recados a toda a gente conhecida com quem me ia cruzando. Uma aventura sem qualquer graça!
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Ontem falei do Mindelo. Hoje falarei de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, duas cidades de características muito diferentes. Vila do Conde, que fica na foz do rio Ave, é uma povoação antiga, com uma rua com casas do tempo do senhor D. Manuel I, um aqueduto e o Convento de Santa Clara, sobranceiro à ponte que liga as duas margens. Tem uma ampla avenida marginal que a liga á Póvoa de Varzim. É uma cidade de ruas largas, formando uma quadrícula, com jardins espaçosos e casas térreas. A Póvoa, outrora povoação de pescadores, é uma cidade de veraneio, cheia de gente no Verão, com praias ao atravessar da referida avenida marginal. É célebre pelo seu casino, embora a parte antiga seja mais estreita e tortuosa e as casas, em menor escala, parecidas com as do centro burguês do Porto. O trânsito é mais complicado e abundam edifícios de muitos andares junto à praia e na parte nova. Vila do Conde é mais pacata; o movimento aperta apenas às sextas-feiras, dia do mercado ou feira semanal. Na Póvoa há ruas vedadas ao trânsito automóvel, na zona central comercial, onde se acotovelam os veraneantes. Aqui há também mais comércio e distracções, para além dos cinemas, de um museu de artesanato e duma enorme biblioteca municipal. Personagens ilustres? Para além do Cego de Maio, célebre pelos náufragos cujo afogamento impediu, temos o poeta José Régio, que nasceu e morreu em Vila do Conde (a casa onde faleceu transformada em museu) e o Eça de Queirós, escritor cujo humor e causticidade muito aprecio.
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Paço de Arcos, 1993.08.21 (Sábado)

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Saltitantes as tuas descrições, fazem-nos ver várias paisagens ao mesmo tempo, com uma nitidez invejável e clara,"precisa e concisa" como me ensinou a minha professora de Português no tocante aos discursos...e ainda hoje recordo e gosto...


Maria Mamede