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(...) No dia dos meus anos recebi quatro postais, cada um no seu género, que muito apreciei - o da Maria do Mar, o da Noémia, o da minha mãe e um colectivo, do pessoal do Departamento de Pessoal, este acompanhado dum cachecol.
(...) No dia dos meus anos recebi quatro postais, cada um no seu género, que muito apreciei - o da Maria do Mar, o da Noémia, o da minha mãe e um colectivo, do pessoal do Departamento de Pessoal, este acompanhado dum cachecol.
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Gostei muito deste último postal, que tinha um poema, votos de feliz aniversário e beijos, seguidos de doze assinaturas. O poema, intitulado Livres, dizia:
Gostei muito deste último postal, que tinha um poema, votos de feliz aniversário e beijos, seguidos de doze assinaturas. O poema, intitulado Livres, dizia:
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Somos livres perante o Sol do dia.
E livres perante as estrelas da noite:
E somos ainda livres quando não há sol
nem luar nem estrelas.
Somos ainda livres quando fechamos
nossos olhos a tudo quanto existe.
Mas somos escravos do que amamos:
Porque amamos:
E escravos do amor porque
amamos.
Somos livres perante o Sol do dia.
E livres perante as estrelas da noite:
E somos ainda livres quando não há sol
nem luar nem estrelas.
Somos ainda livres quando fechamos
nossos olhos a tudo quanto existe.
Mas somos escravos do que amamos:
Porque amamos:
E escravos do amor porque
amamos.
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Este "meu" pessoal é muito "romântico": o ano passado ofereceram-me um LP com tangos do Carlos Gardel, quatro álbuns de banda desenhada e um coração recortado com votos de parabéns e as assinaturas de todos eles e elas.
Este "meu" pessoal é muito "romântico": o ano passado ofereceram-me um LP com tangos do Carlos Gardel, quatro álbuns de banda desenhada e um coração recortado com votos de parabéns e as assinaturas de todos eles e elas.
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Mas este ano, como já não estou no Departamento de Pessoal e me mandaram as "prendas" pelo correio interno, retribuí do mesmo modo, inventando um "cartão" á hora do almoço.
Mas este ano, como já não estou no Departamento de Pessoal e me mandaram as "prendas" pelo correio interno, retribuí do mesmo modo, inventando um "cartão" á hora do almoço.
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No fim destas "férias" todas ainda consegui que me sobrassem dois dias para gozar no primeiro trimestre deste ano.
No fim destas "férias" todas ainda consegui que me sobrassem dois dias para gozar no primeiro trimestre deste ano.
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Vou ainda ler dois álbuns de BD do Lucky Luke: um deles é A Noiva de Lucky Luke, em cujas histórias não aparecem normalmente mulheres, pois ele é um cowboy solitário, muito longe de casa. Houve três excepções: Calamity Jane (vaqueira, pistoleira e prostituta) e Sarah Bernardt (actriz), ambas com existência real. Mas neste A Noiva de Lucky Luke o autor é de um reacionarismo atroz, apresentando as mulheres como frívolas, sem cabeça, e uma "manada" conduzida pelo herói, atravessando os Estados Unidos à procura de marido, facto que é real. (...)
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Vou ainda ler dois álbuns de BD do Lucky Luke: um deles é A Noiva de Lucky Luke, em cujas histórias não aparecem normalmente mulheres, pois ele é um cowboy solitário, muito longe de casa. Houve três excepções: Calamity Jane (vaqueira, pistoleira e prostituta) e Sarah Bernardt (actriz), ambas com existência real. Mas neste A Noiva de Lucky Luke o autor é de um reacionarismo atroz, apresentando as mulheres como frívolas, sem cabeça, e uma "manada" conduzida pelo herói, atravessando os Estados Unidos à procura de marido, facto que é real. (...)
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Vi na TV dois filmes de que gostei: Nova Geração (American Grafitti), enternecedor, sobre os amores dos adolescentes, e O Lugar do Morto, estilo policial e passado em Lisboa.
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Setúbal, 1987.01.08
Setúbal, 1987.01.08
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NOTA - Nesta altura já o PS, ao ganhar a maioria na Câmara, já me tinha saneado, por razões meramente partidárias, de Dirigente do Departamento de Pessoal, colocando-me na prateleira A sanha contra os comunistas era tal que até sanearam malta do PSD , com quem estavam coligados, por se recusarem a deixar de falar com os comunas. E só não sanearam os meus colaboradores directos que, nem de longe nem de perto, nada tinham a ver com o PCP, porque alguém teve juízo e parou aquela onda fascizante. Há três coisas de que me orgulho - dos meus colaboradores terem feito um abaixo assinado que entregaram ao Presidente da Câmara, senhor Mata Cáceres, manifestando o seu apoio à minha permanência na Direcção do Departamento, dum encarregado anticomunista que disse à filha para falar comigo para ajudá-la a resolver questões laborais, porque eu era uma pessoa séria e que merecia confiança, e dos próprios PS que me diziam «Enquanto o Doutor lá esteve resolveu os problemas dos comunistas mas resolveu também os nossos. Mas estes (PS/PSD) nem os nossos resolvem». Durante muitos anos, quando ia ao Departamento de Pessoal, tratavam-me ou interpelavam-me por «Chefe» e quando retorquia que já não era chefe respondiam-me «Para nós é sempre o nosso Chefe»
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Talvez escrever isto vos pareça falta de humildade, mas eu entendo como uma homenagem à seriedade dos comunistas, que não sendo perfeitos, têm também algumas virtudes e não são gente sinistra e acéfala, com destino ao paredão de fuzilamento. (VN)
2 comentários:
Infelizmente houve tanta coisa injusta, por causa de velhos "ódios"...e continua havendo;é preciso ter um grande coração para não criar ódios novos.
Por inveja, por rancor,por ganância, vai-se cometendo injustiças, seja qual for o partido no poder(e em certas alturas pior).
Pena que não se saiba(ou não se queira) fazer destrinças.
Também fui perseguida,não por filiação, mas por falar de justiça e injustiça...
Coisas do tempo!
Maria Mamede
Olá:-)
e
obrigado pela explicação, a partir daqui irei investigar mais.
Nada melhor que o nosso dia de anos e a nossa liberdade de entre outras coisas como por exemplo sermos justos,dentro do possível, lutarmos pelos nossos ideais e sermos competentes naquilo que fazemos, são coisas que prezo muito.
Beijinhos estrelados
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