sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Teatro

* Victor Nogueira
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Vi em Lisboa uma peça no Teatro Vasco Santana, "Lar", de um dramaturgo cujo nome não me ocorre. Gostei dela , apesar de haver momentos em que se apoderou de mim um estado de tensão explosiva. Cinco pessoas que se encontram num jardim, que falam umas com as outras, que fingem dialogar mas a sua conversação é convencional, inautentica, pois elas estão demasiado isoladas para poderem ouvir realmente os outros, para sintonizarem no mesmo comprimento de onda. (NID - 1971.01.04)
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Ontem fui pela 1ª vez ao teatro de revista, ver "Pides na Grelha", ali num barracão do Martim Moniz. [Teatro Ádoque] Para começar achei carote para espectáculo popular: 100 "palhaços". As piadas eram essencialmente políticas - algumas com piada, outras baseadas em trocadilhos. As miúdas, algumas, eram giras, mas os biquinis nada tinham de ousado. Mesmo nas duas cenas mais ousadas a ousadia centrava se em seios à mostra: a democracia a tomar banho - um quadro piroso - e a estátua da liberdade, que acaba coberta para não sofrer a influência das correntes de ar. O Spínola e o Galvão de Melo, os reaccionários, a Igreja, os capitalistas, o Otelo Saraiva de Carvalho eram os pratos fortes.
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A revista (esta) era essencialmente pedagógica, isto é, pretendia alertar os espectadores para a situação política actual. E embora no pano de cena se lessem siglas do MES, PPD, PS, MRPP, embora entre os assassinados pela PIDE figurasse o Ribeiro dos Santos do MRPP, ficou me a impressão que o PC (1) estaria por detrás da revista na qual, no final, se lembram os crimes de 48 anos de fascismo, desde aqueles assassinatos até à extinção das escolas primárias, passando pela repressão sobre os trabalhadores, os intelectuais e os estudantes.
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O último número era uma canção à qual o público não aderiu em massa, apesar dos actores se terem colocado pela plateia e a letra aparecer no palco. Ou as pessoas eram pitosgas ou não têm o hábito de confraternizar [Quanto a mim ... não tenho voz!] (MCG - 1974.10.11)
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1 - MES - Movimento de Esquerda Socialista, MRPP - Movimento Reorganizativo do Proletariado, PC - Partido Comunista Português, PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado, PS - Partido Socialista, PPD - Partido Popular Democrático

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Sempre tive a impressão de que o Teatro de Revista (o género de Teatro que menos aprecio)ficou mais pobre com a chegada da Liberdade! A meu ver, os autores que tinham sido especialistas na camuflagem no tempo do "lápis azul", aliás com muita inteligência, manha e inspiração, pareceu terem perdido com isso as suas qualidades; provavelmente a falta de desafios os levou a tal,
nãos sei... sei somente que a Revista, quanto a mim, nunca mais foi a mesma!

Maria Mamede