sábado, 15 de setembro de 2007

Dia do Bocage - Feriado Municipal de Setúbal


* Victor Nogueira
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Setúbal
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Hoje é feriado municipal, dia do Bocage. Por pouco passava-me desapercebido. Houve um ano em que me esqueci do raio do feriado, só me apercebendo dele quando cheguei ao edifício da Tetra e bati com o nariz na porta envidraçada!
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Como tinha o carro na oficina (só mo vieram entregar agora à tarde), hoje andei de autocarro, o que é por vezes mais interessante do que passar rapidamente de automóvel pela rua, com a atenção fixa ao espaço à nossa frente. Com efeito olha-se para o lado, vêm-se pessoas conhecidas de vista, apreciam-se as conversas e os cumprimentos, incluindo os do motorista para com as pessoas que reconhece no passeio enquanto o sinal vermelho não abre. Esta carreira da Terroa e outras similares, em terras como Setúbal, funciona como carreira familiar, onde o motorista e as pessoas se (re)conhecem das viagens de todos os dias.
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Na Praça do Bocage há uma alva barraquinha estilo mourisco, inaugurada hoje, contendo as principais peças do Plano Director Municipal, agora em fase de discussão pública. Lá estava a minha querida directora, rodeada de alguns colegas nossos, que ainda de longe me fez um correspondido aceno de mão com um sorriso de derreter o coração do mais incauto, aceno que se transformou numa amena cavaqueira quando cheguei ao pé deles e da barraquinha.
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Setúbal, 1993.09.15
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Terminei a minha digressão turística com uma visita às Igrejas de Santa Maria e de S. Julião. (1) Depois dum lanche frugal, apanhei a camioneta para Cacilhas, depois o ferry-boat para o Cais do Sodré e o comboio para Paço de Arcos. Só me faltou andar de avião. Em Setúbal reconheci o Zeca Afonso. Refreei o impulso de perguntar lhe "Você é que é o Zeca Afonso ?" e deixei o seguir para um café da Praça do Bocage. (MCG - 1972.12.29)

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1 - A igreja de Santa Maria é a Sé, com aspecto imponente; a de S. Julião, destruida pelo terramoto de 1755, tem um aspecto desgracioso, mas conserva dois portais manuelinos. um deles belo e laboriosamente trabalhado e rendilhado.
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Lisboa
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São 12 h 00.m. Estou a escrever sentado numa das mesas dum dos cafés do Rossio, que tem resistido às investidas dos bancos (por quanto tempo, ainda?) mais precisamente o "Nicola", [na foto acima] que foi o poiso dum dos nossos maiores colegas: Bocage. Escrevo e simultaneamente vou comendo um "croissant", sorvendo aos poucos um escaldante "garoto" claro (ou "pingo", como se diz lá para o Norte). Nas mesas homens que já não são jovens - pelo menos cronologicamente como eu - encafuados em pesados sobretudos, alguns de chapéu a cabeça, cavaqueiam (sobre quê?), lêem o jornal ou limitam se a seguir com os olhos, absortos em pensamentos, o fumo dos cigarros. Também estão algumas mulheres (talvez senhoras, mas isso não interessa, somos só homens e mulheres). Aquela ali à minha esquerda escreve, não cartas mas, numa agenda ou bloco, notas. Ali a porta gira, gira, gira. Na fonte que se entrevê pela montra, a água jorra, jorra, jorra. Os automóveis passam, passam, passam. E o murmúrio das vozes, o tilintar das louças, a gaveta da caixa, constituem um pano de fundo. Évora morta, chata, entediante, onde estás tu!? (...) [Depois da monotonia de Évora, todo este bulício é reconfortante]. São 14:50. Fui corrido do café pois um "garoto" e um bolo não dão direito a mesa "per omnia saecula, saecolorum"! Especialmente à hora do almoço. (NSF - 1968.12.23)
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Caldas da Rainha
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Achei interessante mas não entusiasmante a torre sineira manuelina, quadrangular, da Igreja do Pópulo, com um relógio em cada uma das faces e um telhadinho de duas águas por cima de cada um dos lados da torre. Este templo era a antiga capela do Hospital e nas traseiras deste encontra se uma frondosa mata e o antigo Paço Real. De referir a Praça da República (1). Trata-se duma praça sobre o comprido, como a do Giraldo em Évora, constituída por edifícios de dois ou três pisos, com varandas de sacada no primeiro andar, onde todas as manhãs se realiza o mercado de frutas e legumes, de que me lembrava apenas da Pastelaria Bocage.
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A cidade possui um chafariz célebre, o das Cinco Bicas, na rua Diário de Notícias, embora lhe prefira o da Estrada da Foz, sendo ambos do século XVIII. (Notas de Viagem, 1997/1998)

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1 - Largo, Praça ou Rua da República, 5 de Outubro e Miguel Bombarda encontram-se um pouco por todo o Portugal! Tal como o Marquês de Pombal.
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Fotografia - Café Nicola em Lisboa, de Soren Rough (Soren Roug Connect) Lissabon 2005 )
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2 comentários:

De Amor e de Terra disse...

Continuam as deambulações, ainda por Lisboa e além dela...
Nem sempre as recordações são alegres ou somente nostálgicas; por vezes há o tédio das rotinas e lê-se a tristeza e a melancolia, sempre presentes.


Maria Mamede

A OUTRA disse...

Nicola!...
Um dos meus cafés preferidos quando à tarde depois da saída do emprego passava pelo Rossio rumo a casa.
Gostava de olhar e pensar nas pessoas celebres que o frequentaram.
Gostava deste e da Brasilera do Chiado, onde encontrava com frequência as figuras badaladas daqueles anos.
Marques um lugar onde muitas vezes encontrava o Mário Viegas.
Tenho saudades da Lisboa daquele tempo, esta agora já não é a mesma.
Bj
Maria