domingo, 4 de maio de 2008

Portugal: descolonização exemplar ou traição criminosa?

Mapa Francês de África (c. 1898) com as reclamações coloniais. Posses Alemãs a verde; posses Belgas a laranja; Britânicas a amarelo; Francesas a rosa; Portuguesas em púrpura; e a independente Etiópia a castanho. (Partilha_da_África)
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Períodos das independências dos países africanos
(História da colonização)
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* Victor Nogueira
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Ao contrário dessa autêntica fraude histórica que é Otelo Saraiva de Carvalho, não tomei notas para a posteridade e sou um Zé Ninguém face a «homens» da envergadura daquele ou do Senhor General Silva Cardoso [1]

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A história é normalmente «escrita» pelos vencedores e pela classe dominante, pois os dominados são geralmente «analfabetos» e da sua visão ou versão ao longo da história poucos testemunhos restam. E alguns desses são escritos por «trânsfugas» como Bartolomeu de Las Casas, António Vieira duma outra Companhia, ou cuja «escrita» foi revelada pela descoberta da Pedra da Roseta, devido a «traidores» ao «espírito» da Revolução Francesa, como Napoleão, combatido pelas retrógradas forças que defendiam a «Ordem» coligados numa Santa Aliança, derrotadas pelo seu génio militar.

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Paradoxalmente o minorca e então brilhante e genial estratega militar mas desprezado corso espalhou por toda a Europa os ideias da Revolução Francesa, «Liberdade, Igualdade e Fraternidade» e permitiu o desenvolvimento do capitalismo e o domínio da então «progressista» burguesia, que então mas não hoje proclamara que «Só não há Liberdade para os inimigos da Liberdade!».

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O então poderoso Buonaparte coroou-se a si próprio imperador, humilhando o Papa Pio VII, a quem voltou ostensivamente as costas Sumo Pontífice defensor da origem divina do Poder Monárquico parasitário e Absolutista aglutinado numa Santa Aliança, em contraposição ao Poder Popular falsamente defendido pela Burguesia ou 3º Estado, senhora de facto da nova Ordem e então progressista modo de produção capitalista, hoje travestido de «liberal» «economia de Mercado», apropriando-se dum sistema de troca e determinação do valor das mercadorias de existência milenária em todo o mundo, coexistindo com sistemas de Governo baseados na Escravatura ou na servidão da Gleba.

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Buonaparte foi um génio militar com tácticas inovadoras, tal como Júlio César, Alexandre o Grande, Aníbal, Gengis Khan, Filipe da Macedónia, Nuno Álvares Pereira, Vo Nguyen Giap, Nzinga Mbandi Ngola, os árabes que ocuparam a península ibérica e portadores duma civilização superior e mais tolerante que a dos intolerantes e mal-cheirosos cristãos, assim considerados pelos Japoneses.

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Robespierre, o grande «terrorista» vermelho, foi guilhotinado pelos «brancos», cujo terrorismo homens como os herdeiros da «Brigada do Reumático» esquecem. E Marat, o amigo do povo, foi assassinado à traição, tal como o anti-esclavagista Abraham Lincoln. Na altura a guilhotina foi um processo de execução da pena de morte muito mais civilizado que o utilizado pelas «parasitárias» Monarquias Absolutas, pela Santa Inquisição, pelos EUA ou mesmo pelo então «progressista» Marquês de Pombal. Note-se que não sou adepto da pena de morte, de linchamentos ou de julgamentos sumários.

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Vem o senhor General Silva Cardoso, na esteira de outros políticos apolíticos com a defesa de que a independência das colónias deveria resultar dum referendo às populações locais. Espantoso. Salazar/Caetano alguma vez realizaram eleições livres em Portugal ou nas colónias? Salazar/Caetano alguma vez permitiram a discussão do problema das colónias? Salazar/Caetano alguma vez aceitaram negociar com os movimentos de libertação para uma descolonização pacífica? Salazar e Caetano alguma vez admitiram a capacidade eleitoral e a consciência autodeterminada e a cidadania dos portugueses, sobretudo das mulheres, e dos povos das colónias? Aliás, alguém põe hoje em causa a independência de Portugal, dos Estados Unidos, do Brasil, entre muitas outras, feitas por minorias de vassalos ou colónos pela força das armas e sem qualquer consulta popular prévia? Alguém na altura «consultou? os servos da gleba ou os índios, alguns deles portadores de culturas «superiores» às dos colonos «europeus», nas Américas que já existiam antes das descobertas de Vespucci, Colombo, Cabral, Cortz ou Pissarro ou dos
«Pilgrim Fathers ?

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Salazar manobrou habilmente para se tornar o chefe todo poderoso dum regime nascido duma sedição militar encabeçada por sediciosos Generais e tenentes, mantido com a ajuda da censura dos coronéis do lápis azul e Presidentes da República recrutados nas Forças Armadas pelo partido único permitido União Nacional/Acção Nacional Popular e apeado pelos sediciosos capitães de Abril apesar das reverências dos generais da brigada do Reumático, com excepção de Spínola e Costa Gomes!

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Seguindo o pensamento do Senhor General Silva Cardoso, será fundamentada a minha «impressão» que os oficiais do Quadro Permanente que estiveram por detrás do «sedicioso» Movimento das Forças Armadas ou aceitaram fazer parte da heterogénea Junta de Salvação Nacional, quebraram o voto de fidelidade ao regime que livremente juraram defender, perdendo deste modo a honra militar? Se tivessem sido derrotados, apesar do apoio espontâneo das populações, que destino lhes reservariam o Almirante Américo Tomaz e o General Kaúlza de Arriaga? Ou da «vacina» de Kissinger que «inteligentemente» Mário Soares e Carlucci conseguiram convencer ser desnecessária, evitando-a?

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Tivesse vencido a ala spinolista em 11 de Março, que destino teria sido dado aos capitães de Abril? Que destino foi reservado a muitos deles após o 25 de Novembro de 1975, apesar de não terem vencido as ideias do Coronel Jaime Neves? Que democracia existiria em Portugal? Uma igual àquela que agora revela a sua face verdadeira, a «pura», iniciada com Mário Soares, Ramalho Eanes e prosseguida por Sá Carneiro e Cavaco Silva e em vias de «consolisação» por José Sócrates, que agora «preocupa» tanto general democrata envolvido no 25 de Novembro?

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Depois há quem esteja sempre a aprender, talvez devido a uma congénita ingenuidade e falta de massa cinzenta. Mário Soares apoiante do MPLA e de Agostinho Neto? E a minha «fraca» memória regista que à revelia da Internacional Socialista ele não reconheceu o MPLA mas mantinha relações preferenciais com a UNITA e Savimbi! A Internacional Socialista a «soldo» de Moscovo? O Papa Paulo VI ingénuo cegueta ao receber os representantes da Frelimo, do MPLA e do PAIGC, para desespero de Salazar? E como classificar a heterogénea Organização da Unidade Africana que desde sempre reconheceu estes três movimentos «terroristas» como legítimos representantes dos respectivos povos, que retirou o apoio à FNLA e só em 1975 reconheceu a UNITA?
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Wiriamu um massacre inexistente ou um «dano» colateral numa guerra «limpa» e civilizada, onde aos «terroristas» eram reconhecidos os direitos da Convenção de Genebra, tratados com todo o amor, ternura e carinho militares característicos do luso-tropicalismo? Nem um massacre das populações negras perpetrados pelos brancos ou pelas Forças Armadas Portuguesas? E que dizer da «liberdade» das populações negras em serem obrigatoriamente «acantonadas» em povoações aquarteladas? Corrijam-me se a minha perplexidade não tem fundamento! Tivesse funcionado a vacina e nunca teria havido o exemplar processo de «transição» em que Franco «Caudillo de España por la Gracia de Dios » [e de Hitler e Mussolini] outorgou a Juan Carlos, o tal «democrata» do «“porque no te callas”»? Tal como Spínola e Marcelo, à revelia de Américo Tomaz e Kaúlza de Arriaga, terão tentado ensaiar para que o Poder não caísse na rua?

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Portugal não esteve presente quando o MPLA proclamou a independência de Angola e foi um dos últimos a fazê-lo, quando muitos países do «Mundo Livre» já o haviam feito. E se o Português tem a expansão mundial que tem, não é devido à política «civilizacional» de Salazar/Caetano e dos Governos saídos das eleições «livres» após 25 de Novembro de 1975, mas ao facto de o português ter sido adoptado pelos Governos post independência para cimentar a unidade nacional de colónias artificialmente desenhadas a régua e esquadro na Conferência de Berlim, separando e juntando povos diferentes, e porque a ONU decidiu que as independências descolonizadoras deveriam respeitar essas fronteiras artificiais.

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Estarei enganado e falho de memória ao escrever que o racista general Norton de Matos, opositor de Salazar e também insuspeito de simpatias comunistas queria transferir a capital do Império para o centro de Angola, numa cidade criada de raíz chamada Nova Lisboa, depois capital de Savimbi e da UNITA? Estarei enganado ao pensar que Champalimaud após o falhado Golpe das Caldas defendia o desenvolvimento e aproveitamento local das matérias primas com a industrialização dos territórios ultramarinos? Terei lido mal um discurso de Champalimaud em que este defenderia a mudança da capital de Portugal para Angola? Se não estou enganado, Champalimaud um traidor à Pátria a soldo de Moscovo?

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E eu a pensar que o slogan «Nem um soldado para as colónias já!" e a «Revolução a Todo o Vapor» eram palavra de ordem dos maoístas e outros ultra-revolucionários inimigos do «social-fascista» PCP, que apoiavam o «ultra» Otelo! Durante a guerra colonial havia apenas dois partidos organizados nas Forças Armadas Portuguesas: os apoiantes compulsivos ou não da União Nacional/Acção Nacional Popular bem como os oficiais da geração NATO, anti-Pacto de Varsóvia, e os membros do Partido Comunista Português que não se exilaram na Europa, antes receberam instruções para aceitarem a incorporação compulsiva nas Forças Armadas Portuguesas, que em 25 de Abril, apesar da «honra», «ética» e «lealdade» militares, com uma única «honrosa» mas esquecida e solitária excepção, não saíram à rua em defesa dum regime político apodrecido que há muito deixara de ter apoio dos Estados Unidos da América e dos Países Nórdicos. Corrijam-me, se estou enganado.

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Alguém obrigou as licenciadas tropas locais negras a aderirem ao MPLA? Um «crime» este ter pedido o auxílio de Cuba e da URSS face ao «desinteressado» auxílio militar estrangeiro prestado por um corrupto Mobutu ou pela racista e internacionalmente condenada União Sul Africana? Militarmente derrotado o MPLA? E então qual a situação da UNITA? Estão enganados aqueles que dizem que esta foi uma criação do General Costa Gomes e da PIDE, explorando o tribalismo para atacar como aliado o «nacionalista» MPLA?

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Lembro-me duma entrevista na Televisão Portuguesa feita em simultâneo ao engenheiro Eduardo dos Santos e ao Dr. Jonas Savimbi: à mesma pergunta do jornalista, o primeiro afirmou que o MPLA reconheceria e aceitaria o veredicto popular. Já Savimbi afirmou que apenas aceitaria a vitória da UNITA. É verdade ou não que os resultados eleitorais, favoráveis ao MPLA em eleições cujo resultado foi internacionalmente reconhecido, foram recusados pela UNITA, o que deu origem à sangrenta guerra civil angolana, solicitando e aceitando Savimbi o apoio do regime do Apartheid, internacionalmente condenado?

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Critica-se Rosa Coutinho por ter desarmado os brancos em Luanda, os mesmos «não racistas» que vítimas de lavagens ao cérebro durante treze anos, da cegueira de Salazar e da tibieza de Marcelo, em Angola e Moçambique tenham pedido a intervenção da União Sul Africana e apoiado a RENAMO e a UNITA? Que seria da unidade angolana e dos portugueses se Savimbi tivesse ganho a guerra? Quem teriam apoiado a maioria dos brancos de Angola se em Luanda estivessem armados e envolvidos na guerra entre a UPA/FNLA, a UNITA e o MPLA? Quantos teriam regressado vivos a Portugal, onde o seu dinamismo e «vistas largas» de muitos foram um alento para o desenvolvimento económico e refizeram com mais ou menos sucesso a sua vida, com olhos no futuro e genericamente integrados na democracia nascida com o 25 de Abril?

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[1] - Angola, Anatomia de uma Tragédia, do General Silva Cardoso
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ver também este artigo da Wikipedia Guerra Colonial
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origem dos mapas - Wikipedia
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