quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Retratos (13) - Daqui desta terra

* Victor Nogueira
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Aqui estou no meu quarto, buscando para ti as palavras que não encontro, corpo sem imaginação mas irritado e desassossegado pela constipação que me percorre as veias e me enche dum nervoso miudinho. Busco para ti as palavras dos outros, nos livros dos outros, os ponteiros aproximando se das nove e trinta, hora da vinda do homem que levará de mim as letras que cadenciadamente vão surgindo no papel branco que já não é só! Busco as palavras e apenas encontro estas, hoje vazio de ti pela tua ausência, ontem pleno pela nossa presença. São vinte e uma e vinte, hora de parar, os livros espalhados pela mesa, o corpo quebrado, a imaginação e a voz quase secas e frias. Daqui desta terra, para ti noutra terra, te abraço e beijo com ternura e amizade, na memória do tempo que fomos juntos. Aqui estou! (MCG - 1972.09.21) - Évora

2 comentários:

A MINHA AMIGA ESTRELA CADENTE disse...

O trecho é de 1972. É lindo.
Eu sei muito bem compreender.
Eu gosto da tua prosa, e parece-me que tal como o que eu escrevo é baseada em factos reais.
Dorme bem.
Sabes as estrelas cadente não dormem, ou pouco dormem, percorrem milhares de anos luz. Até ao fim das suas vidas, depois desaparecem de repente.
Enão sei se não será hoje o meu fim

De Amor e de Terra disse...

Muito bela essa confissão de tristeza pela solidão e de impotência pela vontade de estar perto!


Maria Mamede