domingo, 7 de outubro de 2007

Ao (es)correr da pena e do olhar (30)

* Victor Nogueira
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E pronto, o 1º de Janeiro de 1994 é quase passado e acabaram as transcrições de textos que jaziam aqui no computador. Olho pela janela e o céu já escureceu. Ouço o leve ronronar do ventilador do computador e o ruído das motorizadas lá em baixo na avenida. Tive duas visitas: o Caló e um irmão, que vieram pedir um pacote de leite e a quem além disso dei dois chocolates. Vou fazer o jantar e depois sentar-me-ei frente à televisão para ver o filme "Aconteceu no Oeste", para além do último episódio da série policial britânica "Último Suspeito". Entretanto serão altas horas da madrugada.
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Setúbal, 1994.01.01
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Está um domingo nem chuvoso, nem soalheiro. Está uma tarde gélida: o frio entra pelos interstícios das janelas como lâmina cortante e tenho o corpo gelado, apesar dos agasalhos. Os meus tios foram sair ver uma exposição no Centro Cultural de Belém, eu resolvi ficar em casa. Se tivesse o meu carro metia-me com as rodas á estrada. Assim fico por aqui até 2ª feira; nos dias seguintes irei ao fisiatra e aos restantes especialistas por causa das minhas maleitas. Esperemos que a Fátima {secretária da Divisão de Planeamento Urbanístico e minha amiga, que entretanto faleceu inesperadamente] me tenha marcado as consultas todas. Entretanto retornarei à chateza do emprego e duma vida que me vai escorrendo sem entusiasmo.
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Sinto-me desanimado e cansado das minhas ilusões, dos sentimentos por mim supostos em outrem. Dói-me voltar sempre ao mesmo, sem esperança nem futuro. Mas na vida não há caminho senão aquele que nós, caminhantes, abrimos ao caminhar. E qual é o caminho que a minha amizade pelos outros abre? Qual é o caminho que os outros me abrem ?
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Paço de Arcos, 1994.02.06
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Está uma tarde fria e cinzenta. Almoçamos em casa do Zé e da Ana. O Zé e o sr. Caldeira cantaram músicas do Alentejo; o pai da Ana tem uma voz muito bonita. O Rui também abrilhantou o almoço, com a sua viola, que já toca bem. Com os seus truques de magia e cartas, bem poderia começar a pensar em animar as festas de bairro!
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A Susana foi dar uma volta; ficou de vir às seis para irmos ao Jumbo comprar a prenda para o César, o filho da Ana e do Zé (de Pias), que hoje fez 3 anos. Quanto ao Rui, comigo, é mais caseiro e agora anda para ali aos saltos com o Bruno, desalojados que foram do computador, e em animada conversa com a Catia e a Aida, as filhas mais velhas da Ana e dum outro Zé (da Amareleja), com quem vivem.
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Setúbal, 94.02.06

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Continuas desfiando as recordações dos dias cinzentos, quase iguais e dos seus pequenos acontecimentos, que por vezes, te obrigam a levantar os olhos para outras cores.
Sim, porque às vezes, ainda que por pouco tempo, há outras cores!

Bj

Maria Mamede