sábado, 31 de julho de 2010

Banhadas ...


* Victor Nogueira
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O tempo é de banhadas, com o país encerrado para férias.  Ele são os banhos de suor, os  banhos de chuveiro ou de banheira, com ou sem banhadas marítimas, fluviais ou lacustres. Sem falar na miudagem banhando-se em espelhos de água urbanos. Ele é a preparação "invisível"  da Festa do Avante e o cozinhado em lume brando da banha da cobra súcial-súcialista, com pós de perlimpimpim, depois dos foguetes revisionistas de Passos tirados da cartola com que Portas propôs um Governo tripartido de salvação nacional,  ao estilo Irmãos Metralha!
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De portas abertas terá terminado o Processo Freeport, que tal como o Face Oculta, Madie, Casa Pia, Operação Furação ou Apito Dourado entre muitos outros fizeram grande de estridência com pífios  resultados. 
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Para além disso articulam-se os plumistas em torno das portas abertas ou mal fechadas do Freeport, de que o animal feroz, como a si próprio se designa,  se escapa com sete vidas felinas. As sondagens dão-lhe nova vitória, em quem nele vê masoquisticamente o seu reflexo ! !!
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À falta de melhor, o Correio da Manha noticia crimes, assassínios. Quase parecem os tempos da minha juventude,  em que livros, banda desenhada e cinema retratavam  o farwest como terra de tiroteios diários, de pistoleiros invencíveis, de sheriffes mais ou menos afoitos, onde o Bem triunfava do Mal e os índios eram uns selvagens mortos a eito por selvaticamente atacarem os pobres rancheiros e coleccionavam escalpes como a tropa portuguesa na guerra colonial coleccionava  aa orelhas dos "turras" e lhes cortava as cabeças espetadas nos caminhos, tudo em nome da superioridade da civilização Cristã, numa  imitação do que Leopoldo II, esse velhinho de longa barba veneranda,  fizera na sua propriedade privada do Estado Livre do Congo, onde assassinou metade da população que se revoltava contra o   trabalho escravo, de que fala Joseph Conrad no seu "Coração das Trevas".
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Nos   processos Casa Pia ou Freeport há uma grande preocupação com o inqualificável denegrir da imagem e julgamentos na Praça Pública. Preocupação que não existe quanto à arraia miúda ! No processo Joana, os condenados foram surpreendidos pela vítima, cujo corpo nunca foi encontrado  ou não em relações incestuosos? Ou estarão presos para proteger alguém poderoso e verdadeiramente responsável? A verdade é que o processo Maddie, de contornos similares, deu em nada. Por serem ingleses e com conhecimentos influentes a alto nível? Do alemão que teria assassinado a amante e a filha de ambos deixou de falar o Correio da Manha, Mas o Rei dos Gnomos mais o seu "castelo" continuam a ser notícia diária, massa estendida para render, com direito a fotografia e condenação pública, mas desfocagem dos agentes da Judite que o acompanham.
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Enfim, continuemos em banhadas e se praia não houver contentem-se com  a banheira para derreter a banha ! Com o sebo assim obtido façam velinhas à Señora de Fátima, Protectora dos Aflitos !
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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Quem vier depois de mim que feche a porta !



* Victor Nogueira
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Seis anos e tal levou o processo Freeport, com dois pirrónicos arguidos por falta de tempo para ouvir José Sócrates! Outro tanto já deve levar o Processo Casa Pia, cuja leitura da sentença foi adiada pela 3ª vez, lá para Setembro. Enquanto o pau vai e vem, a culpa morre solteira ou o pai morre ou a gente almoça  ! Incomodados os advogados dos arguidos, por causa das agendas e dos sofrimentos dos ... arguidos !
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Outra notícia do dia é a relação dos dez mais ricos de Portugal, que, coitados, também tiveram prejuízo, ao contrário da banca, que apesar dos calotes e do crédito mal parado continua com lucros fabulosos e taxas de IRC ... baixas, de que os tais dez mais beneficiam ! Entretanto, tricas à volta das pinturas rupestres de Foz Coa, que o senhor engenheiro Mir' abomina, preocupado com a falta de água, agora que e EDP foi privatizada e a água, bem público, é privadamente apropriada ! Mais um engenheiro da treta a tentar vender gato por lebre ou papas e bolos, que há quem os compre pois o PS é que terá a maioria nas sondagens eleitorais, pesem embora os Passos Revisionistas doutro doutor especialista "ecunumia" e em passos de tango e em tirar coelhos da cartola.
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O calor continua e banhos não faltam, sejam nas doces praias fluviais, sejam nas marítimas, sejam banhos de suor que os de multidão serão lá para a rentrée. Entretanto, preparam-se banhadas de banha da cobra, mas o povo é quem mais ordena, embora volte o cano do voto contra si próprio, habituado como está a séculos de baile mandado !
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Ah! E continuam os incêndios, os assassinatos de mulheres e os acidentes na estrada. Depois de extinta a Brigada de Trânsito, pretende-se agora extinguir a Judite, i.e., a polícia Judiciária. Também com tantos calores o que mais fazem falta são os extintores.
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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Água e Fogo !



* Victor Nogueira
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Como sempre, nesta altura, Portugal arde. Responsáveis: a desertificação e falta de limpeza das matas, a piromania por  psicopatia ou interesses urbanísticos, a incúria governamental. O Governo aluga uma série de helicópteros - quanto mais trabalho, mais facturam, n'é? Depois lá andam os voluntários, semi-profissionalizados. Não fossem eles  e ardia tudo. Ainda me lembro de nos idos de 1960 soar a sereia no quartel  dos Bombeiros Voluntários de Évora e ouvi-los descer de botas cardadas ressoando nas pedras da calçada, largando os empregos, seguidos pouco depois da sirene dos carros de combate a incêndios !
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Entretanto a 5 de Agosto deverão ser conhecidas as sentenças do Processo Casa Pia que, tal como o Freeport, foram montanhas que pariram ratinhos, para gáudio da Carochinha que assim evitou que o João Ratão ficasse cozido e assado no caldeirão !!!
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Caldeirão em que está metido Jardim Gonçalves e mais alguns bons rapazes acusados de crimes no BCP, essa jóia modelo da gestão privada e da sua superioridade sobre a gestão estatal, como então frequentemente era trombeteado. Lá vai o Jardim fazer companhia ao Oliveira da banca, enquanto lá por fora Vale e Azevedo continue escapado às malhas da Justiça e o caso Apito Dourado tenha batido com os burros na água!  Há futebol e futebóis, há ir e não voltar  Uma caldeirada, que para isso servem os amigos, que assim se safou o Caldeira pois no final ninguém o acusou, pois os acusadores poderiam mudar para o banco dos réus, por falta de suplentes!
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De Maddie já não se fala, o corpo não foi encontrado, logo não poderia haver acusação. O que não impediu que a mãe e o tio da Joana estejam a malhar com os ossos na cadeia. Vamos lá ver o que sucederá ao Alemão, que terá assassinado a mãe e não dá conta do paradeiro da filha de ambos, que até agora nem morta nem viva apareceu ! Há sempre várias perspectivas e a anglo-germanófica dá  bué para burriés.
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Fora isso, o calor continua !
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terça-feira, 27 de julho de 2010

1, 2. 3 - clique


* Victor Nogueira
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Através da internet e ao alcance dum clique, sem sair de casa, podemos ter acesso a um conjunto de serviços públicos e particulares. Comecemos pelo Portal do Cidadão  (www.portaldocidadao.pt/), de que destacamos a área dedicada ao cidadão, como serviços ao seu alcance, de A a Z, pedidos de certidões várias, alterações de morada, informação organizada por temas ou  dossiers. Através deste Portal pode aceder-se aos Portais Autárquico (appls.portalautarquico.pt/portalautarquico/) e do Eleitor (www.portaldoeleitor.pt/Eleicoes/Eleicao.aspx) bem como à Loja do Cidadão (www.portaldocidadao.pt/PORTAL/pt/LojaCidadao/), com serviços idênticos aos do Portal. Poderá ver se existe Loja ou Posto de Atendimento na sua localidade e os serviços aí disponíveis. O Portal Financeiro (http://www.portaldasfinancas.gov.pt/) permite tratar de assuntos fiscais. O Portal Financeiro relaciona-se com o crédito (http://www.portal-financeiro.com/) e outras actividades das entidades bancárias aderentes, incluindo o home Banking (www.portal-financeiro.com/homebanking.html), isto é, a possibilidade de efectuar on line múltiplas operações bancárias com segurança. 
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No Portal do Consumidor (www.consumidor.pt/) encontram-se uma série conselhos sobre o consumo, incluindo os direitos do consumidor e de reclamação. O Portal da Saúde depende do Miistério da Saúde e dele destacamos as pastas "informações úteis", "enciclopédia da saúde", "serviços on line", "farmácias" (existentes e de serviço) e a relação das entidades particulares convencionadas.
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Em  Portugal (www.portugal-info.net/) encontram-se informações úteis por Regiões de Turismo. A Associação Nacional de Municípios Portugueses (www.anmp.pt/) permite aceder aos municípios, em cujas páginas figuram informações úteis socio-histórico-culturais e os serviços on-line eventualmente prestados. O Instituto Português de Museus (www.ipmuseus.pt/) permite conhecer ou saber do Património Cultural Edificado  e Museus, nalguns casos permitindo mesmo visitas virtuais. Notícias sobre o tempo e previsões meteorológicas encontram-se no Instituto de Meteorologia (www.meteo.pt/pt/).
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Os consumidores encontram na DECO (www.deco.proteste.pt/) conselhos úteis e testes comparativos em várias áreas. Se pretende fazer obras em casa/condomínio ou na sua habitação, nada perde em passar pelo Portal Obras Em Casa (www.obrasemcasa.pt/). Se pretender vender, comprar  ou alugar uma casa, uma ide ao Portal Imobiliário (www.casayes.pt/) poderá ser útil.  Para terminar, em caso de acidente, a página SOS (sweet.ua.pt/~helder/sos/) fornece uma série de indicações úteis.
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Fazendo a ligação aos jornais impressos, a Banca dos Jornais (noticias.sapo.pt/banca/#) permite visualizar a 1ª capa de inúmeros jornais nacionais e regionais e aceder ao seu conteúdo, caso estejam disponíveis on line.

Setúbal 2010.07.27
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Dia Internacional dos Avós


* Victor Nogueira
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Dias dos avós, dos pais, dos netos e dos filhos  devem ser todos os dias e não apenas naquele que é na maioria dos casos comercialmente criado ou apropriado para amortecer as consciências do que não se faz nos restantes dias e para aliviar as bolsas!
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O Avô Cantigas - A Cantiga do Avô Cantigas 

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bonecosTK | 4 de janeiro de 2009
nenhuma descrição disponível
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Avô Cantigas - Come a sopa, vá lá - Farol Música 

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andreapt2006 | 13 de novembro de 2006
Animation: André Teixeira
Ilustration: Sofia Dias
Direction and Production: Transglobal
Videoclip from the album: Biscoiteca
Copyright Farol Música 2006
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domingo, 25 de julho de 2010

E porque hoje é domingo ...



* Vitor Nogueira
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Domingo é, dizem, o Dia do Senhor, embora não para os Judeus e não para todos os Cristãos pois para eles é o sábado! Do trabalho ao sábado não se fala, mas apenas do que é feito ao Domingo, não se percebendo afinal bem qual a razão de tanto escarcéu por se trabalhar ao ... Domingo. Se Domingo é o dia do Senhor e se os novos Senhores são Belmiros, Gates e Cia, nada melhor do que prestar homenagem aos novos Senhores no dia deles, trabalhado e contribuindo com generosos dízimos  vezes Y.
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Eureka ! 
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Neste domingo esteve mesmo calor, mesmo muito calor, um calor pouco paradisíaco, mas insondáveis são os pétreos  desígnios de S. Pedro !
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Fora isso vão começar as manobras da NATO junto à Coreia do Norte que as considera uma provocação e ameaça retaliar à bomba ... nuclear ! O Correio da Manha, à falta de outros assuntos, noticia até à exaustão, diariamente, crimes, assassinatos, assaltos e uma ou outra falência. Felizmente os bancos portugueses passaram nos testes de robustez mas à  cautela dificultam o acesso ao crédito à habitação e aumentam as  comissões e  as despesas de gestão de contas inactivas. Sacam do que não é deles, ganham dinheiro com o que não é deles e sacam ... sobre as contas "inactivas"  ou de pequeno valor. Ao pé disto, Ali Bábá seria um artolas e a sua caverna um buraco ! Quanto ao Zé Pagode e à Maria Paciência afundam-se de buraco em buraco até ao atoleiro final !
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E como hoje ainda é domingo, por aqui me fico !
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sábado, 24 de julho de 2010

Tudo ao molhe ...


* Victor Nogueira
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As grandes superfícies esfregam as mãos de contentes, por finalmente poderem abrir aos domingos e feriados, com o argumento de que vão criar milhares de postos de trabalho .. numa altura de (quase) total desregulamentação do trabalho, do crescimento do desemprego e da diminuição do poder de compra de vastas camadas da população. (1)
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Em contrapartida a Confederação do Comércio Português esbraceja contra tal medida porque levará à falência milhares de empresas e aos desemprego milhares de trabalhadores. Do ponto de vista dos trabalhadores, entre uma e outra que venha o Diabo e que escolha. Ambas se estribam na mão de obra barata e desqualificada, na sanguessunguisse da exploração da mais-valia e  na acumulação de capital, na desrugalamentação laboral!
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Seráficamente a Igreja Católica propõe que os políticos cristãos doem (ai se doem) 20 % dos seus rendimentos para obras de misericórdia ! Venda, que voltará a apresentar a feriadal proposta a partir da bancada do PS na próxima legislatura (2), diz que Não. Desta vez, acertadamente, Alegre, o poeta/político ou o político/poeta diz que é em sede da fiscalidade que se alcança a justiça social.  E Joana Amaral Dias levanta a questão da contribuição como exemplo das "riquezas" da Igreja, cuja origem, montante e proveniência ninguém controla e que, até onde sei, é um dos piores patrões nas "Misericórdias" e nas Instituições Particulares de Solidariedade Social. (3)
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Um escriba de serviço em Correio da Manha, de sua graça João Pereira Coutinho, afirma que a possibilidade das grandes superfícies abrirem aos domigos e feriados é um avanço civilizacional, pois a populaça poderá ir às compras sem estar espartilhada por anacrónicos horários de funcionamento. Que a populaça esteja no desemprego ou com salários e reformas de miséria, portanto sem poder de compra, é algo que escapa ao escriba do Correio da Manha. E que seja essa mesma populaça transformada em exército "industrial" de reserva que assegurará o funcionamento de cerca de 200 grandes superfícies é algo que escapa ao escriba Speedy Gonzales ou Pepe Rápido! (4)
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Como escapa à Igreja Católica assumir uma contabilidade clara e "séria e  um tratamento humano e justo dos que para ela trabalham  e a prescindir das benesses fiscais da Concordata.

Quanto aos comentários dos leitores do Correio da Manha a propósito do artigo de Joana Amaral Dias,(3) apesar dos reparos ao artigo referido em  (4),cabe-me parafrasear Brecht:  primeiro   levaram a aristocracia operária da Cintura Industrial de Lisboa e não me importei pois nada tenho a ver com o Zé Ferrugem, embora seja ele que crie riqueza; em seguida atacaram os magistrados, os professores e os médicos do sector público e eu não me importei porque não sou magistrado, médico, juiz  ou professor com salários e reformas "milionárias" (Se PS/PSDCDS e a TV o dizem deve ser verdade); A seguir atacaram os Mangas de Alpaca e não  me importei pois muitos deles acolhem-me com desleixo e sobranceria; agora atacam os burgueses da classe média e não me importo,  pois estou desempregado ou vivo de esquemas e fugas aos impostos e não estou para aturar malandros que, embora paguem impostos, vivem à custa de todos nós.
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Eu sou Xico-Esperto e não me fazem o ninho atrás da orelha, embora não enxergue dois palmos à frente do nariz e não questione os salários e as vendas milionárias de futebolistas com isenções fiscais nem veja escarrapachados os rendimentos da Igreja Católica, da Igreja Universal do Reino de Deus ou dos cem mais ricos de Portugal, os tais que esfregam as mãos de contentes  graças à minha inteligência.
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Num país súcialista e laico, poder-se-à dizer "haja Deus!?"
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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Traulitadas !


* Victor Nogueira
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Na Assembleia da República o PS ajudou a "chumbar" o projecto feriadal de Venda e Carneiro, mantendo-se assim os feriados religiosos e outros nos dias certos, como são o 1º de Maio,  o 25 de Abril e o 5 do Outubro. Mas ... ao arrepio da Assembleia da República o Governo aprovou a abertura das grandes superfícies comerciais transferindo a decisão para as autarquias, com protestos da Igreja Católica pois o domingo deve ser o dia da família e não consumista. Mas hoje as catedrais são outras e delas beneficia a Igreja Católica por portas e travessas.
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Os Passos do Tango ao pretender subverter o que resta da Constituição em termos de direitos individuais e colectivos dos trabalhadores e das populações permitem a Sócrates esganiçar-se em  defesa do Estado Social, do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema Público de Ensino,  que ele tem escavacado com enorme alegria do patronato na senda de ilustres antecessores como Sá Carneiro, Mário-Só-ares e Alegre,  Cavaco, Durão,  Barroso & Cia.
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Tricas de comadres para desviar  a atenção da alienação do que resta de "lucrativo" em sectores estratégicos da economia, delapidando o património público na senda servil da União  Europeia do grande capital sem rosto, honra ou pátria.
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No fundo, no fundo, PS/PSD/CDS lá se entendem encenando divergências à boca da cena escamoteando o que se passa por detrás dos bastidores e nos camarins com muito fumo nebolento mas rápido! Campeões da democracia deles, pretende mandar às urtigas o Zé Pagode e a Maria dos Tremoços preparando-se para governar cada vez mais longe do escrutínio nacional em nome do interesse nacional. Que interesse é o destes capatazes já o Povo sabe e sente na pele, mas incapaz do salto qualitativo que vara,  quero dizer, que varra  a tropa fandanga fardada de mandarete que desgoverna a maioria dos trabalhadores e das populações, num país sem futuro, mas cada vez mais cinzento e frio para quem não for gestor ou futebolista de "sucesso" ou pequeno  patrão com a corda no pescoço mas que pretende não se afundar à custa da mão de obra barata e pau para toda a obra, estilo come e cala, sem que daí saia fois-gras.
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Na verdade, uma verdadeira revisão constitucional deveria ter poucos e sucintos artigos, que consagrassem;
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artº 1º - Todo o poder aos empresários de sucesso, incluindo a banca, as seguradoras e as grandes superfícies comerciais
artº 2º - Todos os trabalhadores têm o dever de comer e calar sendo-lhes assegurado que saibam soletrar as primeiras letras e contar pelos dedos das duas mãos, proibindo-se o uso dos pés, reservado aos futebolistas de sucesso.
parágrafo único - Todos os pedidos de reforma ou de aposentação serão obrigatoriamente acompanhados da certidão de óbito, sem a qual não terão seguimento.
artº 3º - A todos os inválidos, doentes e velhotes é reconhecido o direito de escolherem o local em que  piamente levarão um tiro por detrás da orelha ou em que serão gaseados.
artº 4º - A presente Constituição vigora ad aeternum
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Ver também

As Luminosidades do Reyno em Comédia de Enganos !

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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A demo-cracia em que vivemos !


O Quarto Estado - Volpedo
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A respública é um emaranhado de podridão e a democracia há muito k já foi! Desta demo-cracia, já nada há esperar! Restam-nos cada vez menos espaços de liberdade e cada vez mais trincheiras, não para recuar ou resistir apenas, mas para avançar, sabendo que não será ainda hoje ou amanhã, mas com a esperança determinada k avançaremos, não só aqui mas no resto do Planeta, cada vez menos azul e mais negro de cinza! (VN)
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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não é preciso sair de Portugal !

Recebo na caixinha do correio electrónico;
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Assunto: boa noite ...
Data: 21/Jul 21:30
esta voz é fantástica, mesmo! a letra ... bem ... julguem vocês e na Somália uma criança, menina de 13 anos é apedrejada até á morte! horror ... isto é horror! um abraço eu


Assunto: Não é preciso ....
Data: 21/Jul 22:13
.... sair do católico apostólico romano Portugal, onde homens e mulheres se julgam donos/as uns/mas das /os outros/as e se matam por ciúmes ou sentido da posse "traída", onde as mulheres se prostituem por não haver trabalho ou crianças e adolescentes são vítimas de pedofilia, quando não assassinadas/os! Ainda ninguém fez um vídeo sobre isso com fundo musical de "o povo é sereno, é só fumaça" ou "les portugais sont toujours gaies" ou "duma casa portuguesa" do tempo volta para trás ?
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Ai mana mana ! Ay hué flor de verde piño
Bjo
Victor Manuel

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pão e Circo



* Victor Nogueira
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Durante o Mundial de Futebol foi uma indigestão de múltiplas páginas a que nem o sério Público escapou: foi um fartote, deste os tablóides até aos jornais ditos de referência cujos comentários on line são duma indigência mental confrangedora; armando ao pingarelho como jornal dos intelectuais, s seus leitores estão muitos furos abaixo do campeão de vendas que é o semi-tablóide Correio da Manha, rectifico: Correio da Manhã.
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O Processo Casa Pia marina em lume brando há anos e agora ressurge em força o Caso Freeport, de corrupção, um dos muitos em que o PS e José Sócrates aparecem envolvidos mas sempre acabam ilibados. Como dizia Cervantes, não acredito em bruxas, mas que as há, há.! Então não é que o José Mourinho foi até ao Quénia reunir com quatro célebres  bruxos para lhe darem sorte no e ao  ... Real Madrid! Pobre Mourinho, que teria resistido aos dinheiros pagos pelo PS para apoiar Sócrates/PS nas últimas eleições mas se verá forçado a recorrer  a ... bruxarias ! Ás quais não terá recorrido Figo,  para num pequeno almoço aceder a apoiar o mesmo Sócrates, dizem, em troca de contrapartidas reais. O mesmo Figo que deu a cara na campanha por um desses bancos que só não foi à falência pela intervenção do Governo Sócrates/PS. Terá acreditado no banco e ficado sem tostão, como muitos ... clientes ?!
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Neste mundo real feito de virtualidades, haverá ainda honra, virtude e convicção que não voguem ao cheiro do vil metal?
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Outra paragonice é a de que o gestor dos recuroso humanos da Ford em Palmela é ... um português. A mesma parolice que soou com Durão Barroso,  um ex-reorganizador do Partido do Proletariado convertido em mandarete na União Europeia ! Mas de vento em popa vão as brincadeiras de Ronaldo, que resolveu brincar aos papás, parindo uma criança de mãe incógnita em segredo de polichinelo ! O  Homem que já terá fornicado com mulheres de 130 e tal nacionalidades pariu, ou alguém por ele, uma criancinha «desconhecida» alvo da sofreguidão dos paparazzi que já terão conseguido uma foto ! Quantos milhões terá custado a tal foto e quantos parirá!
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Isto do milhões futebolísticos tem que se lhe diga, como sabe o tal guarda-redes  brasileiro pago a peso de ouro e falido depois duma tenebrosa história de paternidade e previsível assassinato da mãe da criancinha.
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Entretanto, entretanto a vida continua de vento em popa para o punhado de milionários cujos lucros assentam na miséria crescente de biliões. O pilim, "É tão engraçado,o manganão!"
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domingo, 18 de julho de 2010

A (des)Importância do Ser sobre o Ter, o parecer e o políticamente correcto (1)



* Victor Nogueira
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Antes e depois  de 25 de Abril de  1974 havia a geração de 60, a das greves lideradas pelo PCP e a dos Estudantes Universitários!
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Destes e dos que vieram, depois, quantos traíram, quantos se acomodaram, quantos se venderam por um prato de lentilhas, quantos se passaram para o outro  lado da barricada, como 5ª coluna e do lado dum Mundo Novo fingem estar ? Onde estão Pina Moura, Zita Seabra, Durão Barroso, José Magalhães, Carlos Brito, Veiga de Oliveira, José Luís Judas, Saldanha Sanches, Maria José Morgado, Vital Moreira, Maria Santos, Miguel Portas, Manuel Alegre, Mário Soares, Cohen Bendit, Acácio Barreiros, Eduíno Vilar , Arnaldo Matos e tantos outros críticos do PCP ou refundadores do Partido do Proletariado ou do Partido Comunista Português?  Onde param Otelo das auto-denominadas FP 25 de Abril e Vasco Lourenço e Comandita ? Quem eram e são de facto os súciais fascistas? Onde param a foice o martelo ou similares da AOC (Aliança Operária Camponesa), UDP's (União Democrática Popular) ou PC''s ML de vários matizes e maoístas ou mesmo trotsquistas como os da LCI ? Como Podem fazer um Bloco ideologias tão antagónicas sobre a Revolução Anti-capitalista como são as dos trotsquistas, dos maoístas, dos marxistas, dos marxistas leninistas ? Ou em Bloco passaram a ser EX-.... ?
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Quantos de facto estão de facto e em bloco ao lado do Pé Descalço, do Zé Ferrugem, da Catinga ? Ainda há Cheiro a Suor ? Quantos relatam as purgas no totalitário PCP e condenam o centralismo-democrático  e o voto de braço no ar e escondem as purgas de Mário Soares no PS, de Sá Carneiro no PPD/PSD ou de Portas no CDS/PP, mandando entregar a foto de Freitas do Amaral na sede do PS ao Rato e não colocam em causa a democraticidade das votações na Assembleia da República, para controlarem os votos dos deputados do PS/PSD/CDS??
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 A continuar !
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Um escrito perdido algures e recuperado

* Victor Nogueira
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.Viva :-)
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Apreciei bastante a entrevista que transcrevi neste blog, conjuntamente com um comentário a uma carta de Maria Amália Vaz de Carvalho.
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Por acaso na minha família as pessoas vivem até aos 80 ou 90 anos ou mesmo mais (os meus pais têm 88) e mantenhem-se lúcidas talvez porque se dedicam a hobbies manuais ou lêem muito. E só se reformam qd atingem os 70 anos, porque a isso são obrigadas. Eu sou a excepção, consegui reformar-me aos 62 mas pk já não estava a fazer nada no urbanismo, sector sensível onde estive numa prateleira durante 30 anos, sempre com actividade extra, para não morrer de estupidez, os oito últimos dos quais tendo apenas como tarefa picar o ponto à entrada e à saída e receber o ordenado ao fim do mês. E se no tempo do PS aguentei, no tempo da CDU fui mesmo abaixo. A «traição» daqueles que julgamos que caminham ao nosso lado dói mais do que a atitude daqueles que sabemos que estão do outro lado da barricada.
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Abraço
Victor Nogueira

Em torno dos dois Mários Nobre



Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008
"OS DOIS MÁRIOS"
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Este era o arrogante pró- americano!
E...que queria partir a espinha á CGTP!
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Este é o anti-Americano convidado e presente
no último congresso da CGTP, que decorre neste momento
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CONCLUSÃO
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Grandes lições de democracia!
...dão os trabalhadores!


publicado por POESIA-NO-POPULAR às 22:09

Comentários:

De Victor Nogueira a 15 de Fevereiro de 2008 às 22:57
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Este, que «conheço» da Primavera Marcelista e que previdentemente fundou o PS em 1973 ... na RFA (Olha se tivesse sido em Moscovo, o escândalo que seria) é um «defensor «inteligente» do capitalismo, pois sabe que se não pode dar palha aos trabalhadores, antes pão com azeitonas e um caneco de vinho como almofada para a «explosão social» que preocupa o General Garcia Leandro o da nova Secreta. Este é e continua a ser «o amigo (do) americano» e defensor do Sócrates, não te iludas.Tal como o Manuel Alegre.
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Deixo-te dois links se quiseres visitar:

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http://kantoximpi.blogspot.com/2007/06/gilberto-de-oliveira-ao-camarada.html
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http://kantoximpi.blogspot.com/2006/06/dois-momentos-dois-retratos-1.html

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Um abraço
Victor Nogueira

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De Victor Nogueira a 15 de Fevereiro de 2008 às 23:24
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Voltei atrás para ver melhor a 1ª foto. O Márocas defende a Liberdade e tem horror às purgas em certos partidos e paízes. Há uma outra foto histórica: a do Mário Ninguém abraçado ao Álvaro qd este regressou a Portugal. Anos mais tarde, reconhece numa alentada entrevista em três volumes, que MENTIU quando disse que defendia, na altura, o Socialismo que Povo queria, Mas mal se apanhou com os votos em liberdade arrumou o socialismo numa gaveta onde o Sócrates não encontra, tal o esaninho da gaveta.
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Mas voltando à foto e às purgas, estão lá pelo menos três «purgados» pelo Mário Soares: o Lopes Cardoso (que iniciou a contra-Reforma Agrária aprofundada pelo Barreto), o Salgado Zenha, seu rival numas eleições presidenciais que o Mário ganhou à 2ª volta por uma negra graças àqueles a quem queria e quer partir a espinha - os trabalhadores e suas verdadeiras organizações representativas) e o Cardia, Ministro da Educação que iniciou a contra-Revolução no Ensino.
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Não sei se está lá o Manuel Serra, que o Mário venceu por uma unha negra no I Congresso do PS.
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Sobre isto ver
http://maltez.info/respublica/portugalpolitico/grupospoliticos/partido_socialista__19_de_abril_.htm
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Note-se que em 1988 Victor Constâncio foi eleito Secretário Geral No Congresso de 21 de Fevereiro de 1988 é reeleito Vítor Constâncio com a missão exclusiva de assinar acordo com o PSD para a revisão constitucional (14 de Outubro) pois se demite-se logo a seguir (27 de Outubro). E lá está, no Banco de Portugal, desatento de fiscalizar os desmandos da Banca [e agora, em 2010, recompensado com a Vice Presidência do Banco Central Europeu]
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Os Alentejanos sabem que durante muitos anos no Alentejo só havia dois Partidos - o Partido, como sempre foi conhecido, e o Socialista, que acolhia toda a escumalha.
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Um abraço

Viajando - mémórias e registos



 De Luanda a Cambambe

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Saímos de Luanda às 4 horas da madrugada, tendo regressado às 22 horas. Passámos por Viana, Catete, Maria Teresa, Dondo, etc.) Almoçámos na cantina da barragem. No Dondo parámos. Fui à capela de lá.
Atravessámos vários rios: Cuanza, Lucala e outros. Visitámos a barragem. As ruínas da antiga povoação estão cobertas de capim. (Diário 1962.06.17)
Outra viagem - 7:40 - início da viagem Luanda, Catete, Dondo, Cambambe A mãe conta o filme “O Livro de Saint Michele”
Às 8 horas parámos na estrada. Ouviam‑se os pássaros a chilrear. Ao km 44 a paisagem é a savana, com muitos arbustos. Predominam o capim e as mangueiras. O dia mantém‑se enevoado. Às 8:15 desapareceram as mangueiras e aparecem os imbondeiros e árvores candelabro. O capim encontra‑se queimado. A estrada, embora asfaltada, encontra‑se com muitos solavancos. Estamos a 5 km de Catete. Gosto de ver os imbondeiros ao longe. De quando em quando aparecem uns eucaliptos.
Estamos perto de Catete. Já se avistam sanzalas e bairros para indígenas. Paramos junto a um posto militar de controle. São cerca de 8:20 e a vegetação é rasteira. À beira da estrada e até ao horizonte não se avistam árvores. Passarinhos encontram‑se à beira nas linhas telefónicas, ao longo da estrada. Reaparecem os imbondeiros. Aparecem manchas verdes, não amarelecidas mas sim viçosas.
Às 8:40 passamos por uma sanzala, onde há acácias, palmeiras e coqueiros. Na EN 3 há uma estância, de aspecto acolhedor, à venda. Passamos por um aquartelamento militar, onde há umas carteiras e quadro negro, sob uma árvore frondosa. A E.N. 3 é agora aos altos e baixos. Ultrapassámos um jipão militar, com reboque, no qual iam dois soldados armados com espingardas metralhadoras.
Chegamos a Barraca às 8:50. Paramos numa patrulha militar. Pela 2ª vez perguntam‑nos se trazemos armas de fogo.
Ao km 105 aparecem eucaliptos ao longo da estrada. Passamos por Maria Teresa, povoação pequena, cujos habitantes foram todos assassinados no fatídico mês de Março de 61. Vegetação exuberante.
Ao km 113 há imbondeiros e precipícios. Ao km 126 (9:11) chegamos ao Zenza e entramos no distrito de Cuanza Norte. Passamos pelo sítio onde matabichámos da última vez que fomos a Cambambe. A vegetação é luxuriante e há um pequeno rio temporário e imbondeiros. A linha férrea segue do lado esquerdo da Rodovia. Os frutos do imbondeiro fazem‑me lembrar ratos pendurados pelo rabo. Coqueiros. 
   
                         Estudos: «Alquimia da árvore» - Pau de Imbondeiro, 2007          
(Eleutério Sanches) no Blog Mukandas do Estoril
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Os fios que transportam a energia das Mabubas a Luanda passaram para o nosso lado esquerdo. O sol continua encoberto.
A 125 km do Dondo há uma sanzala. São 9:30. Passamos pelo Rio Lucala. O rio Mucoso [?] está seco. A paisagem é de outeiros e há bananeiras.
Chegamos ao Dondo. São 9:45. À entrada há casas género bairro operário. Paramos no jardim, bem arranjado, e com uns bancos rústicos, candeeiros e um coreto, tudo com aspecto antigo, embora arranjado. Ao fundo uma rua, ladeada de casas antigas e árvores frondosas. Do lado esquerdo da praça, a igreja.
A igreja de Cambambe (ou Dondo?) é modesta, sem estilo arquitectónico. À saída encontrámos o Ruca, filho da Beatriz. Está muito sério, a tropa modificou‑o fisionomicamente. O terreno agora é mais acidentado. Demos uma boleia a um tropa até Cambambe, onde chegámos às 10:20. Dentro de Cambambe há um bairro, com casas modernas e arvoredo. O terreno é acidentado e há uma pousada. Há um cinema, com bilhetes a 50$00, às 5ªs e domingos.
Visitámos a barragem, cujas turbinas giram a 230 rotações por minuto. A 1ª fase da construção está concluída. O rio passa a um nível superior ao das turbinas. A água sai pelo descarregador com uma força impressionante, oferecendo um aspecto maravilhoso.
Visitámos as ruínas da antiga povoação de Cambambe. Fomos até à ponte do Rio Cuanza. Almoçámos num restaurante duma estação de serviço FINA, a uns 8 km da povoação: bife com ovo estrelado... e batatas fritas.
Às 14:45 demos início ao regresso a Luanda. No Dondo está sol. Na viagem de ida e volta a Luanda percorreram‑se cerca de 430 km. (Das notas manuscritas da viagem, 1964.06.14)
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De Nova Lisboa a Luanda, por terra - Relato I


13 de Setembro - 5ª feira

8:00
Saída de Nova Lisboa (Eu, a mãe e o Zé)
9:00
Vale do Queve. Povoação em franco progresso, situada a 1600 m de altitude.
9:25
Atravessámos o rio Lumbuambua.
Chicala
9:40
Chololo. Atravessamos os rios Chilongo e Culele.
10:15 -10:40
Vila Teixeira da Silva - sede do concelho do bailundo. Altitude 1640 m. Vila airosa e electrificada. Tomamos aqui o pequeno almoço.
11:30
Santa Cruz - Plantações de bananeiras. Região montanhosa, coberta de arvoredo.
11:50
Jambacita
12:25
Cachimbombe. Pouco depois encontramos um cortejo nupcial. As duas noivas iam vestidas de branco, seguidas por numeroso séquito, batendo palmas e cantando.
12:35 - 13:40
Hengue - Possui uma modesta pensão estalagem onde almoçámos. A comida não era nenhuma maravilha: sopa de feijão (que não comi), pasteis albardados (muito aldrabados) com salada, arroz branco (parecia cola) com chouriço e galinha. Conclusão - 50 paus
14:30 - 14:40
Namba
14:45
Entramos no distrito do Cuanza Sul. As regiões que estamos a atravessar são muito montanhosas.
16:10
Avistamos uma das aldeias do colonato europeu da Cela.
16:15
Avistamos outra das aldeias.
16:20 - 17:00
Altitude 1300 m. Possui luz eléctrica. Lanchamos no Bar do Passarinho. Bebi uma laranjada e comi dois ovos cozidos e dois bolos. Sede do colonato europeu da Cela. O seu fim é “transplantar para Angola aldeias da Metrópole, sem pretos”.
Cada família recebe casas, terrenos com culturas, bois e tudo o que é necessário até ao valor de 150 contos, que pagará em 25 anos. Aqui se cultivam, por assim dizer, o mesmo que na Metrópole. Cultiva‑se milho, batatas e feijão. A primeira aldeia a ser construída foi a do Vimeiro, que é conhecida por aldeia nº 1. Cada aldeia compõe‑se de 25 a 28 casas, armazém geral, capela, posto de socorros, escola, chafariz com água canalizada. As aldeias encontram‑se ligadas entre si por boas estradas. Até Maio de 1958 gastaram‑se 297 mil contos. As culturas principais produziram, em 1957/58, cerca de 7000 toneladas de milho, 2500 de arroz, 3000 de batatas. Além de outros géneros criam‑se bois, porcos, galinhas, patos e perus. Clima subtropical.
17:03
Santa Isabel - aldeia nº 5
17:10
Carrasqueira
17:15
Avistámos outra aldeia
18:40
Catofe. Há um bom bocado de estrada asfaltada até Catofe. Indústria de lacticínios.
18:45
Quibala - Vila, sede de concelho do mesmo nome. Possui luz eléctrica e campo de aviação. Altitude - 1340 m. Clima subtropical seco. Dormimos numa pensão. O nosso quarto era o nº 4 e era razoável. Comida idem aspas. O jantar foi sopa, que não comi, peixe frito com salada, arroz com bifes e bananas. 150$00

14 de Setembro - 6ª feira

Acordámos às 5:45. Matabichámos. Tome café com leite e pão.
6:40
Partida da Quibala
6:42
Passámos pela missão católica de N.Sra das Dores, a 3 km da Quibala, com oficina de carpintaria e outros ensinamentos aos indígenas.
6:50
Passámos por um cemitério arruinado, que parece muito antigo. Perto havia uma sanzala abandonada.
6:53
Vi mais ruínas, perto da estrada. Árvores de pequeno porte e muito capim.
7:00
A estrada em certos pontos parece‑se com a de Robert Williams/Nova Lisboa, embora a paisagem seja diferente e a estrada não seja asfaltada.
7:05
Saímos das estrada principal, devido a trabalhos nesta.
7:15
Voltámos à estrada principal. A paisagem é triste e o céu está cor de chumbo, dando a impressão que vai chover.
7:20
Tornamos a sair da estrada principal.
7:25
O Sol rompeu as núvens, mas foi logo encoberto. Parece que a natureza se associa ao meu estado de espírito. Está frio e vou gelado. Que diferença entre esta paisagem e a de ontem, com sol, eucaliptos e cedros!
7:30
Voltamos à estrada principal. O céu continua triste e a paisagem desoladora.
7:40
Passamos entre pequenos montes, cujos cumes estão cobertos de nevoeiro, dando a impressão de um gigantesco incêndio.
Paisagem triste, com pouca vegetação e montes pedregosos.
7:55
Está tudo coberto de nevoeiro. Não se vê quase nada.
8:10
Atravessámos o rio Longa. Floresta de eucaliptos. Há muitos quilómetros que os não via. Estrada está pronta a ser alcatroada.
8:15
Lussulo - Recebemos correio
8:25
Andámos mais ou menos um km de estrada asfaltada.
8:30
Continua tudo coberto de nevoeiro e a paisagem não é nada encantadora.
8:35
Pequeno troço de estrada asfaltada.
8:40
O nevoeiro está cada vez mais cerrado.
8:42
Saímos da estrada principal.
8:44
Subida íngreme. O autocarro vai a 10 km/hora.
8:50
Entramos na estrada principal. Num desvio estava voltado um camião carregado com sacos de cimento. (APC - 06 - 58)
8:52
Saímos da estrada principal. Subidas e descidas muito íngremes. Região montanhosa, quase sem vegetação.
8:55
Retomámos à estrada principal. O nevoeiro quase que passou. Palmeiras. Estrada pronta a ser asfaltada.
9:05
Estrada asfaltada. Atravessamos um rio.
9:15 - 9:50
Atravessamos o rio Mucongo. Tomamos o pequeno almoço no Munenga. Acabou o pão de ló que a sra. D. Maria Delfina nos oferecera. Bebi uma laranjada e comi pão com manteiga.
Plantações de palmeiras, bananeiras e sisal. Altitude 434 m. Clima tropical muito quente e húmido.
10:00
Palmeiras. Finalmente vi capim verdejante. Já estava farto de capim seco. Começam a aparecer imbondeiros Vegetação cerrada, mas ressequida. Montes cobertos de verdura.
10:15
Montanhas com o cume coberto de nevoeiro. Tal como há horas, tenho a ilusão que as montanhas são presa dum incêndio.
10:20
Atravessamos um rio. No rádio transmitiram uma música dos “Conchas”. É pelo menos a sexta gravação deles que ouço hoje, sendo três de enfiada.
10:35
Seguimos por um desvio devido a obras na estrada principal.
10:50
Voltamos à estrada principal. Aparecem imbondeiros com mais frequência. Atravessámos um rio.
10:55
Rio Cuanza - O seu caudal esta muito reduzido e o leito em grande parte está seco. Ao pé da ponte há diversos rápidos. O Cuanza nasce no planalto do Bié, desaguando ao sul de Luanda. Tem um percurso de 1000 km, 258 dos quais navegáveis, incluindo o seu afluente Lucala.
O Rio Cuanza tem um grande valor económico. No Cuanza médio encontra‑se a barragem de Cambambe. No rio Lucala encontram‑se as célebres Quedas do Duque de Bragança (100 m de altura) Avistamos ao longe Cambambe.
11:10
Passámos perto de Cambambe, onde se encontram as ruínas da povoação do século XVI, e a barragem. Entrámos na EN nº 5.                                              
11:25
Tornámos a avistar Cambambe. Seguimos na EN nº 3, que segue até Luanda. As ruínas de Cambambe são constituídas pela antiga Igreja de N.Sra do Rosário, resto das muralhas e fosso da fortaleza, e ruínas de outros edifícios. Está bastante calor.
11:30 - 12:55
Dondo - Chegámos ao Dondo, o “Ouro Preto” de Angola. Está muito calor, que me incomoda bastante. Na Praça da República há um jardim com um coreto. Naquele, escrito com relva, lê‑se ”Aqui é Portugal”.
Vila, sede de concelho de Cambambe, é uma povoação muito antiga. Possui energia eléctrica. Clima tropical quente. O Dondo foi uma importante povoação nas duas últimas décadas do século passado e princípios deste. Já naquele tempo possuía hospital, bons prédios, ruas alinhadas, etc. Com a construção do CFL (Caminho de Ferro de Luanda) as casas comerciais distribuíram‑se ao longo da linha férrea e a vila perdeu muita da sua importância comercial.
Actualmente, com a construção da grandiosa barragem de Cambambe, a vila desenvolver‑se‑à imenso. Possui ruas arborizadas e asfaltadas. Prédios antigos e modernos. Culturas de palmeira e sisal.
Almoçamos no Bar Passarinho: um prego e uma laranjada. Foi a 3ª vez que estive no Dondo. O ajudante de motorista, o Sebastião, desapareceu, mas por fim lá apareceu todo esbaforido. Meteram gasoil no autocarro.
13:00
Passamos o rio Menoza, cujo leito estava completamente seco.
13:20
Passamos o rio Lucala. Estamos a 160 km de Luanda. Plantações de palmeiras e bananeiras.
13:25
A estrada ora é de pedra britada, ora asfaltada.
14:10
Zenza (do Itombe) - Possui energia eléctrica. Sede do Posto do mesmo nome. Alt. 87 m.
14:12
Atravessamos o rio Dala Gola.
14:30
Entramos no Distrito de Luanda. Maria Teresa - 117 km de Luanda. Culturas de algodão.
14:50
Começam a aparecer os primeiros cactos candelabros.
Barraca - 99 km de Luanda - Plantações de algodão.
15:05
Calomboloca - Alt. 100 m. Povoação com. de 4ª. Aquartelamento militar, com escola ao ar livre, à sombra duma árvore. Carregamentos de algodão. Sanzalas.
A 110 km de Luanda há uma floresta de eucaliptos, ao longo da estrada.
Paragem para os soldados revistarem o autocarro (99 km de Luanda)
15:15
Botomona - O céu está coberto de núvens, que parecem flocos de algodão.
15:30
Catete - 60 km de Luanda. Vila sede do Concelho de Icolo e Bengo. Luz eléctrica. Alt. 70 m. Clima tropical regular. Passámos a 3 km da vila. Zona algodoeira, com uma produção média anual de 4000 toneladas.
Povoação indígena à entrada da vila, de quem vem de Luanda.
15:50 - 16:00
Km 44 - Merendámos - 1 laranjada. Fica no cruzamento da Estrada de Catete com a do Bom Jesus. Possui uma casa comercial. Não é povoação.
16:08
Desvio da EN nº 3, devido a reparações nesta. Neste sítio, quando fomos a Cambambe (em 17 de Julho) estava um automóvel virado, devido à má sinalização do desvio.
16:10
Regressámos à Estrada Nacional. (37 km de Luanda)
16:20
26 km de Luanda. Vegetação rasteira.
16:35
Viana - 16 km de Luanda. Povoação com. de 4ª. Apeadeiro.
16:40
Estalagem do Leão - Pousada a 17 km de Luanda, transformada em aquartelamento militar.
16:45
Grafanil - 7 km - Fábrica de explosivos e aquartelamento.
16:50
Entrámos em Luanda. Paragem no posto de controle militar, perto da F.T.U. (Fábrica de Tabacos Ultramarina)
Paragem ao pé da Esquadra da Polícia Móvel, onde desceram alguns passageiros
17:05
Chegada ao Largo das Ingombotas. Fim da viagem. O pai estava à nossa espera.
NOTAS
Além de nós, vinham no autocarro duas senhoras, soldados, três Brancos e diversos pretos. Eu vim sempre na cadeira do Fiscal. 
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Paquete Uíge em que viajei de Lisboa a Luanda em 1950 e de Lobito a Moçâmedes em 1960, com passagem pelo Lobito e por Benguela, cidades que então visitei
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Pela costa de Angola

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Fiz uma viagem de recreio a Lobito, Catumbela, Benguela e Moçâmedes. Não fui a Nova Lisboa, onde contava passar umas semanas, porque a minha mãe teve de regressar a Luanda e daqui embarcou para Lisboa. (NID - 1960.10.25)
Em 5 Ago 60 eu, a mãe e o Zé embarcámos no “Uíge” para uma viagem ao Lobito, Moçâmedes e Nova Lisboa. No dia seguinte chegámos ao Lobito (... que) visitámos de autocarro. Almoçámos no Restaurante Luso. Qualquer que seja o percurso que andemos de autocarro pagamos sempre 2$50. Não há cobradores. (...) A cidade do Lobito é airosa, com vários prédios de dois pisos, mas a maioria são vivendas térreas. Ruas largas e belos jardins. No dia 8 de Agosto, 2ª feira, chegámos a Moçâmedes. (...) Vimos a cidade, que é pequena mas airosa. (...) Visitámos o Forte de S. Fernando, o banco da “má língua", hortas, olivais e o deserto. (...) No dia 9 estávamos de novo no Lobito. Fomos a Benguela (bonita a estrada Lobito-Benguela) e a Catumbela. Benguela é uma cidade pequena. (...) Chegámos a Luanda às 16 horas de 10 Agosto e no dia seguinte a mãe seguiu, no “Uíge”, para Lisboa (Diário III - pag. 7/9)






Paquete Infante D. Henrique, em que viajei de Luanda ao Lobito
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Do Lobito ao Huambo

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A viagem [de barco "Infante D. Henrique)] correu bem. ([1]) Chegámos ao Lobito na 3ª de manhã. Desembarcámos e como não havia lugares nos hotéis acabámos por ficar na Pensão Ideal, que de ideal nada tinha. Era triste, com colchões mais duros que o meu, mosquitos... A comida é que não era má. (MNS - 1962.08.24)
De há dois anos para cá a cidade não se desenvolveu muito. Estão a construir um mercado novo, de linhas modernas, que fica defronte da Pensão. Fartei‑me de passear a pé, tendo por isso ocasião de verificar que há por aqui coisas que Luanda deveria ter: ruas arborizadas, bons jardins e cestos para o lixo (logo as ruas são limpas). Gostei bastante da Restinga, com casas engraçadas. ([2])
Embarcámos no comboio na 4ª feira à tarde. A carruagem estava reservada aos estudantes do Porto e tivemos de procurar outra. Por fim tudo se arranjou. Os estudantes ocuparam o refeitório fazendo dele, alguns, sala de estar. Só conseguimos jantar às 10. (...) A paisagem até Nova Lisboa é encantadora. Como 500 metros para cada lado da linha pertencem aos CFB ([3]) quase todo o percurso até à fronteira está ladeado de eucaliptos [que servem de combustível aos comboios e para fabrico de pasta de papel], segundo o que me disse o revisor da carruagem que durante a viagem me prestou muitos esclarecimentos. Antigamente a linha passava por florestas que foram abatidas para combustível às locomotivas de maneira que a Companhia fez o repovoamento florestal com eucaliptos. (MNS - 1962.08.24) [Orfeão Universitário]
NOTAS À VIAGEM DE COMBOIO - Foi uma pena a viagem ter sido feita de noite. Como a linha férrea é a subir, abrangem‑se grandes distâncias. À noite as fagulhas oferecem‑nos um aspecto curioso. O pessoal dos C.F.B. é muito atencioso e correcto. No Lépi há um rochedo com a forma duma cabeça de elefante, daí lhe vindo o nome de “TROMBA DE ELEFANTE”. O ponto mais alto da linha férrea fica a 1894 metros de altitude. (...) (Diário III - pag. 17/18 )
Não estou de acordo com o que disse acerca das fagulhas do comboio. Eu fiz a viagem quase toda ou na varanda da carruagem ou à janela. (Eu gosto de ver por onde ando). Tirando a cara e a camisa cheia de fuligem, nada me sucedeu. fiquei encantado com a paisagem., como já lhe devo ter dito. Na verdade, esta é muito melhor que as do Norte [de Angola], que eu conheço. (ASV - 1962.09.24)



[1] - Anteriormente fizera duas outras viagens de paquete, de Angola a Portugal e regresso, em 1949/50, respectivamente no "Mouzinho de Albuquerque" e no "Uíge". Da primeira viagem recordo apenas que não enjoei, enquanto a minha mãe passava os dias indisposta no camarote. Dessa viagem há fotografias do navio a zarpar do Porto de Luanda e minha, num dos decks, muito sorridente.
[2] - Como não havia quartos no Victoria Hotel, ficámos na Pensão Ideal, que de ideal nada tinha! Era uma pensão triste e suja. Da janela do nosso quarto, que ficava no 2º andar, vê‑se o novo mercado, em parte construído, um belo largo arborizado  e, ao longe, a baía com o seu casario. O Lobito é uma cidade de ruas arborizadas e com jardins bonitos. Por toda a parte existem recipientes para o lixo, que em Luanda fazem muita falta. Tem dois cinemas, o Colonial e o Imperium. O almoço da Pensão era razoável (sopa de puré de feijão, carapaus fritos com feijão frade e batatas com carne guisada). Tencionávamos lanchar no Restaurante Luso, mas estava  fechado por motivo de obras. Voltámos a pé para a cidade. A cidade lembra‑me Pointe Noire.  (...) (Diário III - pag. 13/14 - 1962.08.21) (...) Deixámos as malas na estação e fomos lanchar à pastelaria “Tic Tac” (onde há uma horrível pintura na parede) (Diário III - pag. 15 - 1962.08.22)
[3] - Caminhos de Ferro de Benguela

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 Uma viagem de avião - Luanda - Lisboa

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A viagem correu optimamente, excepto quando sobrevoámos Lisboa. Devemos ter apanhado alguns poços de ar e parecia que o estômago me saía pela boca. Em Kano [Nigéria] apanhei um bocado de frio. (...) Atravessámos montanhas, ou melhor, sobrevoámos montanhas cobertas de neve e o Deserto do Saara.  (...) A comida a bordo era para um pássaro. E paga um sujeito uns poucos de contos para isto.

No aeroporto estavam à minha espera a Bita, a Maria Luísa e a minha madrinha [Cristina Santos] (NSF - 1962.12.28)
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Uma viagem de avião - Lisboa - Luanda

 

O avião, o Super Constelation Infante D. Henrique, descolou [de Lisboa] à meia noite, com um atraso duns 15 minutos. ([1]) Foi neste avião que em Dezembro último vim para a Metrópole. Até Bissau, onde desembarcaram grande número de passageiros, o avião ia cheio. Não dormi mais dumas três horas. O barulho dos motores era ensurdecedor, mas depressa me habituei.
Deram um pequeno almoço antes da aterrisagem em Bissau. O aeroporto é simples, mas pelo que sei um dos melhores de África. Vi lá dois aparelhos de radar do exército. Estava calor.
Como já íamos atrasados não parámos em S. Tomé. Tive bastante pena de não ver o tio Jorge. A partir do meio dia a viagem tornou‑se deveras monótona. Conversava com o meu companheiro de viagem, um funcionário de Luanda, via a paisagem (só núvens ou mar) ou lia ("O Céu Não tem Favoritos", de Maria Remarque) É um pouco filosófico, mas não desgosto. Assisti ao nascer do sol, visto de 3 000 metros de altitude. É um espectáculo deslumbrante. Começa com um pequeno foco vermelho, que se alastra, como um grande incêndio (as minhas notas foram tomadas às 6 h 15 m de Lisboa). O céu até há pouco estrelado, mantém‑se escuro, talvez azul ou preto. Por fim todo o horizonte está vermelho e começam a distinguir‑se as núvens, num contra‑luz soberbo.
Chegámos a Luanda às 19 h 35 m (hora de Luanda). A cidade vista de cima é pouco iluminada. Mas de lado, parece um cintilar de pedras preciosas. Será um aspecto maravilhoso de Luanda que conservarei muito tempo. Um pôr do sol visto de avião também é um espectáculo agradável. (1963.11.24/26 - Diário III)




[1] - A primeira vez que andei de avião - avioneta - foi de Luanda para o Uíge, talvez em 1949. Dessa viagem recordo apenas um painel cheio de mostradores, o da cabine do piloto, com quem fiz toda a viagem, segundo a minha mãe. Gosto de viajar de avião, embora uma das viagens tivesse sido muito aborrecida, por alturas da guerra em Angola, quando os países africanos proibiram o sobrevoo dos respectivos territórios pelos aviões portugueses. Estes tinham de bordejar a costa africana. Salvo erro fizemos escala em Cabo Verde, de cujo aeroporto não podemos sair, fortemente guardado pelas forças militares. 19 horas de avião, sempre sentado, sem poder mexer, salvo nas idas ao WC, é obra!
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De Lisboa ao Porto

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Falando como o senhor de La Palisse diremos que de Lisboa ao Porto podemos ir utilizando variadíssimos meios de transporte: barco, avião, comboio, automóvel...
Ou, o que será uma grande estafa, pode ir-se caminhado pelo seu próprio pé, se escravos não houver para transportarem a liteira. E a verdade é que há quem o faça, em magotes mais ou menos alegres ou macerados, peregrinos a caminho de Fátima, pela berma da estrada, alguns de mochila às costas e bordão na mão, confluindo para um 13 de Maio a 13 de Outubro, datas das aparições da Senhora que tomou o nome da terra, embora tenha aparecido na Cova de Santa Iria.
A viagem de comboio é descrita mais adiante. De automóvel, leva umas horas, sem necessidade de fazer testamento prévio, como no tempo do meu avô Luís, que me dizia que a viagem duraria... cinco dias (e cinco noites). Indo de automóvel, houve tempo que se poderia ir alongadamente pela costa, ou combinadamente, ao longo do Tejo para norte, depois pelo interior, inflectindo quase lá em cima para o litoral até ao Porto. Era o tempo da Estrada Nacional nº 1, quando a autoestrada ia apenas até Vila Franca de Xira para quem rumasse ao Norte, ou até aos Carvalhos, para quem do Norte quisesse vir por aí abaixo. Pela costa ou pelo interior, ambos os caminhos rumavam a Coimbra, a meio caminho com alguma boa vontade.
A viagem era uma festa, uma canseira ou uma sensaboria. Dependia do clima ou do tempo disponível. Passava‑se pelo interior das povoações, parava-se para meter gasolina, para comer ou devido aos engarrafamentos provocados pela estreiteza das vias, pelas carroças puxadas por animais ou devido a qualquer acidente rodoviário. Se tempo houvesse era mais demorada a paragem nas povoações ou pelo caminho para admirar a paisagem ou para pequenos desvios.
A chegada a Santa Apolónia era precedida pela lezíria, por vezes inundada, pelo rio Tejo aqui ou ali entrevisto, até começar a paisagem industrializada e desgraciosa desde Vila Franca de Xira, e zona oriental de Lisboa, com o seu emaranhado de linhas férreas. Em Vila Franca de Xira a ponte deixou de ter portagem para quem a atravessasse, mas nem os ventos do 25 de Abril lhe mudaram o nome como à de Lisboa. Esta deixou de ser de Salazar, mas aquela continuou a ser do Marechal Carmona!
Mas a caminho do Norte, Alenquer era uma visão agradável, as casas pela encosta acima como se fora uma cascata, à noite iluminada e, no Natal, com gigantesco presépio cheio de luz. Depois acabava a planície e lá se andava às curvas e contracurvas ou no sobe e desce das serras de Montejunto e de Candeeiros. Passava-se por Rio Maior, mais tarde conhecida como a capital da contra-revolução, com a célebre moca para espancar os comunistasAqui começa Portugal, isto é, acrescento, para quem fosse para Norte, porque para quem demandasse o Sul ali... acabaria Portugal e começariam a moirama e os infiéis. Mas rumando a Norte, a curiosidade era desperta pela Venda das Raparigas, pouco antes de Alcobaça ou da Batalha, pontos de breve paragem e visita se tempo ou inclinação para isso houvesse. e as placas de sinalização pichadas com
Mas a paciência perdia‑se de vez em Leiria, sempre uma estafa para atravessar, o trânsito condicionado pela estreiteza da ponte sobre o rio Lis quando não agravada por ser hora de ponta. Um breve relance ao castelo com a sua varanda de arcos ogivais, lá em cima, e ala que se vai fazendo tarde. Ao lado da estrada o castelo de Pombal chamava a nossa atenção, altaneiro no cume do monte, mas Conimbriga merecia mais um desvio e uma paragem para admirar as ruínas da velha cidade romana mais as muralhas que ainda existiam e o jardim dos repuxos.
Após Condeixa, finalmente Coimbra, reconhecível ao longe pela Torre da Universidade, lá no cimo, no local onde noutras terras está o castelo. Na Mealhada havia sempre muitos camiões e automóveis parados, para que os seus ocupantes comessem e bebessem nos restaurantes à beira da estrada, que não se pode impunemente andar com a garganta seca ou a barriga a dar horas. Seguiam‑se Malaposta (do tempo das diligências), Águeda, Albergaria‑a‑Velha, Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira (que alívio, estamos quase a chegar!), Picôto e - finalmente - a então mini auto-estrada, cinco km dos Carvalhos à capital do Norte, onde se entrava atravessando a elegante ponte da Arrábida sob o rio Douro, sempre cheio de água mas sem ser o mar espelhado do enorme estuário do rio Tejo, com a ponte metálica de D. Luís para montante, que desde o século XIX une Gaia ao Porto, graças ao Engenheiro Gustave Eiffel.
Hoje a viagem faz‑se por auto‑estrada e o que se ganhou em comodidade e rapidez nem sempre compensa a monotonia e o passar ao largo destas povoações, afastadas porque para elas aceder é necessário procurar um acesso e por vezes andar muitos km pela estrada velha, para norte ou para sul. (Memórias de Viagem, 1997.11.16)


 

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Viajando pela linha do Norte

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Às 8:30 tomámos o rápido da linha do Norte. Caía uma chuva miúdinha e no céu via-se um lindo arco‑íris. Matabichámos no bar da estação de Santa Apolónia, em, Lisboa, que é original, com motivos do caminho de ferro.
À saída de Lisboa passámos por um aeródromo militar. Monte Real era sobrevoada por aviões a jacto, da Base Aérea 5. A primeira paragem foi em Santarém. As cadeiras da automotora são mais espaçosas que as do rápido. Às 9:40 chegámos ao Entroncamento , a terra dos fenómenos. Ia tão entretido a ler que, entre Fátima e Pombal, passámos por um túnel sem eu dar por isso.
Antes de Pombal passámos por um outro que estava em obras. Nesta altura chovia. Às 11:10 chegámos a Alfarelos e pouco depois à estação de Coimbra B. O rio Mondego estava quase seco - e é um rio importante do continente! Passámos por Pampilhosa da Serra (11:43), Cúria (11:50), Aveiro (12:18), Estarreja, Ovar, Espinho, Granja (13:05), Vila Nova de Gaia (13:25), Campanhã e S. Bento (13:50). Na nossa carruagem seguiam 4 indianos que deveriam ter saído em Coimbra, mas por ignorância (passaram lá sem saber) não o fizeram e resolveram seguir até ao Porto. Muitas das estações do percurso tinham bonitos jardins. (1963.09.11 - Diário III)
No comboio, a caminho de Lisboa, pedi a um dos meus companheiros de viagem que me emprestasse as "Modas e Bordados" para folhear, pausa na conversa que mantínhamos desde o Porto. Agora o dia está maravilhoso e cheio de sol. (No Porto chovia a cântaros) Há já um bom bocado que deixámos Coimbra. O comboio desliza rápido, tac-tac, tac-tac. deixando para trás campos verdejantes, olivais e vinhedos, pinhais, alguns deles alagados, e casas dispersas na paisagem. Os meus vizinhos de compartimento dormitam, enquanto a sineta toca para o almoço. Daqui a uma hora chegaremos a Lisboa. (...) Os companheiros de viagem: a sra. D. Alice, ar aristocrático, minha velha conhecida do Porto, cheia de vivacidade, apesar da idade, rosto quadrado, sanguínea. O outro, desconhecido, deve ser um homem ligado à actividade comercial, pelo modo como veste e pelos apetrechos: óculos e lapiseira no bolso do lenço no casaco, pasta. Veste com pouca elegância, fato de um tecido acastanhado mesclado de azul e vermelho, colete cinzento de malha, gravata preta com duas listas - uma encarnada e amarela, estreita, outra mais larga, verde, junto ao nó. Sapatos castanhos, mal engraxados. Afinal a pasta continha um farnel embrulhado num guardanapo dentro dum saquito de plástico, que ele come, e que me ofereceu. (Isto faz‑me lembrar que tenho de ir ao bar comer uma sandes.
A D. Alice, o [jornal] "O 1º de Janeiro" nos joelhos, dormita, a cabeça apoiada na mão. Queixa‑se do frio, mas aqui para nós ainda bem que desligaram o aquecimento, pois isto já era um forno.
 Chegamos ao Entroncamento são 12:40. Por causa das obras na linha, penso eu, o comboio vem atrasado. As casas, blocos uniformes, regularmente monótonos, as linhas, cruzando‑se e divergindo, cheias de carruagens, vagões e locomotivas, são uma nota diferente na paisagem, que desde há uns bons quilómetros é mais árida que no princípio da viagem. A linha férrea é uma ponte nos campos alagados, com água barrenta, levemente ondulada. Solitariamente, pequenas ilhas, renques de árvores de ramos desfolhados, cujos nomes desconheço. Já não se vêm no entanto árvores cortadas e oliveiras deitadas no solo, raízes desentranhadas pela força dos ventos, que no Porto e nos últimos dias sibilaram noites seguidas, infiltrando‑se pelas frestas das portas e janelas. Gostaria de andar num barquito por esses campos alagados. (NOT - s/data 1972/73 ?)
A viagem decorreu bem, embora maçadora. No compartimento, além de mim, viajavam dois rapazes sisudos e calados e uma rapariga, que não tinha culpa de ser feiosa e fortezita! Ia mesmo sentada à minha frente mas, contra o meu costume, não trocámos uma única palavra. Pensando bem, ela não era tão feiosa como isso, até tinha uns lindos olhos azuis e um sorriso bonito. Só sorriu uma vez, quando eu, com um ar muito circunspecto, fingia admirar a paisagem; eis senão quando aparece um malandro dum comboio, sem avisar, às apitadelas, que me fez dar um salto na poltrona. A muito custo lá consegui assumir um ar de dignidade ofendida, embora a vontade de rir fosse grande. Bem, lá chegámos a Lisboa, onde chovia a potes. Táxis, nem sombra; os que apareciam eram logo anexados. Mas... enquanto há vida há esperança e sempre apanhei um! (ASB - 1968.04.19)
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Paquete Mouzinho de Albuquerque, em que viajei de Luanda a Lisboa em 1949
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