domingo, 9 de setembro de 2007

Ao (es)correr da pena e do olhar (8)

* Victor Nogueira
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Esta série proveio de Ao (es)correr da pena e do olhar (7)
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Está um bonito dia de sol e bem se pode dizer que o Verão de S.Martinho chegou, tarde, mas chegou. Como sempre o meu gabinete está superlotado, com mais quatro jovens do OTJ espalhados pela secretária à minha frente e pelo estirador à minha direita. Uns conversam, outros lêm o jornal, outros olham simplesmente para ontem. Hoje não há rádio. Um novo ocupante chegou, o A. que anda a curtir uma paixão por uma moça, sujeitando-se às brincadeiras dos restantes OTJ, designadamente da V.
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Estão aí os homens dos CTT para colocar um posto suplementar no meu gabinete, finalmente. Tenho que fazer mas o desassossego desta sala superlotada não é muito propício à elaboração do relatório das minhas actividades aqui na chafarica, para além doutros trabalhos periféricos.
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Olho pela janela e um rebanho de ovelhas vai ali pela placa central da avenida, por entre a lataria dos automóveis, vestígio do tempo em que esta era uma zona rural, como testemunham o olival além atrás e os nomes das ruas do Bairro da Belavista. De repente aumenta o movimento automóvel e apercebo-me que é meio dia e trinta e que vão sendo horas de abalada, pois vou almoçar á Baixa, para debater algumas questões político-partidárias.(....)
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Setúbal, 1986.12.03

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Que coisa curiosa o rebanho a passar pelo meio da cidade...
Apesar de achar perigoso, vem-me um calorzinho gostoso ao peito, como se o campo todo invadisse a cidade e lhe conseguisse pintar paisagens de Amor, humanizando-a!


Maria Mamede