* Victor Nogueira
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No livro que estou lendo e a que já fiz referência em post anterior (1) relativo à correspondência entre Salazar e Caetano, verifica-se que Marcelo é uma pessoa impulsiva e braço direito de Salazar, estando eu numa fase em que mutuamente metem "cunhas" um ao outro. Mas na correspondência quase nada se refere a não ser acidentalmente (e a correspondência é uma selecção do organizador) à sucessão de Salazar a Carmona ou do terramoto que foi a candidatura de Humberto Delgado. Após a II Guerra Mundial Salazar opta por manter a ficção dum Portugal Uno do Minho a Timor, enquanto Caetano é adepto vencido duma Federação de Estados, ideia que tentaria retomar em 1969 mas que Américo Tomás logo cortou cerce. Ideia que Spínola retomará na sua obra "Portugal e o Futuro", em 1973.
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Mas enquanto Caetano se desdobra em actividades, Salazar é mais contido. Num aspecto ambos estão de acordo: a fraqueza da esmagadora maioria dos quadros da União Nacional e a divergência quanto ao Corporativismo, que Caetano levará sempre a peito e que para Salazar pouco significava, o que levou à separação de ambos. Outro aspecto interessante é o das consultas mútuas, em círculo aparentemente quase fechado, para preencher os lugares de Procuradores à Câmara Corporativa, face à aridez de quadros, bem como de outros organismos. Ambos consultam-se mutuamente, o que prova que eram eles o esteio do regime e das escolhas dentre a quase geral pobreza franciscana do regime.
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Num mundo mediático como o de hoje, nenhum deles a meu ver teria grande futuro - Salazar tinha presença física mas voz esganiçada e Caetano, tendo voz e geito para "teatro", não cuidava da sua imagem. Revendo hoje as conversas em família verifica-se que lhe faltava um consultor de imagem, o que aliás naquele tempo não era necessário pois não havia espaço para uma oposição organizada e à luz do dia.
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Daí que sejam insólitas as suas alegrias pelos resultados "eleitorais" e os elogios de Salazar aos por ele considerados "excelentes" discursos de Caetano, quer enquanto dirigente da União Nacional, que este considerava um mero local de intrigas e cunhas provincianas, quer enquanto Presidente da Câmara Corporativa dum corporativismo que nunca funcionou nem funcionaria sem a repressão ou apesar dela!
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(1) - A bolsa ou o bolso bolsam?
Ver no Galeria & Photomaton
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