domingo, 5 de dezembro de 2010

O Trono e a Presidência da República

.

* Victor Nogueira
.
.
Cavaco continua com as suas jogadas para fugir ao debate e ao confronto de ideias em "confrontos" televisivos. Como vem sendo hábito, deve querer aproveitar o cargo que ainda exerce para à conta do Estado fazer a sua campanha, pois nem sempre há fatias de bolo rei à mão para enfiar na boca perante perguntas incómodas. Agora, diz que quer um acordo assinado por todas as candidaturas para serem tratadas em pé de igualdade. Depois de Sócrates, sai-nos em rifa outro "inteligente". Para logo de seguida adiantar que a recolha de assinaturas proponentes está atrasada e que não começa os debates antes do início da campanha eleitoral, marcada para 23 de Dezembro, isto depois de alegar que o tempo de campanha era escasso para tanto debate! Temos Homem, temos Democrata dos  quatro costados !
.
Há 35 anos morreram num acidente de aviação Sá Carneiro/PPD/PSD e Amaro da Costa CDS/PP. Depois de Freitas do Amaral chegou a vez de Ribeiro e Castro do CDS/PP  pedir também uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito alegando que a vítima seria não Sá Carneiro mas Amaro da Costa devido a uns hipotéticos negócios fraudulentos das Forças Armadas da altura, apesar do actual nebuloso processo de aquisição de submarinos por Paulo Portas CDS/PP em tempos mais recentes.
.
Sucedem-se os livros sobre Sá Carneiro, falecido a 4 de Dezembro,  apresentado como um génio político, enquanto o Publico de ontem traz incontáveis páginas acerca dele e de Adelino Amaro da Costa. Resumindo, na história do século XX segundo os comentadores, figurarão duas estrelas: Sá Carneiro e Mário Soares. Já nem Salazar ou Álvaro Cunhal são considerados e ainda menos Vasco Gonçalves ou Costa Gomes. Talvez Spínola, em apêndice ou nota de roda-pé. Mas de relevante reconhece-se aquilo que já  se sabia: Sá Carneiro teria preferido uma transição democrática à Espanhola e não o tendo conseguido, pretendia fazer o Três em Um com a eleição de Soares Carneiro como Presidente da República (uma  escolha errada para dois "génios" como Carneiro e Costa), e referendar uma nova Constituição, enfiando o que restava do MFA nos  quartéis, Constituição essa que seria liberta de toda a tralha "revolucionária" à qual se deveria o atraso de Portugal,  os anos perdidos, sobretudo no ano da brasa de 1975, depois do falhanço de Spínola no 11 de Março de 75 após o de 28 de Setembro do ano anterior. Enfim, análises que pouco valem, pois a transição democrática espanhola com a entronização de Juan Carlos no Trono pela graça de Franco não evitou que a Espanha tenha a sua economia em fanicos apesar da sua democracia formal e sem "excessos" revolucionários.
.
Notícia de hoje na imprensa dá conta dum programa informático para uma contabilidade paralela de 80 a 90 % dos restaurantes portugueses que lhes teria permitido subtrair ao Estado qualquer coisa como 12 milhões de Euros. Mas o procedimento criminal será encerrado caso reponham as verbas "furtadas". Com ou sem contabilidades paralelas, o sector da restauração e das pequenas e médias empresas incluindo o comércio está  à beira da falência acelerada, pela diminuição do poder de compra dos trabalhadores e reformados e pelo aumento do desemprego e da precariedade. Mais flexibilidade nos vínculos contratuais, exige a União Europeia. Menos Nacional de Saúde, defende de facto o PS de Cavaco/Passos Coelho, na sua enésima proposta de revisão constitucional, na qual deverá constar a possibilidade de restauração da Monarquia, cujos méritos o senhor Duarte Pio candidato ao cadeirão real vem defender no 1º de Dezembro, mostrando a sua crassa ignorância da história e dos seus antepassados, acusando a República de falta de legitimidade ... por não ter sido sufragada pelo voto popular. Mas ... alguma vez a Monarquia o foi?
.
Em 1383/85 , em 1580 e em 1640 a alta nobreza tomaram o partido de Castela, onde o futuro D. João IV vivia refasteladamente. E se a Casa de Bragança subiu ao trono foi porque o partido popular de D. António Prior do Crato foi derrotado em Alcântara. E se o senhor Duarte Pio é candidato contestado ao trono embora reconhecido pelo Governo Português,  é porque D. Manuel II, descendente do liberal e constitucional D. Pedro IV, morreu sem descendência, E assim surge a candidatura do senhor Duarte Pio, descendente do caceteiro absolutista D. Miguel, derrotado e exilado.
.
.

Sem comentários: