segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Do Reyno do Algarve

* Victor Nogueira
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1. Quem sabe muito do Algarve é o meu amigo virtual Ludovicus do Momentos e Documentos. Mas atendendo às reclamações da «tia» de Cascais que aos sete anos marchou para o Algarve onde se tranformou em «moura encantada», vou tentar falar sobre o Algarve. Como sabem os mouros primeiro subiram por aí acima levando os bárbaros cristãos de roldão, mas depois tiveram que descer civilizadamente, apesar da barbárie dos Cruzados e das «tropas» portuguesas. Naquilo que veio a ser Portugal, a páginas tantas os árabes começaram a guerrear-se entre si, aliando-se por vezes aos cristãos, para vencerem os seus irmãos de religião. Bondosamente os cristãos arrasaram quase tudo o que lhes lembrasse o Islão e os àrabes, que acabaram por ser expulsos de Portugal conjuntamente com os judeus, pelo cristianíssimo D. Manuel I nas várias alianças entre Castela e Portugal, a ver quem ficava com toda a Península Ibérica. Na Espanha resistiram mais uns séculos, mas agora estão a regressar, em barcos sem condições e procurando passar desapercebidos, quando não morrem em naufrágio.
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Voltando ao Algarve, que já fez parte daquele longo título dos Reis de Portugal e dos Algarves, d'aquem e d'alem mar .... blá, blá, este está separado do Alentejo por várias cordilheiras de montanhas ou serra, que antes da construção da Auto-estrada nos obrigava a penar em infindas e seguidas curvas e contracurvas em estreita estrada e com o consequente e permanente conflito de quem conduzia calmamente com o coração nas mãos e de quem acelerava e fazia as curvas todas a direito. Mas com a auto-estrada, agora é um ver se te avias!
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A primeira vez que fui ao Algarve foi em 1986 porque os meus amigos Manuel e a Anabela entenderam que eu precisava de apoio moral porque acabara de me divorciar. E assim lá marchamos todos com os filhotes à ilharga, o Manuel largado a fazer as curvas a direito e eu nas calmarias a ver se a curva não se transformava por distração numa contracurva, entrando eu por qualquer árvore a dentro. Pelo que fizemos uma combinação: o filho mais novo dele mudou para o meu Renault 5, assumindo o papel de navegador.
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E assim o Manuel arrancou na mecha e eu continuei nas calmarias e nas curvas e contracurvas, até à Praia da Luz em Lagos, onde fiquei a saber que o Infante D. Henrique tinha um mercado, que ainda existe (agora Galeria de Arte), onde se vendiam escravos, e o D. Sebastião uma estátua do Cutileiro em que mais parece um motard do que um guerrreiro, embora me agrade francamente.
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É como cá em Setúbal, só há um monumento digno de nota, o monumento às nacionalizações oferecido pelos operários salvo erro da Setenave, mas estou em minoria. O que me consola é que o ilustre conservador do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, historiador de arte, tem opinião idêntica à minha. Ao Bocage puseram-no em cima dum palito e à Luísa Todi só lhe deixaram a cabeça em cima dum murete. Ao desgraçado do Sá Carneiro também fizeram o mesmo que no Areeiro em Lisboa: cortaram-lhe a cabeça e pespegaram-na pendurada num bloco de pedra. Felizmente alguém teve o bom senso de retirar aquilo da vista do pessoal. Outro monumento horrível em Setúbal é ao 25 de Abril. Mal por mal, antes o erotismo do Cutileiro no cimo do Parque Eduardo VII em Lisboa.
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Bem, mas deixemos estas divagações e regressemos ao antigo Reyno dos Algarves.
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Corremos as praias todas de Lagos a S. Vicente e aquilo era um gelo e um vento agrestes que me faziam lembrar as praias do Norte. Quem terá sido o doido varrido que disse maravilhas das praias do Algarve? Para os «contenentais», o frio e o vento agreste não os fazem sentir fora de «casa». é quase como se estivessem no Norte. Agora um homem nado e criado nos trópicos, em Luanda, aquilo, no que respeita às praias, era e é uma autêntica Sibéria, tal como sucede em Setúbal.
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Como o Manuel é advogado, num dos dias teve de ir ao Tribunal de Faro por causa dum processo e então foi o meu desencanto completo. Era igualzinho às viagens para o Porto quando a autoestrada do Norte acabava em Vila Franca de Xira e recomeçava a 5 (cinco) km do Porto, numa terra cujo nome me não ocorre mas começava por C. Seria Carvalhos? Olhem, não me recordo.
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Pois aquela viagem para Faro pela EN nº qualquer coisa foi um tormento de pára/arranca sem possibilidade de ultrapassagens, Pelo que, tendo saído cedo de Lagos, ainda assim conseguimos chegar a tempo a Faro, onde dei uma pequena volta a pé.
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Ah! Outra «curiosidade». Atravessava-se Portimão e lá de baixo vinham núvens de fumo e de perfume da sardinha assada, que me fez lamentar não me ter precavido com uma máscara anti-gases tóxicos. E então nos restaurantes? Mal abríamos a boca para falar em português olhavam-nos com desprezo, sendo todos mesuras para os «bifes».
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No ano seguinte ficámos acampados em Aljezur, onde a confusão era menor e não havia «bifes». Gostei muito mais de Aljezur embora a água fosse fria e onde se ouvia à boite o contínuo e regular som do marulhar das ondas desfazendo-se na areia da praia.
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2. Passaram-se muitos anos sem que voltasse ao Algarve. Frio por frio, vento gélido por vento gélido, antes a casa de Verão do meu avô materno no Mindelo (Vila do Conde) que a minha mãe herdara e sempre havia mais terras para conhecer e visitar, nos 50 km em redor. Além disso o comboio suburbano (agora metro de superfície) fica a 100 metros e num instante se está em várias zonas do Porto, incluindo a chamada «avenida do bacalhau»
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Até que em 2 mil e troca o passo voltei duas vezes ao Algarve. Da primeira vez fiquei num hotel apartamento em Portimão (Praia da Rocha) e da segunda num aldeamento turístico nos arredores de Tavira. Dizem-me que para esses lados a água é mais quente, mas eu ia com a missão de conhecer o Algarve, especialmente vestígios dos árabes, e assim destas duas vezes percorri à minha vontade e ritmo, de lés a lés, graças à via do infante, onde na altura não se pagavam portagens.
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E foi assim que descobri três Algarves: o de Albufeira até S. Vicente, completamente descaracterizado, o de Albufeita a Castro Marim, ainda com um aspecto humanizado, e a Serra Algarvia, que muita gente desconhece. Fiquei simplesmente apaixonado por Silves, Tavira, Castro Marim e Alcoutim, sem falar na Serra. Não fosse o Algarve uma região com um alto risco de ocorrência de sismos, aliás como Lisboa e Setúbal, e ainda iria acabar os meus dias em Tavira.
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Claro que tenho montes de fotos não digitalizadas, mas outro aspecto que me encantou foi o «floreado» das platibandas e os desenhos nas chaminés. Casas com platibandas «floreadas», «trabalhadas», subsistem apenas duas em Setúbal, uma na Avenida dos Combatentes, outra na Avenida 5 de Outubro. Para além duma chaminé salvo erro quinhentista, na Avenida Luísa Todi, que tem por detrás a Travessa do Feijão. Mas escusam de ir lá em busca de feijão ou qualquer outro alimento, seja em travessa ou não
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Afinal o texto não me saíu humorístico, não sei se devido ao adiantado da hora, se devido ao cansaço. E prontos, «tia» de Cascais transformada em moura encantada, não voltes a dizer que sou mau para ti.
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No Kant_O encontram dois textos sobre a presença árabe em Portugal e sua herança:
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- Silves no contexto poético do Ândalus (03-o3-2007)
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- OS MUÇULMANOS NA PENÍNSULA IBÉRICA (16-01-2007 )
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Encontram-nos facilmente se clicarem no marcador «Islão»

4 comentários:

De Amor e de Terra disse...

Olá Victor, boa tarde!
Gostei muito de fazer estas viagens contigo!
Creio que a descrição , saiu desta forma por ser feita "a pedido" da "tia"!!!
Creio que já te conheço um pouco e, a meu ver,a tua veia normalmente segue outros rumos.
e agora falando de temperatura... é bem verdade que cá para o Norte a água é bem mais fria; contudo há quem goste, felizmente!

Um abraço

Maria Mamede

Anónimo disse...

é assim meu amigo victor. obrigado por mais esta viagem alucinante pelo algarve. mas nao percebi esse frio todo k aki tiveste foi de inverno nè? mas te digo k te falta conhecer as prais lindas k há aki no algarve ,mas não pa portimão etc pa aí sim a agua é mais gelada. eu nao me recordo se tu leste o meu poema sobre a ilha d farol e seconheces ,mas se nao coonhes te convido a conhecer. depois de faro fica olhão certo? estacionas o carro ao pé da ria formosa e por acaso agora até tão a construir aí um hotel k é do figo e apanhas o barco para a ilha do farol aí vais mergulhar numa agua quentinha e maravilhosa . eu tenho casa em 2 praias uma k faz seguimento com a costa do farol e aí ainda ´e melhor pq a costa é mesmo uma ilha pq nao vai aí ninguem e tens a agua quentinha e a outra casa é em monte gordo,onde o ano passado e em setembro passei lá uns dias maravilhosos e onde ás 9 da manha a agua já tava quentinha. mas as melhores praias ainda é a do cabeço,falésia,ilha da fuseta,tambem tavira e mais algumas k agora derivado á hora tmb já nao me recordo. e kuanto ao cheiro da sardinha assada é uma maravilha,ainda hoje em olhao onde o meu pai nasceu temos lá a casa k era dos meus avós e na rua debaixo do alpendere k bom k foi comer umas sardinhas assadas ao almoço é uma maravilha . kuanto á história das mouras reis etc nao percebo muito kem sabe disso tudo é o meu pai e olhao têm uma historia muito gira e por isso se chama olhão. eu dei isso tudo na escola,mas não era boa aluna a historia se bem k agora adoro e gosto de saber tudo. se keres saber mais sobre historia do algarve tmb têns de ir a Estoi e ao palacio k lá há. eu tmb me lembro dessas viagens por essa estrada com curvas e só curvas ,mas era pequena. eu tenho casa perto de viseu e em setembro ia sempre pra lá passar as ferias. kuando vieres ao algarve nao te esqueças de visitar a ilha do farol e vai ver o poema no meu blog e nao te esqueças k a agua quentinha tá aki mais para baixo e nao em portimao,silves,lagos etc.
kuanto ao te lembrares de mim e de falares sobre o algarve só tenho a agradecer . e tás a vêr como eu deixo comentario k nunca mais acaba?
bjo
carla granja.
obrigado. um dia deste eu te conto mais coisas novas.

José Lopes disse...

Uma viagem agradável, com lembranças do passado numa terra onde já não há mouras encantadas, mas onde ainda nos podemos encantar nos lugares menos badalados.
Cumps

Anónimo disse...

Esta semana estive pela primeira vez no Algarve. Fiquei fascinada com Silves :)