quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A súbita riqueza dos camponeses pobres

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* Victor Nogueira
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Com uma assistência relativamente reduzida foi projectada na 4ª feira passada o filme "A Súbita Riqueza dos Pobres Camponeses", narrando as relações de poderio político e religioso exercido sobre os camponeses que cometem um assalto a um carro transportando o produto de impostos e as consequências que advêm para os autores de tal assalto, quando descobertos pela justiça: a pena capital, após o arrependimento e remorsos de todos salvo um, que afirma querer morrer como um homem, apesar de todas as pressões que sobre ele se exercem. (Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Boletim 1973.Abril)

É como o filme de que se falava no último boletim do Núcleo Juvenil de Cinema: "A Súbita Riqueza dos Camponeses Pobres ". Os tipos assaltaram a carroça dos impostos extorquidos pelo Príncipe para o faustoso casamento da princesa. Os camponeses eram pobres e não podiam pagar impostos?! E então, a princesa deixaria de casar se faustosamente, como convinha á sua condição? Lá estava o juiz inteligente, que descobre os "miseráveis" assaltantes, que alguns até se denunciam para ver se salvam a pele! Que a vida, apesar de tudo, é a única certeza. Mesmo que miserável! E exigem as autoridades e os padres o arrependimento público de todos - condenados á morte para não morrerem de fome - E aqui, o realizador deste filme, propõe outra leitura crítica da realidade, pela boca de um dos padres: desde Lutero, a religião está ligada ao poder civil, é o seu sustentáculo. [Por oportunismo dos príncipes alemães, Lutero teria proclamado aquilo que desde Constantino a Igreja Católica tem como princípio de actuação. ] É pois necessário que os criminosos sejam castigados, para sossego dos "príncipes" e aquietação dos que - justamente ou não - tenham a veleidade de querer perturbá-lo]. (MCG - 1973.04.16)

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NOTA - O Centro de Estudos e Animação Cultural, sediado na Figueira da Foz, tinha vários núcleos de cinema espalhados pelo país, onde eram projectados filmes seleccionados. Apósa sua projecção o animador (um Padre da Figueira da Foz) provocava a interpretação e o significado do filme, quer quanto ao seu conteúdo e objectivo, quer quantos aos aspectos relacionados com oo significado das imagens, ensinando assim a não fazer uma leitura linear dum filme e, por extensão, da sociedade. O CEAC enviava para cada núcleo material informativo para localmente ser elaborado um boletim local, distribuido na sessão, para servir de introdução ao debate. Os debates eram animados e por vezes controversos, essencialmente constituídos por estudantes, muitos do ISESE.

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Em Luanda fora sócio do Cine Clube Infantil de Luanda, depois ascendi ao Cine-Clube de Luanda e em Lisboa fui sócio do Cine Clube Universitário de Lisboa. Em Évora não havia qualquer Cine-Clube, apenas estas sessões ou cursos culturais dados por professores do Liceu, passeios histórico culturais organizados pelo Túlio Espanca ou sessões culturais isoladas organizadas pela Sociedade Operária e Recreativa Joaquim António de Aguiar.

Victor Nogueira

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Muito interessante isso, a que nunca tive acesso..


Obrigada pela partilha


Maria Mamede