sábado, 25 de agosto de 2007

Um actor - Jerry Lewis

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* Victor Nogueira

O Cine Clube Universitário de Lisboa exibiu o filme "Jerry 8 3/4, ao contrário do que pensava, não era paródia ao "Felini 8 1/2"; mais uma das habilidadezinhas dos distribuidores portugueses.

O "8 3/4" conta nos a historieta dum grupo de "técnicos" dum célebre actor recém falecido que pretendem transformar um desajeitado mandarete num digno sucessor. Apesar de toda a sua boa vontade, o rapazinho "resiste" heroicamente pois é uma nulidade. No fim, quando a equipa, desiludida, o abandona, ele consegue transformar o espectáculo num retumbante sucesso e faz as pazes com a equipa arrependida e que não era interesseira, não senhor. !

Não pretendo discutir se o Jerry Lewis é ou não um génio digno de enfileirar com um Keaton, os Marx ou um Laurel. De resto, dos "clássicos" apenas conheço Chaplin. Mas nos filmes de Jerry (Enfermeiro Sem Diploma ... No Japão e nas Noites Loucas do Dr.Jerryl) o personagem principal, o herói da fita, é um pobre diabo, sedento de afecto, desajeitado e sempre metido em alhadas. Eu diria que é um herói caricatural. Faz-nos rir, mas não é um rir desopilante. A sensação que se apodera de mim é de constrangimento agravado pelo riso.

Em "As Noites Loucas do Dr. Jerryl" o herói é um professor ambicionando ser outro, mas que acaba por conseguir o amor da rapariga por ser desajeitado, horrendo mesmo, mas humano, e não por ser o desempenado e cínico D.Juan. Em "The Patsy" (Jerry 8 3/4) ele torna se um grande cómico quando é ele mesmo, sincero e honesto, e quando esquece os ensinamentos da equipa técnica, ensinamentos esses que tinham tornado célebre o falecido actor. Talvez que a mensagem dos seus filmes, a existir, seja mesmo esta: a aceitação de nós mesmos, tal como somos, perante um mundo incompreensivo; o mundo, se não todas as pessoas que nele vivem.

Creio no entanto que esta mensagem é transmitida grosseiramente, duma maneira "pesada" e, como atrás disse, indispondo nos. Um ser normal não pode sentir se à vontade, não pode rir se dos defeitos [deficiências] do próximo.

Um outro aspecto, este técnico, que me chocou, foi o mau gosto das cores. Não pretendo que todos os filmes sejam bonitinhos, verdadeiros tratados de combinação de cores como, por exemplo, "Um Homem e Uma Mulher", de Lelouch ou "Os Chapéus de Chuva de Cherburgo". Mas aquele encarnado das camisas, dos tapetes e cortinados e dos vestidos, tudo aquilo despropositado e chocante, sim, qual a finalidade? Se para aumentar o desconforto dos espectadores, então conseguiram no comigo. (APC - 1968.03.18)

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Sempre fui um bocado estranha em certas coisas..e uma delas é no riso. Não que não ria com facilidade, nada disso; são mais propensa ao riso que ao choro (e digo choro, não emoção!)
mas durante toda a vida houve filmes que em vez de me fazerem rir, me davam "pena" no sentido tristeza, tal como alguns palhaços...
E os do Jerry, são desse tipo.

Bj.

Maria Mamede