sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Aparências

* Victor Nogueira
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Se me ficasse apenas pela aparência do que os meus olhos vêm, a neblina e o cinzento que envolvem a cidade prenunciariam um dia frio, de chuva miúdinha. Mas o suor goticular que permanece à flor da pele sem que se evapore indica que o resto do dia, para além de nublado, será quente e húmido; uma boa chuvada seguramente que refrescaria o tempo e afastaria este pesado chumbo que me envolve, que em Luanda, na estação quente, prenunciaria grandes e violentas bátegas de água quando não relampejantes e ensurdecedoras trovoadas. Mas este é um país de brandos costumes, de pequenas tempestades, de meias águas e de meias tintas. E depois nem sequer há os quilómetros de areia de praias para mergulhar como na minha terra perdida. Como se não bastassem os ajuntamentos, as praias da costa da Arrábida estão na sua maioria impróprias para consumo devido ao grau de poluição. De modo que ao fim do dia, após o emprego, resta apenas a água fresca do chuveiro. (MMA - 94.06.15)

2 comentários:

De Amor e de Terra disse...

Somos verdadeiramente um País de brandos costumes, no que isso tem de mau e de bom (acho eu)!
Se por um lado poderá ser(por vezes) nefasta esta palavra "brandos" e seu significado, por outro pode ser de muita beleza, não só a palavra, como muitos sentimentos que ela pode descrever...
Morno, suave, aguarela, amanhecer, pôr do sol, amizade, amor sereno...
tanta coisa que brando pode dizer-nos de bom!!!
Valha-nos então a água do chuveiro a afastar "más ondas!"...

Abraço

Maria Mamede

redonda disse...

Gosto de como escreves.