* Victor Nogueira
.O menor denominador comum no Movimento das forças Armadas consubstanciava-se numa única letra: os três D's - Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. E cada uma destas palavras tem conteúdos e leituras diferentes. Ignorando os apelos do Posto de Comando das Forças Armadas o povo saíu à rua contrariando os desígnios de Marcelo Caetano e de Spínola: durante ano e meio o Poder esteve na Rua, até 25 de Novembro de 1975.
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Se no ano anterior a maioria dos membros da Junta de Salvação Nacional aparecia nos ecrãs da RTP com um ar sombrio e patibular, contrastando com a alegria nas ruas, em 25 de Novembro o «herói» era um general sisudo, de enormes patilhas e óculos escuros. E para «restaurar» a democracia foi declarado o estado de sítio na Região da Grande Lisboa e silenciados durante três dias os órgãos de comunicação social.
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Hoje ninguém comemora o 25 de Novembro (1) e o 25 de Abril assemelha-se cada vez mais a um 5 de Outubro (de 1910). Claro que o 25 de Novembro foi antecedido de rocambolescas «aventuras», desde a insólita entrada em greve do VI Governo Provisório «presidida» pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, até à fuga para o Norte dos dirigentes dos partidos «súciais», donde pretendiam «marchar» conta aquilo que chamavam »a Comuna de Lisboa» e dando pretexto a uma intervenção da NATO. Isto para não falar na «debandada» do brigadeiro graduado Otelo, comandante do COPCON, que foi para casa dormir placidamente. O homenzito, como se revelou, catavento ao sabor do vento e da maré, apoiava todas as ocupações de casas e de terras, a Sul de Rio Maior, enquanto desobedecias às ordens para repor a legalidade democrática a Norte de Rio Maior, onde os comunistas e outras forças progressistas eram perseguidos e ameaçados debaixo do tanger dos sinos das igrejas enquanto as suas sedes saqueadas e incendiadas.
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E o plano só não teve êxito porque a ele se opuseram o então Presidente da República, General Costa Gomes, e o recém nomeado Comandante da Região Militar de Lisboa, General graduado Vasco Lourenço.
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É usual nesta data, 25 de Novembro, mas não só, afirmar que deste modo se impediu que o Partido Comunista Português instaurasse uma nova ditadura em Portugal, a soldo da URSS. Ora o próprio General Costa Gomes refere as inúmeras pressões dos EUA para que o PCP fosse afastado dos Governos Provisórios (uma clara ingerência «esquecida» pela «súcia» e pelos escribas ao serviço do Império .... do Bem) como as afirmações de que a URSS não interferiria nos assuntos da esfera de influência dos EUA. Numa altura em que ELP e outros democratas incendiavam sedes do PCP, do MDP e da UDP no Norte de Portugal, com a benção de Cónegos Melos e Cia, é impensável que o PCP pretendesse dar azo à sua ilegalização, como pretendiam muitos dos implicados no 25 de Novembro. Por convicção numa via Portuguesa para o Socialismo ou por mera cautela, o Major Melo Antunes veio à RTP afirmar ser o PCP indispensável «para a construção do socialismo». E nas vésperas das eleições paea a Assembleia da República Costa Gomes apelou ao voto no socialismo.
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O grande beneficiário com a taluda foi o Partido Socialista liderado por Mário Soares, entretanto por este «purgado» de todos quantos cheirassem a socialismo, o primeiro passo para a demo-cracia em que vivemos.
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Outra tanga que vem a lume é que sem o 25 de Novembro não teria havido eleições, porque o PCP não as queria realizar, quando o que ese dizia é que não havia condições para eleições livres enquanto campeassem os bombistas de Spínola e João Jardim de (a)braço dado com a Hierarquia da Igreja Católica e muitos párocos! Quem de facto pretendeu instaurar uma ditadura pessoal foram Spínola, até ao 28 de Setembro de 1974, bem como o Chefe do Governo Palma Carlos, apoiados por Sá Carneiro do então PPD, Mário Soares, que ainda não havia terminado as «purgas» no PS e pelo CDS.
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E de revisão em revisão constitucional, os eleitores lá vão caucionando e permitindo o alterne PS/PSD com a bengala do CDS quando necessário, após uma oportuna e «mal» negociada adesão à União Europeia, seguida da privatização de sectores estratégicos da economia portuguesa e desmantelamento do sector produtivo, colocando o País completamente manietado às directivas de Bruxelas e cortando cerce a possibilidade de qualquer política social fora do quadro dominante e suicida de neoliberalismo, isto é, dum capitalismo que é um «regresso» a nível mundial às condições de vida predominantes na Europa com o triunfo da Revolução Industrial, analisadas por Engels e bem descritas por Charles Dickens nos seus romances, sem esquecer as revoltas camponesas com o declínio da servidão e a resistência dos povos de África, Américas e Ásia à dominação do «homem branco».
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Vemos assim que os célebres três D's deram origem a rançosos neologismos: neo-colonialismo em vez de Liberdade, neo-liberalismo em vez de Democracia, neo-escravidão a todos os níveis em vez de desenvolvimento (económico e social), à diversidade opõe-se e impõem-se o pensamento único e a alienação. Do mesmo modo registam-se alterações semânticas camaleónicas: economia de mercado «esconde» o capitalismo (quando aquela lhe é anterior), globalização mascara o imperialismo, agentes económicos substituem os termos patronato e assalariato (ou proletariado), a usura esconde-se por detrás das instituições de solidariedade social.
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A informação, férreamente controlada, formata as consciências da maioria, que não se questiona sobre as «verdades» que lhes são apresentadas e aceita, em nome da sua segurança, limitações aos seus direitos, quando tais limitações servem apenas para assegurar o sossego duma minoria iníqua sem vestígios de humanidade.
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Rectifio, com uma breve do expresso.pt on line:
25 de Novembro
O processo revolucionário estará subliminarmente em curso enquanto o 25 de Novembro não for feriado nacional.
Vasco M. Barreto
10:29 Quarta-feira, 25 de Nov de 2009
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