quinta-feira, 5 de junho de 2008

A «cartilha» continua a ser a mesma, a de Santa Comba Dão?


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* Victor Nogueira

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A «cartilha» continua a ser a mesma. Ou será «cassete» ou estafado «disco de vinil» roufenho»? É duvidoso que o General Humberto Delgado tivesse desistido da luta. Voluntarioso, exilado, individualista e «senhor» de si, perdeu a capacidade de galvanizar as populações. E enveredou pelo putchismo. Se fosse preso iniciar-se-ia um amplo movimento internacional que impediria o seu assassinato pela PIDE a mando de Salazar? Um movimento idêntico que permitiu que Álvaro Cunhal não fosse assassinado mas condenado a oito anos de absoluta incomunicabilidade? Mais perigoso que o «General sem Medo» mas sem Tropas era Álvaro Cunhal, dirigente do único partido que Salazar/Caetano/PVDE/PIDE/DGS/Spínola/Sá Carneiro/Mário Soares/Cavaco/Sócrates não conseguiram [ainda] liquidar.
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Porque sem o pé descalço, os servos da gleba, os escravos, os «livres» assalariados, sem estes os senhores, senhoritos, mandaretes, capatazes, nada são.
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A não ser que, hienas, abutres ou predadores, consigam substituir a humanidade que há muito perderam por andróides, robots ou clonagens subservientes e sem massa cinzenta, acéfalos.
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É um insulto à superior inteligência política de Salazar que os seus «discípulos» afirmem que foi graças à complacência do «pobre filho de pobres» rejeitado pela nobre patroa do feitor que Cunhal fugiu do Forte de Peniche, após oito anos de total incomunicabilidade no Estabelecimento Prisional de Lisboa.
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A cegueira, o ódio ou a falta de inteligência ofendem a memória daquele a cujos calcanhares nunca chegarão. E alguns daqueles que louvam a virtude do «pobre filho de pobres» que pobre teria morrido, esquecem aquele ditado do «seu» tão amado Povo que diz que «tão ladrão é o que rouba como aquele que deixa roubar».
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Não é também a sabedoria popular que diz que «A Vox do Povo é a Voz de Deus» e que o «pobre filho de pobres», segundo Cerejeira e Lúcia, era o «ungido» de Deus?!
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Ai Fatma Fatma, terra de mouros e de infiéis transformada em Santuário cujos vendilhões seriam corridos à chibatada se Cristo à terra retornasse? Quem domina Fatma, os zelotas ou os fariseus, Roma ou Israel, Constantino ou Cristo, os escravos ou os patrícios?
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Mas a PIDE e a GNR têm um longo historial de assassinatos, em Portugal e nas antigas colónias, onde a esmagadora maioria da população, ao fim de cinco séculos de «cristianização» civilizadora e treze de guerra colonial, nem português sabia falar. Na «cartilha» do Livro Único de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação) superiormente aprovado, como podia haver uma Nação pluricontinental do Minho a Timor, quando os requisitos mínimos então «definidos» para a existência duma »Nação» não existiam?
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Se a intenção de Salazar fosse caridosamente «perdoar» e «reintegrar» Delgado, teria a brigada sido formada por Casimiro, o único condenado após o 25 de Abril? E porque não houve qualquer julgamento no tempo de Salazar e Caetano, para «provar» que fora assassinado devido a uma cilada do PC e do Grupo de Argel? Mas não, o PC, apesar do anticomunismo e do aventureirismo do General sem Medo, avisou-o para ter cautela com a gente de quem em desespero de causa se rodeara, pois iria cair nas mãos da PIDE
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Risível para quem tenha um mínimo de massa cinzenta afirmar que os resultados da autópsia efectuada sob a mão de Ferro de Franco, «Caudillo de España pela Graça de Deus», que outorgou o poder a Juan Carlos, de cognome «Porque não te Calas?», foram falsificados por médicos legistas adversários de «Franco».
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Como dizia Lincoln «Pode enganar-se todo o Povo durante algum tempo, pode enganar-se algum povo durante todo o Tempo, mas não pode enganar-se todo o Povo durante todo o Tempo». [a não ser que isto acabe num holocausto, qualquer que ele seja]
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Quanto pé descalço ou reputado cientista/intelectual foi expulso e impedido de ganhar a vida, obrigado a emigrar? Face a Salazar, o que distingue Caim de Abel? Qual a diferença entre Santa Comba e as terras que estão ou estavam para além do Marão ou em Belmonte ou Trancoso ou no Couço e Baleizão ou em Aljustrel e no Barreiro ou Seixal e na Mitrena? Qual a diferença entre Marat/Robespierre ou Charlotte Corday /OLYMPE DE GOUGES, a da Declaração dos Direitos da mulher e da Cidadã ?
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Face a Salazar, existe alguma diferença ou alguma coisa de comum entre Caim e Abel?
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Depois de 25 de Abril de 1974, os primeiros mortos foram feitos pela PIDE/DGS encurralada na sua sede central pelo povo [que se borrifou para as intenções e conluio de Spínola/Marcello], cercou a «benemérita» António Maria Cardoso, obrigando à sua extinção e à libertação de todos os presos políticos, designadamente nos Fortes de Peniche e de Caxias.
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E depois disso, foi o que se sabe de violência física, incluindo ataques bombistas e mesmo assassinatos, todos a Norte de Rio Maior, perpetrados pelo ELP, pelo MDLP e pelo Movimento Maria da Fonte? Isso para não falar das miméticas auto-denominadas FP 25 de Abril, do grande Othelo. Mas só estas foram levadas à barra do Tribunal e amnistiadas. Porque as outras 3 gémeas [a Santíssima Trindade de Spínola, Paradela de Abreu e outros], nunca precisaram de amnistias porque nunca foram chamadas à barra do Tribunal.
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Comparar o «sem medo» de Charrua a Humberto Delgado só espanta quem tiver olhos fechados, Porque afinal a bufaria, a falsidade dos »Amigos do Povo», o ser xico-esperto e a subserviência ainda persistem ao fim de cinco séculos da «santa» inquisição dos Dominicanos e Franciscanos (mas não dos Jesuítas), do index, de Pina Maniques, da Real Mesa Censória, de PVDE/PIDE/DGS, da Censura/Exame Prévio, de «Critérios Jornalísticos» que definem a Agenda, e dos filhotes de Pinóquio ou de saltaricos e franganitos de aviário, a soldo de ocultos mandantes.
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Quantos assaltos, ataques bombistas, incêndios, foram cometidos nas regiões em que a maioria da população na altura votava maioritariamente no PCP?

Teriam escapado impunes o chefe da brigada e os seus agentes que «acidentalmente» teriam assassinado Humberto Delgado? Que sucedeu a Aristides de Sousa Mendes ou aos Generais Vassalo e Silva, Spínola (prussiano observador das tropas nazis na operação Barbarossa) ou Costa Gomes (da geração NATO, tal como Delgado) que se recusaram a cumprir as ordens de Salazar?
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Dizem para aí que Aristides de Sousa Mendes teria enriquecido a vender vistos em Bordéus. Se assim fosse, teria morrido na miséria, proibido ele e os familiares de trabalharem, como aliás sucedeu a muito «pé descalço» e a intelectuais ou cientistas de prestígio? Quem no concurso da RTP «defendeu» com isenção Sousa Mendes, insuspeito de simpatias vermelhas, foi José Miguel Júdice. Mas ele traçou o impiedoso retrato da hipocrisia e do cinismo de Salazar. Morto Sousa Mendes na miséria e a comer a sopa dos pobres, depois da feroz perseguição que Salazar lhe moveu, este enviou ao irmão um cartão com as palavras «Sinceras condolências» !
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Tivessem assumido o poder Humberto Delgado, Henrique Galvão, Spínola ou Othelo e teriam perseguido os comunistas e refreado a luta dos trabalhadores. Não haja ilusões sobre isso.
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Tudo o resto é ignorância ou descarada mentira e falsificação da História. Por detrás de Carmona (post 1945 mas que nunca fez a saudação nazi), de Botelho Moniz, de Humberto Delgado, de Spínola, de Henrique Galvão, do Marechal Craveiro Lopes, da UPA e de Holden Roberto não estava a mão de Moscovo mas a teia do amigo americano. Por detrás da UNITA e de Savimbi estavam a PIDE e a racista República Sul Africana, a do apartheid
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Basta ler as crónicas de Benjamim Welles, correspondente do NewYork Times, onde foram publicadas na altura.
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Comentário a

25 de Abril - «olhares» - «entrevistas» - «verdades» (31) - por Artur Silva


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1 comentário:

Paulo disse...

«tão ladrão é o que rouba como aquele que deixa roubar».

A sabedoria popular não engana.

A história é a história...
Abraço
Paulo