sábado, 7 de dezembro de 2013

o elogio não elegia de Cavaco

o elogio não elegia de Cavaco




Victor Nogueira diz:

É possível que sem “cunhas” oficiais milicianos ficassem na rectaguarda, por causa da “licenciatura”. Mas não fosse o bom comportamento devidamente atestado “a bem da Nação” e não escapariam à frente de combate, quanto mais infernal melhor, se não optassem pela deserção.
Mas nos testemunhos dados por Cavaco e seus “companheiros” de Laurentinas ou superiores que dele se lembram, “aprumado” e “profissional”, ressalta a ideia duma “pacífica” temporada, tão pacífica que apesar da guerra ali tão perto, apesar do anglófilo apartheid, mesmo em Moçambique, teriam conseguido a proeza de nunca terem discutido política, “comme il faut” para memória futura.
Um tempo tão descontraído que deu para duas longas viagens com a família, presume-se que à África do Sul, tão pacífico que deu para filmagens para passarem no futuro e em família. Que teria ficado registado em filme dessas filmagens ? O paraíso ou o “inferno” ? De que dão testemunho essas fitas de “montagem semi-profissional”, para “memória futura ?
Quando de Cavaco for escrita a necrologia, talvez dele se recorde o veto “ao evangelho segundo Jesus Cristo”, por sousa lara, “zagalo” do “conde de abranhos”, considerando que “O livro não representa Portugal nem os portugueses”, e ofende os sentimentos religiosos do povo português (http://www.tsf.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=768316). Ou a célebre cena do bolo-rei. Ou as democráticas diatribes contra as “forças do bloqueio” e as certezas de quem nunca se engana” nem “lê” os jornais.
Mas seria duma profunda injustiça que a gente maneirinha e videirinha que enxameia o ppd-psd desde a ala liberal da assembleia nacional-marcelista, da “evolução na continuidade” do fascismo, cujo líder actual é Cavaco, o reformado, seria duma profunda injustiça que as notícias necrológicas o não “andorassem” no panteão dos “illuminatti” como homem de fortes convicções, que não enaltecessem a sua “coerência”, a de “quem nunca se engana”, que não referissem a sua fidelidade aos amigos, como Dias Loureiro, Duarte Lima ou os do BPN, para além dos grados das comissões de honra das suas várias candidaturas, ungidos pela santíssima trindade sem esquecer o espírito santo. Apesar dos dislates a um tal “senhor silva”, proferidos por um jardineiro todo poderoso, candidato a bater o guiness da assentadura no cadeirão, pois não é nem presidente de câmara nem de junta de freguesia.
Só os maldizentes o compararão ao pedro santana dos concertos para violino, aos turbo doutorados da escola de relvas ou aos pedro coelho que vetaram Maria Teresa Horta, que não é Maria Cavaco.

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O cerne do meu comentário não é se Cavaco "cunhou" ou não para ficar em Lourenço Marques. Até se admite que não tenha beneficiado de qualquer favor pessoal, se bem ler o que escrevi.  O ponto de partida foi a argumentação para que Portugal não tivesse votado a moção para a libertação de Mandela – “ser Portugal contra a luta armada e a violência” Também o regime fascista  era contra a luta armada  e contra a violência” (a esta associada como causa e como consequência) 

Mas   cerne do meu comentário tem como base esta "peça do "insuspeito"  semanário Expresso http://expresso.sapo.pt/mocambique-cavaco-silva-foi-oficial-cavalheiro-e-cineasta-c-foto=f272023

E com base na informação de que era "cineasta" amador - em Moçambique, África do Sul e Rodésia do Sul - interrogo-me sobre o que terá "amadoristicamente" filmado para memória futura da família.

Reportando-me à notícia destaco dela;

«José Macedo e Cunha recorda-se de que viver na época em Lourenço Marques "era muito agradável". "Era uma vida muito agradável. Juntávamo-nos por vezes num café. Cada um de nós tinha os seus 'hobbies', como o cinema ou a música. Estávamos a começar e cada um de nós fazia filmes da vida diária", continuou.

Nas tertúlias que alimentavam não havia grande espaço para a política. "Eram conversas sobre o dia-a-dia, sobre os nossos afazeres, sobre automóveis. Não me recordo de termos grandes conversas sobre política", vincou José Macedo e Cunha, que apontou as viagens como outra forma de ocupar o tempo livre.» [fim de citação]

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/mocambique-cavaco-silva-foi-oficial-cavalheiro-e-cineasta-c-foto=f272023#ixzz2mou3rMoH ou em 
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/oficial-cineasta-e-cavalheiro

 A minha nota tem tb como fundamento uma notícia acerca da integração de Cavaco na ordem social estabelecida, publicada em 2010.11.30  pela Revista Sábado com a reprodução da ficha da PIDE que voluntariamente preencheu http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/Social.aspx?year=2010&month=11 tb referido em artigo de opinião no DN http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1726140&seccao=Fernanda%20C%E2ncio&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

Uma súmula da “coerência” de Cavaco, para além do que a imprensa tem publicado desde há anos, encontra-se aqui http://www.tretas.org/CavacoSilva

Isto é que é o cerne da minha nota e não se Cavaco se mexeu ou não para ir para a frente de combate.  Não me perdi em lateralidades.

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Mas estamos em lateralidades sobre Cavaco ? Não está em causa como foi Cavaco "estacionar" em Lourenço Marques apenas um mês depois de ter casado. A sua desafectação ao regime, a sua "revolta", resulta apenas de ter sido rejeitado o seu pedido de adiamento da recruta, naõ esclarecendo se era ou não contra a "guerra colonial", se esta tb o não "revoltava".. 

No artigo da revista Sábado cujo link pus anteriormente, lê-se "No livro Cavaco Silva contou que quando era estudante e passava junto à residência oficial de Salazar, atravessava para o passeio do outro lado da rua porque “os muros altos e os polícias impunham respeito”. E recordou a sua indignação quando rejeitaram o seu pedido de adiamento para cumprir o serviço militar e o convocaram para fazer a recruta em 1962, por causa da guerra colonial: “Fiquei revoltado e acentuou-se em mim a rejeição ao regime de Salazar”. O livro foi lançado 35 anos depois de se ter declarado “integrado” no Estado Novo.» [fim de citação]

São de antologia as "justificações" de Cavaco, como o  "respeito  temeroso que lhe impunham os muros altos de S. Bento e os "polícias", que não refere como agentes da PIDE. Temor de quê, apesar da sua "rejeição ao regime de Salazar" , que não designa como "fascismo" ou numa linguagem  mais "soft" - "ditatorial. Como estudante de Economia, sabendo perfeitamente o que era a PIDE, o fascismo, a repressão e a guerra colonial, que combatíamos, eu e muitos outros nunca sentimos necessidade de mudar o trajecto para o passeio fronteiro quando passávamos nas traseiras de S. Bento.. 

Mas por mim, nos comentários ao post, o tema Cavaco está esgotado, sem necessidade de mais lateralidades. Pk, repito, o essencial não é discutir se Cavaco "cunhou" ou não, relativamente ao serviço militar obrigatório.



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Visita: Serviço militar em Moçambique

Oficial, cineasta e cavalheiro

Os dois anos que o presidente da República Aníbal Cavaco Silva passou em Moçambique, onde cumpriu entre 1963 e 1965 uma comissão militar, revelam um apaixonado por viagens e desconhecido cineasta.
  • 20 de Março 2008, 00h30
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Por:Eduardo Lobão, Jornalista da agência Lusa

José Macedo e Cunha, actual presidente do Grémio Literário e que até 1964 viveu no mesmo prédio que Cavaco Silva, recorda-se da faceta de cineasta do hoje Chefe de Estado. “Cavaco um dia veio-nos mostrar um filme que tinha feito, já com alguns requintes de ordem técnica. Além de ser um filme com música, era animado e apresentava uma montagem semiprofissional.”

A Aníbal Cavaco Silva e José Macedo e Cunha, ambos casados, juntavam-se outros alferes milicianos como Manuel Frasquilho e Levy Vermelho. “Vivíamos no mesmo prédio, na avenida Pinheiro Chagas (actual avenida Eduardo Mondlane). Era um prédio novo, inaugurado por nós, oficiais do quadro, quase todos do quartel-general”, acrescentou.

Nas suas tertúlias não havia grande espaço para a política. “Eram conversas sobre o dia-a--dia, sobre os nossos afazeres, sobre automóveis. Não me recordo de termos grandes conversas sobre política”, vincou José Macedo e Cunha, que apontou as viagens como outra forma de ocupar o tempo livre. “Eu já tinha um filho, mas ele e a mulher viajavam. Estavam lá outros dois camaradas, o Manuel Frasquilho e o Levy Vermelho, com quem fizeram viagens ao longo de Moçambique, África do Sul e Rodésia [actual Zimbabwe]”, adiantou.

Outro camarada de armas de Cavaco Silva em Moçambique foi Raul da Costa Dionísio, hoje coronel. Do alferes Aníbal Cavaco Silva guarda a imagem de alguém “muito profissional. Um oficial aprumado”, destacou o coronel.

MEMÓRIAS DE CAVACO SILVA

“Em Novembro de 1963, como alferes miliciano mobilizado para uma comissão militar de dois anos e com menos de um mês de casado, desembarquei no porto de Maputo [então Lourenço Marques] acompanhado pela minha mulher.

Decidimos aproveitar a estadia forçada pela guerra colonial para descobrir o que pudéssemos da África Oriental e das suas gentes. Apaixonámo-nos definitivamente por Moçambique.

Fascinados pela aventura e pela descoberta de um mundo que era novo para nós, registámos em muitas horas de filme imagens para mais tarde recordar com a família.”

APONTAMENTOS

REGRESSO

Cavaco Silva está neste momento em Moçambique de férias. O Presidente da República inicia na próxima segunda-feira uma importante visita de Estado à ex-colónia portuguesa.

EMPRESÁRIOS

Na comitiva do Presidente da República a Moçambique destaca-se o elevado número de empresários: para 40 lugares disponíveis concorreram 150 empresários. A escolha dos eleitos acabou por ser feita com base em critérios definidos pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).


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  • Os documentos de Cavaco Silva na PIDE
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Exclusivo

Os documentos de Cavaco Silva na PIDE

30-11-2010

Por Pedro Jorge Castro


Não foi qualquer gesto subversivo que levou a polícia política a interessar-se por Aníbal António Cavaco Silva. Foi o general Martiniano Homem de Figueiredo, responsável pela Autoridade Nacional de Segurança, que em Maio de 1967 pediu ao director da PIDE que mandasse averiguar se havia alguma informação em desabono deste jovem de Boliqueime. 

Se a PIDE não se opusesse, Cavaco Silva, portador do BI número 153955, poderia ser autorizado a manusear documentação classificada até ao grau de “Nato Secreto” (o segundo nível mais restrito de informação) na Comissão Coordenadora da Investigação para a NATO – como era desejo do general, que tinha sido deputado à Assembleia Nacional e presidente do Sporting, antes de assumir o comando operacional das várias entidades de defesa do país.
Aníbal tinha 28 anos e a vida encaminhada: já estava casado com a actual primeira-dama, cumprira o serviço militar em Moçambique e tinha dois filhos. Trabalhava já como investigador da Fundação Calouste Gulbenkian e professor assistente do ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras) onde tinha sido um dos melhores alunos.

A polícia política abriu o processo número 995/67 e pediu ao chefe de gabinete do ministro da Educação que fizesse comparecer Cavaco Silva na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. O professor faltou à primeira convocatória mas, após uma insistência do director da PIDE, em Dezembro de 1967, preencheu o “formulário pessoal pormenorizado”, um boletim de 4 páginas que era burocraticamente designado como “modelo 566”. 

A alínea 12 colocava uma questão directa: “Sua posição e actividades políticas”. Na linha de baixo, num momento em que António de Oliveira Salazar - então com 78 anos - cumpria o seu 35.º ano como líder da ditadura, Cavaco Silva escreveu: “Integrado no actual regime político”. Deixou mais uma linha e acrescentou: “Não exerço qualquer actividade política”.

Na alínea 23, solicitado a indicar “duas pessoas idóneas (de preferência oficiais do Exército, Marinha ou Força Aérea) que o possam abonar moral e politicamente”, o actual Presidente da República quis fazer mais do que o formulário requisitava. Com a sua caneta riscou o “duas” e anotou por cima “três”, para o caso de a PIDE não reparar que tinha indicado um nome extra. 

Deu então os nomes de um membro da União Nacional - o partido do regime liderado por Salazar - José Rodrigues Alho, que exercia a profissão de fiscal da Carris (a empresa que geria os autocarros e eléctricos em Lisboa); do presidente da Junta de Freguesia de Santo Condestável, o tenente do exército Artur Ticão; e de um membro do secretariado da Defesa Nacional, o capitão António Ferreira da Costa.

Depois de prestar todas as informações sobre os seus dados de identificação, como nome, morada actual e endereços anteriores (viva num 5º andar da R. Padre Francisco e antes tinha residido noutro 5º andar na vizinha Rua Almeida e Sousa, na zona de Campo de Ourique, em Lisboa), locais onde estudou, situação militar (“Teve algum castigo? Não tive punições”), empregos, nomes e dados dos pais, esposa, irmãos, cunhados e sogros, foi ainda confrontado com a alínea 20, onde lhe era perguntado se algum destes familiares tinha residido na União Soviética ou Satélites – uma pergunta obrigatória, num contexto de Guerra Fria, a qualquer candidato a manusear documentos relacionados com a Organização do Tratado do Atlântico Norte. 

Na folha de rosto do boletim está agrafada, no canto superior esquerdo, uma sua foto tipo-passe, de blazer, pullover, camisa branca e gravata escura. Na última página, a seguir à data (Lisboa, 21/12/1967), o respondente rubricou a sua assinatura: “Aníbal António Cavaco Silva”. Depois, num espaço reservado para observações, entendeu que devia prestar uma informação adicional sobre a família: “O sogro casou em segundas núpcias com Maria Mendes Vieira, com quem reside e com quem o declarante não priva.”

Os funcionários da PIDE recolheram informações sobre o “porte moral e político” do então professor e investigador, os homens indicados por Cavaco Silva foram contactados, e o agente Amorim concluiu que “moral e politicamente nada se conseguiu apurar em seu desabono”. 

A direcção de campanha de Cavaco Silva não respondeu aos pedidos de esclarecimento feitos pela SÁBADO e, através do assessor de imprensa Francisco Azevedo e Silva, comentou apenas: “Este tipo de guerra suja não pega com o candidato prof. Cavaco Silva. A sua vida e todos os aspectos da sua carreira política, antes e depois do 25 de Abril, é totalmente transparente e é, aliás, integralmente revelada na autobiografia”. Na autobiografia não há qualquer referência a este episódio. 

No livro Cavaco Silva contou que quando era estudante e passava junto à residência oficial de Salazar, atravessava para o passeio do outro lado da rua porque “os muros altos e os polícias impunham respeito”. E recordou a sua indignação quando rejeitaram o seu pedido de adiamento para cumprir o serviço militar e o convocaram para fazer a recruta em 1962, por causa da guerra colonial: “Fiquei revoltado e acentuou-se em mim a rejeição ao regime de Salazar”. O livro foi lançado 35 anos depois de se ter declarado “integrado” no Estado Novo.

Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Leia a notícia na edição impressa da SÁBADO, disponível nas bancas a partir desta terça-feira

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