AS MINHAS DIFICULDADES COM OS HISTORIADORES DO PREC
Ao principio pensava que era só eu que tinha dificuldades
com os historiadores (do reaccionário Rui Ramos à progressista Raquel Varela)
que em Portugal fazem a história do que foi o 25 de Abril e o período
revolucionário conhecido como PREC.
E o meu problema, que afinal é comum a outras pessoas, é que
aquilo que os nossos historiadores profissi... Ver
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Victor
Barroso Nogueira Enfim... O MFA não me parece que tivesse um
programa, mas apenas objectivos. E várias "leituras" antagónicas
Há algumas perplexidades; Marcelo encurralado no Carmo por
suposta sugestão da PIDE (que Spínola e Costa Gomes pretenderiam manter) e
Tomás despreocupadamente à solta. A saída do pessoal civil de Lisboa à rua e a
"resistência" de alguém no Posto de Comando do MFA foi um 1º travão à
"leitura" de Spínola, a quem no entanto foi permitida a farsa da
passagem de Poder por Marcelo para que este não caísse na rua. Aliás, o Poder
residia em Tomás - deixado em paz - que livremente poderia nomear e demitir o
Presidente do Conselho de Ministros.
O 2º travão foi a gigantesca manifestação do 1º de Maio,
sobretudo em Lisboa mas também noutras localidades.
E outra perplexidade: era ou não prioritário neutralizar a
PIDE, tomando a sua sede e prendendo os seus agentes ? Afinal a PIDE foi
“neutralizada” por estar cercada durante horas pelos civis, que no entanto não
conseguiram evitar a destruição dos ficheiros dos informadores ou
“bufos”.
O 3º travão foi a recusa clarividente dos movimentos de
libertação em deporem as armas.
E a história é feita de muitos imponderáveis. Se a fragata
tivesse disparado sobre o Terreiro do Paço ? E se a Cavalaria não se tivesse
rendido ? E se o "anónimo" atirador - inconsciente do resultado e
consequências da sua decisão - tivesse obedecido à ordem de fogo sobre os
revoltosos ?
Os militares do MFA seguramente que tinham contactos com
organizações políticas que se opunham à guerra colonial e ao fascismo. Uns
pretenderiam apenas a “democratização”. Outros uma alteração radical, uma sociedade
socialista, embora houvesse radicais divergências quanto à suua caracterização.
E uns e outros procurariam naturalmente apoios na “sociedade civil” ou em
países estrangeiros.
Com tanta e diversa gente envolvida é perfeitamente
admissível que a PIDE e os Serviços Secretos ou Embaixadas de outros países
estivessem por dentro do “levantamento”.
Isso da “pureza” do MFA e da “generosidade” inquestionável
dos seus membros é um mito igual ao das Cortes de Lamego. O MFA não era um
grupo coeso, com direcção única. A esmagadora maioria dos membros do MFA não
controlava todas as variáveis e todos os factos, mesmo que envolvidos nas
manobras militares. Era humanamente impossível. Tal como os civis que em
multidão “participaram nas movimentações desde esse dia 24 de Abril e durante
longos meses que se prolongaram para além do 25 de Novembro. O caminho fez-se
caminhando.
Mas neste “debate” parecem-me evidentes algumas “ausências”.
A resistência dos povos colonizados e do povo português à exploração, à
repressão e ao fascismo. Resistência essa nuns casos "imediatista",
noutros organizada. Nos campos, nas fábricas, na universidade …
Sem menosprezo pelos contributos individuais e seu
reconhecimento. Havendo várias facções e barricadas, natural é que cada uma
tenha os seus heróis, os seus mártires e os seus historiadores. Com visões mais
ou menos simplistas, mais ou menos elaboradas, mais ou menos complexas. Cada
uma com a sua “verdade”. E é da confluência das várias “verdades” apuradas com
diferentes pressupostos, perspectivas e metodologias que se entenderá o
processo histórico com as suas movimentações sociais e agentes mais ou menos
activos.
A luta contra o fascismo ou contra o capitalismo é – mal
comparado - como um comboio em marcha, nem todos interessados na estação final
e muitos saindo nas estações intermédias. Desinteressados da estação final ou
opondo-se a ela atingidos que estejam os objectivos particulares do embarque e
da viagem.
Cordialmente e sem acrimónia.
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