sábado, 27 de janeiro de 2018

Marcelo no seu espelho de selfies

Victor Nogueira
  Setúbal 
"O Presidente faz um contínuo meta-discurso sobre tudo o que acontece."? Não, não é bem assim. Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Marcelo [Rebelo] de Sousa, nas suas conversas e selfies "familiares", com o apoio e cobertura da generalidade da Comunicação Social, tacticamente só se pronuncia sobre aquilo que lhe interessa atendendo aos seus objectivos estratégicos. mesmo que com imenso afecto desconsidere a Constituição da República e a Separação de Poderes por ela instituída. Só se deixou iludir quem nele votou, sobretudo após a era de Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, mais sisudo e menos hábil politicamente.

OPINIÃO

Marcelo no seu espelho de selfies

Mesmo a contragosto de 80% dos portugueses que “amam” Marcelo, convém lembrar que a essência da democracia não é a popularidade, em particular nestes tempos tablóides.



7 COMENTÁRIOS



  1. Jonas Almeida
      Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
    Lembra bem Pacheco Pereira em recordar que a essência de Democracia não é a popularidade dos políticos. Não só os que a inventaram preenchiam as suas assembleias por sorteio, como ser muito popular era motivo de ostracismo. Isto era feito escrevendo o nome do popularucho numa louça (o Ostrakon) que era partida de seguida como ritual de afastamento da vida política. Até Péricles acabou ostracizado. Tantas coisas importantes que definiam e defendiam a nossa cultura de que nos esquecemos :-(.

    1. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      ... a cultura e a prosperidade sem a qual não há

  2. Manuel Brito
      LISBOA 
    Tendo em conta que o nosso regime constitucional não é presidencialista, os riscos do inegável populismo de Marcelo não são demasiado preocupantes. Os problemas da nossa democracia são outros, e mesmo assim mitigados se comparados com os da Hungria ou da Polónia, ou mesmo com a demagogia do Brexit.

    1. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      Se calhar o problema da nossa Democracia é ao contrário - o nosso problema é não termos os "problemas" que tornam a espaço público num espaço em que a Demos toma decisões. Boas ou más, o que define a Democracia é ser a Demos a tomar decisões.
    2. Se MRS quiser fazer cá o que fez na França Macron não tem dificuldade nenhuma. Nesse caso sacrificaria PSD e PS gerando uma alternativa sem alternância. Isso porém só serviria para devaneios pessoais, penachos e protagonismos para a galeria. Para os portugueses não traria nada. Nem uma só das ilusões semeadas e alimentadas demagogicamente por entre abraços, consolos, gemidos e afetos, terá dotação orçamental enquanto o chamado "Tratado Orçamental" mandar cá a partir da UE. O poder do Estado restringe-se a cumprir com a UE com as restrições que decorrem da grande economia ter sido saldada a estrangeiros, a caducidade da contratação coletiva perpetuar a precariedade e a brutal carga fiscal asfixiar as famílias. Com presidencialismo ou sem ele já não há democracia. Há obediência.

    3. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      Como nota, caro José, os efeitos asfixiantes do centrão obediente notam-se no claro empobrecimento das novas gerações na eurozona. Foi para mim um paradoxo ver Lagarde fazer disso a sua preleção em Davos. Espero que MRS não ceda à tentação ainda mais do que tem cedido. Como você conclui "para os portugueses não traria nada".

  3. DNG
      Lisboa. 
    É evidente que perante a tragédia dos incêndios e Tancos, Marcelo usou o seu poder comunicacional para compensar a falta de qualidade na governação. A popularidade dos afectos de Marcelo tem uma explicacão comovente no plano da sociologia política, a falta de Estado. O astro fabricado pela TVI é carne e osso junto do povo. Uma compensação. Tudo isto é um sinal do vazio em que o país está mergulhado. Mas há uma coisa francamente abonatória a favor do Presidente, ninguém faz o teatro que ele faz sem coração. O sr Presidente tem um problema de culto próprio da imagem televisiva que devia moderar. Mas devo dizer, é no fundo mais humano do que cínico tal qual, embora mal, o cheguei a avaliar.

    1. tripeiro .
        . 
      Muito bem.

    2. DNG
        Lisboa. 
      Um elogio do sr Tripeiro. O mundo está ao contrário.

    3. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      concordo

  4. Jose
      
    MRS formou o seu carácter no seio da família cujo chefe era ministro da ditadura colonial e apurou-se politicamente no palácio de S. Bento com o Ditador do Império Colonial português. Nunca foi democrata nem é. Joga o jogo que há para jogar para servir o seu génio e carácter. Não o queria para amigo como o quis Ricardo Salgado. Não há ali sinceridade nem mãos fraternas, livres e limpas. A democracia é hoje bandeira para todos os tiranos por todo o mundo. Para a UE democracia é servir os interesses do núcleo de tecnocratas e lobistas. Quando os votos não dão isso a culpa é dos votantes, os maus votantes da Grécia, RU, Catalunha... MRS não é democrata, mas também, não havendo democracia, não faz diferença. Marcelo quer a "UN" de volta sob a sua égide superior. É para isso a popularidade!

  5. Jose Rodrigues
      Londres (Aprendendo portugues. Peço desculpas por erros antecipadamente.) 
    Sim, concordo (tirando um pouco de aqui e de lá). Adicionalmente, propõem outro tese, Marcelo sabia que pós-Coelho o PSD deve ir mais ao centro enquanto tudo correria bem junto-se com Costa e o PS (oposição frontal caindo com Cavaco), espreitou, guardo-se e quando o PS teve dificuldades quer inoportuno quer autoinfligindo distanciou do PS à favor do "povo". Deste maneira amplo a probabilidade do seu segundo mandato, ajudo Rio Rio e o PSD ir mais por centro com possibilidade de um pacto PS-PSD e também importantíssimo, abriu a possibilidade de destruir a Geringonça. Sem Geringonça tudo muda à direita ou o "centro" (mera trampolim à direita). Os benefícios do Marcelo para a ala esquerda do PS (BE/PCP) está esvaziar-se.

  6. Victor Nogueira
      Setúbal 
    "O Presidente faz um contínuo meta-discurso sobre tudo o que acontece." ? Não, não é bem assim. Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Marcelo da Sousa, nas suas conversas e selfies "familiares", com o apoio e cobertura da generalidade da Comunicação Social, tacticamente só se pronuncia sobre aquilo que lhe interessa atendendo aos seus objectivos estratégicos. mesmo que com imenso afecto desconsidere a Constituição da República e a Separação de Poderes por ela instituída. Só se deixou iludir quem nele votou, sobretudo após a era de Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, mais sisudo e menos hábil politicamente.

  7. Gualter Agrochão
      Lisboa 
    Caro Dr. Pacheco Pereira, É bom lê-lo nas manhas de sábado neste seu registo, único, de "desalinhado" do unanimista "espelho de selfies"do Professor Marcelo, Presidente sem nunca deixar de ser "populistamente" comentador-de-tudo. Mas agora falta-me nas manhãs de sábado outro "desalinhado", mas em matérias de economia (que também é política); o Dr. Nicolau Santos no Expresso. Aquela página de opiniões é um semi-deserto de povoado de ressaibiados do antigo PaF.

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