segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Um partido de gritos

Está em marcha a organização em partido dos sectores mais capitulacionistas do reformismo prostrado. Por outras palavras, as pessoas que gostam do PS, militariam no PS, concordam no essencial com o PS, estariam dispostas a empunhar para todo o lado a bandeirinha do PS se isso não lhes tirasse a aura de gente cool de esquerda, decidiram-se a inventar um partido que cheira a PS, sabe a PS, soa a PS, tem aspecto de PS, mas que não é o PS, de modo a preservar a dita aura de esquerda cool.
O nome do partido é LIVRE. Assim mesmo, com todas as letras em maiúsculas, a fazer fé no site respectivo. Dá a impressão que o nome do partido em questão é para ser exclamado, bramado, berrado de cada vez que é proferido. Vejo Rui Tavares dizer, em entrevistas à Judite de Sousa que «a posição do LIVRE será discutida nos órgãos próprios do LIVRE porque dentro do LIVRE há opiniões diferentes mas a opinião oficial do LIVRE é definida no LIVRE pelos órgãos próprios do LIVRE e não pelo líder do LIVRE», esticando o pescoço, contraíndo a testa, esganiçando o altissonante brado do nome da coisa de cada vez que se refere à coisa com tal nome. O sonho de fazer um partido de gritos é tão grande que, ainda a agremiação não foi parturejada por inteiro, já se lhe define como orientação central que nasce disposta ao berreiro.
Fique claro que pouca coisa me chateia menos que gente que fala alto. Eu falo bastante alto, e com sotaque do Porto, o que torna a experiência de conversar comigo insuportavelmente arruaceira, e ainda bem. O mal do LIVRE não é falar alto, que é a forma: é berrar sem lá ter nada dentro, de conteúdo. Ou pelo menos de conteúdo que se possa reclamar vagamente transformador da sociedade, atendo-se à invocação, em vão, da esquerda e até (ao que chega a lata de alguns…) do socialismo. E de que socialismo nos falam? Um socialismo de «recusa da mercantilização das pessoas» (houve um tempo em que os capitulacionistas pelo menos fingiam ter uma perspectiva de classe: agora reduzem-se ao personalismo, não sei se cristão se outro, sem máscara posta, não vá o capital duvidar da sua fidelidade) e no qual será «crucial na criação de uma economia mista, em geral com três setores (privado, público e associativo/cooperativo)». Aos delírios de António José Seguro de um capitalismo ético responde Rui Tavares com o delírio de um socialismo capitalista. O Zé Mário Branco bem dizia que as palavras já não querem dizer nada, são só bolinhas de sabão: mas uma destas nem a ele lhe ocorreria.
Outra coisa que caracteriza este partido e que mostra com propriedade o brocardo francês de que «le mort saisit le vif»: tradicionalmente, na democracia portuguesa, os partidos chamam-se partidos. Há o Partido Comunista Português, o Partido Socialista, o Partido Social-Democrata, e até o CDS se tornou, nos tempos de Manuel Monteiro, o Partido Popular. No final do milénio, a coisa começou a mudar com o aparecimento de um «Bloco»: mas mesmo esse era «de Esquerda», conservando uma definição formal do tipo de organização que era, e uma definição material, do propósito político que tinha. O LIVRE é um adjectivo sem substantivo, é a qualidade de coisa nenhuma. Adjectivo em termos morfológicos, será também adjectivo, no sentido jurídico do termo, para alguém que bem sabemos. Rui Tavares, na recente publicação do seu livro «A Tragédia Europeia» foi fotografado, sorridente, com Mário Soares de um lado e Carvalho da Silva do outro. É um homem livre, o chefe do LIVRE: e os homens livres, sabemos, deitam-se com quem quiserem. E fazem-nos a cama, a todos, por vezes.
O LIVRE vende-se-nos ainda com uma mentira histórica e com uma ironia histórica. Mente quando assevera «a Europa arrisca-se a falhar na sua promessa de prosperidade partilhada, democracia e direitos fundamentais para todos». A «Europa» nunca prometeu semelhante coisa. A CEE ou a UE – que parecendo que não são coisa distinta… – poderão tê-lo feito, mas ninguém em seu perfeito juízo alguma vez acreditou na propaganda que lhe foi vendida pelo invasor. Muito menos quem, sendo historiador de formação, se debruça sobre uma organização transnacional buscando encontrar-lhe as raizes: quem considerar que a CEE (e então a UE…) nasce com vista ao cumprimento de uma «promessa» de «prosperidade partilhada», está louco. Quem julga que uma organização com a arquitectura institucional antidemocrática, blindada e irreformável da UE «promete» desde o nascimento «democracia», só pode usar de má fé. Quem encontra nos promotores do livre-comércio, da abolição de fronteiras, da circulação de bens capitais e mercadorias sem entrave um promotor sério de «direitos fundamentais para todos» e não do esmagamento do trabalho pelo capital, dos pequenos produtores pelos grandes conglomerados, e se espanta que seja decorrente desta infra-estrutura uma superestrutura excludente dos «inadaptados», dos «fracos», dos «incapazes», não tem a noção mais ténue do que a história é de que dinâmicas tem.
Mas pior do que a mentira histórica é a ironia do símbolo, a papoila, tida por «símbolo de paz» pelo LIVRE. Com efeito, a papoila é um símbolo ligado ao 11 de Novembro de 1918, data da subscrição do armistício entre Alemanha e França. Mas a sua origem não favorece o novo partido: as papoilas tornaram-se então símbolos de paz porquanto foi observado que, na Flandres, por força do aquecimento do solo e da temperatura ambiente decorrente das barragens de artilharia, tinham surgido condições propícias ao nascimento de papoilas, que proliferavam pelo território. O símbolo do Rui, portanto,  a ser de paz, é da paz dos cemitérios. Da paz que sai de um bombardeamento. Paz bonita e perfumada, admito, e paz que faz um belo bouquet com as rosas do outro. Mas uma paz sob a qual estão, descansando em paz, os corpos de todos nós.

Sobre João Vilela

Professor de História da Arte algures na cidade do Porto, licenciado em História e mestre em História e Educação, portista e comunista, falo de política, economia, educação, cultura, e, se me der na veneta, até de nudez feminina. Este blogue é para me entreter, e contará com «a little help from my friends» volta e meia.
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88 respostas a Um partido de gritos

  1. Nuno Cardoso da Silva diz:
    O João Vilela perdeu tempo demais para escrever apenas um chorrilho de disparates inspirado na alta consideração que tem pelo seu próprio intelecto, como se verborreia fosse sinónimo de reflexão.
    O João não sabe nada do Livre, mas apetecia-lhe que fosse a caricatura que desenhou. Sempre era mais fácil de atacar. O que o Livre vai ser nem nós que lá estamos sabemos. Para já cada um de nós saberá aquilo que gostaria que fosse, e cada um vai tentar que ele seja tão próximo quanto possível do ideal de cada um. Mas isso vai depender do trabalho de todos. O João diria, da vontade do colectivo… Nos meses que se seguem viremos a ter uma ideia do que isso vai significar.
    Mas para já há uma certeza: o valor central é o da liberdade. Uma liberdade associada à igualdade e à solidariedade, tal como foi proposto pela revolução francesa, e acompanhada do socialismo, da ecologia e da democracia. E liberdade significa ausência de coacção. E isso já chega para incomodar o João, cuja prática política está ideologicamente associada à coacção, na ditadura do proletariado e no centralismo pseudo-democrático que nada mais é do que a imposição da vontade da vanguarda auto-assumida. Pois é. Nós queremos construir o socialismo em liberdade, coisa que o João não sabe nem o que é nem como se faz. É evidente que na luta contra a oligarquia capitalista a liberdade do opressor será suplantada pela liberdade do oprimido. A vontade da maioria oprimida manifestar-se-á na alteração das regras que permitem a exploração por parte da minoria. Mas isso far-se-á sem ditaduras – do proletariado ou outras -, sem Gulags, sem Tchekas, sem fuzilamentos. Apenas pela vontade democrática de um povo consciente dos seus direitos.
    Acha o João que para ser socialista o Livre teria de assumir uma lógica de classe. Mas o que é classe, hoje em dia? Quando olho para a nossa sociedade vejo opressores e oprimidos, mas estes são tão diversos que querer reduzi-los a um conceito de classe, tipo proletariado, é ridículo. Os oprimidos não constituem uma classe, constituem uma categoria de cidadãos com um único objectivo comum, que é acabar com a opressão e a exploração. Metê-los todos numa única carroça é uma típica ideia marxista-leninista que se destina apenas a mais facilmente os controlarem. Mas substituída a exploração capitalista pela produção em auto-gestão, em que os trabalhadores – e não o estado – são proprietários e gestores dos meios de produção, cada um se organizará como bem entender, livres de serem uma ou mais classes, ou não. O papel do estado é o de destruir os mecanismos da opressão e da exploração, não é o de dirigir tudo o que acontece. Eliminados esses mecanismos, compete ao estado impedir a sua reconstituição, e deixar aos cidadãos a liberdade de viverem e produzirem como bem entenderem. Em liberdade. Num sistema democrático que respeite a vontade e a participação livre dos cidadãos.
    Tu nunca perceberás isto, pelo que nunca poderás perceber o que o Livre pretende construir. Tudo o que disseres e escreveres a este respeito não pode, nunca, ser mais do que um chorrilho de asneiras.
    • Eu adoro gente que começa os textos a criticar a «alta consideração pelo seu intelecto» de um autor e termina dizendo que determinada coisa é algo que ele «nunca poderá perceber», ao contrário do acusador. Eu entrego-te o elogio de seres moderado e modesto. Vai em paz.
    • Nuno
      Pela descrição que faz, fica-se com a certeza que não era preciso criar o “Livre”.Afinal o PS não dirá diferente!
      • O PS não diz diferente, mas não tem a patine do LIVRE.
      • Nuno Cardoso da Silva diz:
        Não só diz diferente como faz muito diferente. Nem nos melhores tempos o PS se aproximava do que o Livre pretende, sobretudo na organização da economia.
        • Eu adoro quando uma coisa teve uma única reunião e já fala do que faz, sem nunca ter feito nada… :p
          • Nuno Cardoso da Silva diz:
            Não é do que faz, é do que procura fazer… E sobretudo do que nunca fará…
          • Quem escreveu «não só diz diferente como faz muito diferente». Afinal faz ou procura fazer? Quanto aos nuncas, eu tinha moderação de garganta.
          • Nuno Cardoso da Silva diz:
            Mas isso referia-se ao PS, não ao Livre. Estava a responder à afirmação do Adelino Ferreira de que “Afinal o PS não dirá diferente!” É preciso saber ler…
          • Reitero: o LIVRE ainda não fez coisa alguma. Quando fizer seja o que for, logo vemos se dista do PS.
        • Victor Nogueira diz:
          O Copérnico e Galileu disseram, O Descartes disse. O Durkheim disse. O Montesquieu disse. O Rousseau disse. O Thomas ayne disseO Gobineau disse. Herbert Spencer disse. Uma lista infinita de “disses”, anteriores e posteriores ao Sermão da Montanha. Reparerm que não falo nessas “aberrações” do pensamento que seriam Marx. Engels, Gramsci e toda essa “seita”. Nem em teorias do conhecimento!
          Eureka, diria Arquimedes, Livre de toda a canga obsoleta
          Ah! Bi-Eureka – Naquele tempo e trafulhamente, – verificou-se posteriormente – o PS Soares, depois de correr com a ala de Manuel Serra, ainda defendia, isto é, queria fazer acreditar aos incautos – o socialismo, as nacionalizações, o controle operário, a reforma agrária ..
          Mas Soares veio depois a esclarecer que o fazia por não ser LIVRE, não tinha Liberdade e então teve de mentir para angariar votos e encerradas as urnas arrumou o socialoismo numa gaveta e ficou apenas o capitalismo de rosto humano, o da Doutrina Social da Igreja e das 3ªas vias.
          Sobre tudo isto não é preciso ler “A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril, de Cunhal. Basta ir à fonte em liberdade livre – , os abundantes e volumosos escritos de soares.
    • Victor Nogueira diz:
      Pois é, a Revolução Francesa e das Declarações dos Direitos do Homem e do Cidadão, foi tudo menos pacífica e passados os “excessos” da populaça e dos sans culottes e das jacqueries acomodou-se numa restrição da liberdade, da igualdade e da fraternidade, a tal ponto que esmagou impiedosamente a efémera Comuna de Paris e desde então as organizações e associações operárias. Os sans culottes e os os escravos, os descamisados e os proletários fizeram outras revoluções. em S. Domingos e no Haiti, no México, na Rússia, na China, todas elas violentas pk quem o tem não abdica voluntariamente do seu “poder” económico, e até se pode citar uma “pacífica” que acabou graças a Pinochet, no Chile. Há mais, mas estas chegam embora quem pretenda “mudar” a sociedade seja LIVRE de ignorá-las. Cada um tira do processo histórico o que mais lhe convém. É a liberdade em todo o seu esplendor, a mesma Liberdade e o mesmo Socialismo em Liberdade que fraudulentamente o Partido Socialista desde Mário Soares defende (ou dizia defender, antes de se render às 3ªs vias e às delícias do Livre mercado e da Livre circulação de Capitais) ?
      A social democracia tal como a Doutrina Social da Igreja defendem 3*as vias, o que já dá 4, como os três Mosqueteiros de Dumas eram afinal 4 (Porthos, Athos, Aramis e D’Artagnan), embora a realidade fosse mais complexa pois os Mosqueteiros eram naturalmente muitos mais, uns obedecendo a Luís XIII ,outros ao “inimigo” ou adversário Cardeal Richelieu.
      • Nuno Cardoso da Silva diz:
        Uma via que certamente não nos interessa é aquela em que para libertar os “trabalhadores” é preciso coagi-los, impor-lhes à força um modelo teórico baseado na clarividência de uma minoria de intelectuais que, nunca tendo trabalhado, se arrogam o direito de se armarem em vanguarda de um proletariado cheio de legitimidade para exercer o poder mas demasiado ignorante para o saber fazer.
        • Isto são simplesmente frases feitas que encerram uma ignorância crassa sobre o conceito de vanguarda – o Jerónimo de Sousa, basta olhar para ele, nunca trabalhou… – e reproduzem o preconceito anticomunista no que tem de mais intelectualmente preguiçoso. Enfim, são o costume no NCS.
        • Victor Nogueira diz:
          oh Nuno ! Liberdade ? Coacção?
          Não leve a mal que lhe lembre As Carvoeiras
          Liberdade, Liberdade / Quem a tem chama-lhe sua / Eu não tenho Liberdade / Nem de por o pé na rua ”
          Qual é a liberdade de quem – em todo o Mundo, incluindo Portugal – não tem trabalho, de quem não tem dinheiro nem sequer para as necessidades básicas,- comida, tecto saúde – de quem depende da formatação e da informação veiculada pelos ´órgãos de comunicação de massas ou nos bancos da escola e da Universidade ?
          Mas em que mundo é que o Nuno vide ? Que mandato lhe outorgaram os coagidos e sem liberdade para por eles falar?
          • Victor Nogueira diz:
            O seu comentário aguarda moderação.
            Em tempo
            Não citei completamente as quadras das Carvoeiras
            São tão bonitas as carvoeiras
            são tão catitas e feiticeiras;
            oh que belo rancho da mocidade
            cantai raparigas: Viva a Liberdade !
            Liberdade, Liberdade
            quem a tem chama-lhe sua
            eu não tenho liberdade
            nem de pôr o pé na rua !
            As carvoeiras são engraçadas,
            Passam ligeiras, enfarruscadas,
            Parecem morenas, é do carvão,
            São boas pequenas, com bom coração
            Há uma outra versão, tb de origem popular, embora prefira a anterior
            São tão bonitas
            as carvoeiras
            são tão catitas
            as feiticeiras !
            Oh! Que lindo rancho
            da mocidade!
            Viva as raparigas!
            viva a liberdade.!
            Liberdade a garotos
            ninguém as devia dar;
            dão-lhes o pé, tomam a mão;
            de tudo se vão gabar !
          • Nuno Cardoso da Silva diz:
            Se é verdade que não pode haver liberdade onde há desemprego, fome, falta de uma casa, ausência de cuidados de saúde, etc., também é verdade que não chega ter trabalho, ter de comer, ter casa e cuidados de saúde para se ser livre. As duas coisas têm de ser combinadas, mas os camaradas cá do sítio acham que subsistir, ter acesso à educação e aos cuidados de saúde já chega e que não é preciso preocuparmo-nos com coisas como liberdade de escolha dos governantes e liberdade de expressão – consideradas liberdades burguesas…
      • Jacquerie diz:
        Ói?!?!
    • Já dei para este peditório diz:
      Já tou a ver xor nuno .c silva. É assim como uma sociedade livre como na líbia(já não dá pra escrever em letra grande , por motivos óbvios!),n’é xor?Ou comó iraque,ou comá Síria…Tendo o BE falido,eis q a propaganda social vem com mais um chamariz- o do tal rui tavares, um gajo, assim a puxar para o asqueroso convencido.Já se sabe que vai parar ao PSucialista-já vimos isso demasiadas vezes a começar pela chorona,os gajos do 13º Mês,com ratos vindos do PCP ou o rapaz da Bata….
      • O que mais me surpreende é a forma como a malta da esquerda anticomunista (isto é, dos que votariam em qualquer coisa «de esquerda», por mais aberrante que fosse, desde que não fosse o PCP) vai saltitando entre estas experiências e experimentações políticas sem nunca entender a triste figurinha que anda a fazer.
    • Já agora, e ainda a propósito disto, esta explicação faria algum sentido se o LIVRE se reclamasse um partido defensor dos oprimidos. Diz-se contudo defensor «das pessoas» (ideia onde cabe o Belmiro de Azevedo, uma pessoa, o George Soros, outra pessoa, e ainda os sem-abrigo da Rua Gonçalo Cristóvão, também eles… pessoas). Não perceber o oceano que separa os dois conceitos é cegueira, e da do pior tipo, a dos cegos que o são por não quererem ver.
      • Que rua é essa? E o que é que essa gente tem?
        • Fica no Porto. Quis com isso significar que quer os mendigos de rua quer os grandes capitalistas nacionais e estrangeiros são «pessoas». Pelo que um partido que, como o LIVRE, se propõe defender «as pessoas», não delimita, nem sequer grosseiramente, quem representa. E eu acredito muito pouco em gente cândida.
          • Obrigado pela explicação.
          • Surprese diz:
            Pelo que entendo baseia a sua ideologia em argumentos ad hominem, e defende uma invejocracia.
            Quer isto dizer que o sem-abrigo poderá ser um violador assassino, mas por ser da “classe escolhida” terá direito ao festim que o seu partido fará com os bens que “expropriarão” a Belmiro de Azevedo.
            Se como refere é do Porto, deveria saber que a opinião da população local em relação essa “pessoa” é positiva, mesmo de quem é um seu “oprimido”.
            Por aqui ninguém o julga por ser um “capitalista”, julgam-no por ser boa ou má pessoa.
            Agora que fiquei a saber como o PCP pensa, prefiro os que pensam em “pessoas”.
    • Joaquim Amado Lopes diz:
      “liberdade associada à igualdade”
      Só que o conceito de “igualdade” que a esquerda defende vem sempre agarrado à limitação da liberdade.
      “a liberdade do opressor será suplantada pela liberdade do oprimido”
      O maior opressor é o Estado, que a esquerda quer sempre cada vez maior e mais opressor.
      O “Livre” (ou é “LIVRE”?) pretende, ao contrário da esquerda a que afirma pertencer, que a liberdade dos indivíduos suplante a liberdade do Estado com, p.e., menos regulamentos e menos impostos? (pergunta retórica porque o Nuno, nos parágrafos seguintes, responde a esta questão de forma bastante enfática)
      “A vontade da maioria oprimida manifestar-se-á na alteração das regras que permitem a exploração por parte da minoria. Mas isso far-se-á sem ditaduras – do proletariado ou outras -, sem Gulags, sem Tchekas, sem fuzilamentos. Apenas pela vontade democrática de um povo consciente dos seus direitos.”
      Em eleições livres e democráticas, sem gritaria na rua nem as minorias a “exigirem” a demissão dos eleitos por maioria. Certo?
      Oops. Por um momento não reparei no detalhe “povo consciente dos seus direitos”. Essa “consciência” será sempre determinada por quanto cada um concorda com as posições do “Livre”. Quem não concordar será “inconsciente”/”ignorante”/”vendido ao capital”/”neoliberal”/”opressor” e não deve participar nas decisões democráticas (que o Governo “Livre” decidirá e comunicará ao povo instruído e “livre”).
      “Quando olho para a nossa sociedade vejo opressores e oprimidos, mas estes são tão diversos que querer reduzi-los a um conceito de classe, tipo proletariado, é ridículo.”
      E, no entanto, foi precisamente isso que fez, quando referiu (no parágrafo anterior) que a “luta” será “contra a oligarquia capitalista”.
      “Mas substituída a exploração capitalista pela produção em auto-gestão, em que os trabalhadores – e não o estado – são proprietários e gestores dos meios de produção, cada um se organizará como bem entender, livres de serem uma ou mais classes, ou não.”
      Cada um se organizará como bem entender, desde que não seja com um ou mais a avançarem com o capital para formar a empresa, assumirem a responsabilidade pelo pagamento das contas e decidirem como a empresa funcionará e os outros a contribuirem com o seu trabalho a troco de um pagamento regular, tenha a empresa lucro ou prejuízo. Liberdade sim mas não exageremos.
      “Eliminados esses mecanismos, compete ao estado impedir a sua reconstituição, e deixar aos cidadãos a liberdade de viverem e produzirem como bem entenderem.”
      Como partido de esquerda, o “Livre” acha que todos são livres de se organizarem como quiserem desde que queiram organizar-se segundo uma forma aprovada pelo “Livre”.
      Não sei o que o “Livre” irá ou não fazer mas de uma coisa não tenho dúvidas: vai ser hilariante. Aliás, já está a ser.
  2. João Pedro diz:
    Brilhante, simplesmente, João.
    Chega-lhges…
    João Pedro
  3. JgMenos diz:
    Cruzes, canhoto!
    Que exorcismo mais canhestro!
  4. Tima diz:
    Mais um da casa a atacar partidos de esquerda com a originalidade de o partido “dimar” cá do sítio ainda nem sequer ter nascisdo e já está a levar pau desde o tripeiro Vilela ao tripado Renato. Uma beleza este 5 dias! A puta da política de austeridade destrói Portugal mas estes baluartes da esquerda pura e cristalina serão demasiado cobardes para a luta e resta-lhes apenas o lugar dos fracos que é o de cuspir na Esquerda que não a deles?!!
    • Eu cá luto. E lutar é não só contra a burguesia como contra os agentes dela na esquerda.
      • Miguel Cabrita diz:
        Belissima peça do típico facciosismo que se vai alimentando à esquerda. Em Português corrente diz-se “Ou estás comigo ou estás contra mim”. Verdadeiramente brilhante.
        • Contraponham ao facciosismo argumentação que desmonte o que afirmei. Não há-de ser assim tão difícil.
          • Miguel Cabrita diz:
            Suponho que seja perda de tempo. O problema em si não é o da validade dos argumentos. É a incapacidade de a partir de pontos de vista opostos, e de posições diferentes chegar a um acordo sobre príncipios e sobre formas de acção que sejam consequentes. E Isso vê-se por exemplo no circo que os média montam à volta de manifestações quer da cgtp ou do que se lixe a troika para as desvalorizar, sem que entretanto não haja vontade de unir esforços superando diferenças ideológicas.
            De resto os exemplos abundam neste blog (tristemente) e o LIVRE é apenas mais um exemplo da forma como a necessária unidade de esquerda vai cada vez mais sendo uma miragem. Parece a história do Consenso da direita que o Passos Coelho queria em torno do memorando. Dizia ele assim: – O consenso é este. Aceitem-no! Negociar ou conceder em alguns pontos o que o PS pedia; Ah não isso não pode ser. Pois bem, é assim mesmo estas discussões.
          • A unidade é possível em torno de princípios. Unidade com quem considera a UE uma promessa de prosperidade partilhada e de democracia transnacional, com quem acha que o socialismo é a economia mista com sector privado, com quem, em suma, quer mitigar os abusos do capitalismo e do imperialismo sem os liquidar, poderá ser conjunturalmente possível para pequeníssimos passos e etapas no processo de transformação da sociedade. A menos que essa gente nasça, como aparenta nascer, voltada para o PS e desejosa de se abraçar a ele.
          • Miguel Cabrita diz:
            A mudança é necessária e poderá ocorrer ou bruscamente ou através de pequenos passos. Considerar a UE uma promessa, é também considerá-la não cumprida. A mudança passaria então por fazer cumprir a tal promessa, mesmo contra os príncipios economicistas que a presidem e presidiram a sua constituição. De facto não há nem vai haver instituição que não seja reformável, nem que seja pela sua dissolução. Esse é um passo pequeno ou grande dependente da perspetiva.
            Quanto a alianças futuras deste “partido” com o PS perfiro esperar para ver, pois no PS não há verdeiramente alguém interessado em qualquer tipo de mudança social ou de inversão na revolução neoliberal, ou mesmo mudança da UE, algo que como projecto é perfeitamente defensável. Se é essa a objecção e se assim for não há que temer algo que possam vir a fazer, na certeza de que serão engolidos num trago pelo PS (ou não, pode ser indegesto).
  5. O que aqui anda de boas intenções… E de entusiasmo… A ver no que isto dá…
    Mas eu teria algum cuidado com a análise «sociológica» que se queira fazer sobre a «não existência de classes sociais»… Pode haver muitos médicos, cientistas e engenheiros e quadros que não saibam que são proletários, mas que os há, lá isso há… E sobretudo cada vez mais vai havendo mais «excluídos» do sistema, para alimentar o velhinho «lumpen proletariat»…
    • Nuno Cardoso da Silva diz:
      Tenham-se as dúvidas que se quiser. Mas ficar servilmente amarrado a análises – por muito geniais que tivessem sido à época – desenvolvidas há 150 anos atrás, ou mesmo só há quase 100, demonstra pelo menos falta de imaginação e de espírito crítico. O Marx, disse, o Engels disse, o Lenine disse (e é melhor ficar por aqui…), e logo estamos conversados! E não passa pela cabeça dos fiéis desta igreja marxista-leninista que os decretos dos seus ícones possam não ser aplicáveis à letra nos nossos dias. Para não dizer que não podem de todo ser aplicados nos nossos dias, mesmo quando as análises que lhes deram origem possam continuar a ser válidas. Mas fazer a distinção entre crítica e proposta é coisa que esses fiéis não sabem fazer. A crítica é válida logo a proposta também o é. Por isso assistimos diariamente à tentativa grotesca de alguns manterem fidelidade a uma linguagem e a propostas que já não servem para nada. Porque de facto nada percebem e nada aprenderam, neste último século e meio…
      • Claro, claro. Quão melhor é abandonar a expressão «proletariado» e adoptar a designação «pessoas» para significar quem representamos. O rigor que não se ganha…
      • A.Silva diz:
        Mas há alguém que tenha discurso mais velho que ruis tavares e danieis oliveiras, que mais não fazem do que defender o capital, pintalgando o seu discurso com bonitas palavras que não colam com o que defendem???
      • Só para esclrecer (a mim mesmo claro… «assentar ideias»).
        Nos «factores de produção» temos Capital (a terra trabalhada já é Capital) e temos Trabalho. Estes dois factores interagem com a ´mãe» Natureza (para já transformando e exaurindo recursos, mas isso é outra estória…).
        Depois há uns «agentes sociais» que são donos de Capital (recursos herdados da acumulação anteriormente feita) e outros «agentes sociais» que são donos de «força-de trabalho». E há também uns grupos de agentes que estão encavalitados entre os dois tipos fundamentais; e que às vezes caem para um lado e outras vezes caem para o outro.
        São aqueles – hoje como há 150 anos atrás – as duas classes fundamentais que, à escala de todo o planeta, vão funcionando como «polos de atracção» dos grupos intermédios.
        Confesso que não estou a ver como é que a análise de São Karl de Trier e de São Frederick de Barmen estejam desactualizadas…
        A menos que me expliquem que foi o facto de haver aviões – e outros «mais pesados do que o ar» que não caem – aquilo que desactualizou a teoria gravitacional de Newton…
        A única coisa que se alterou (e nao é pouca coisa…) foi a População (hoje somos 7.000 milhões) e a Geografia (já não há mais «fronteiras» para desbravar…).
        O sistema capitalista está hoje no seu apogeu e esplendor. Não é por se ter modificado a sua aparência externa que se alterou a sua lógica interna (de crescimento e expansão geográfica em busca de novos mercados).
        Como não se antevê «colonização das estrelas (pode ser… pode ser…) é chegada a altura de os nossos revolucionários «perderem algum tempo» a estudar a lógica profunda de funcionamento do sistema…
  6. Oh camarada, estás-te a esquecer que o MDM tem como a papoila o seu símbolo.
  7. xatoo diz:
    o velhinho lúmpen-proletariado que Marx tanto criticava, excluído das corporações profissionais, indigente, preguiçoso e politicamente ignaro e inactivo, foi promovido pelos lucros no saque imperialista, transfigurou-se e hoje a burguesia chama–lhe “classe média”
  8. proletkult diz:
    O cabeça de cartaz vai ser o Ricardo Araújo Pereira, com o Daniel Oliveira e outros figurões da “esquerda moderna”.
    Mais um partido (?) limpinho e bonitinho, com calções, laçarote e sapatos envernizados para receber a primeira comunhão da burguesia. Com o vazio criado pelos media depois do esvaziamento do BE e do pudor em relação ao outro partido do governo, este partido (?) arrisca-se a ter um colo invejável. O objectivo estratégico é bastante claro: o PS tem plena consciência de que vai perder votos para a sua esquerda, nomeadamente para a CDU, que se apresta a ultrapassar finalmente os dois dígitos. Depois de perder a batalha do BE para a facção UDP da coisa, tem que criar, o mais depressa possível, um travão ao crescimento eleitoral da CDU (e quiçá do MRPP, que acredito que irá correr até ao photo-finish em Lisboa), que é a esquerda que não consegue controlar. De permeio ainda envia mais uma corôa para as exéquias do BE. Um partido (?) fantoche, composto por marionetas e feito para bonecos.
    Já agora, o Rui Tavares não se dizia “anarquista”?
    • Augusto diz:
      O Bloco de Esquerda , não tem nada a ver com a COISA, nem a COISA, faz parte das preocupações do Bloco de Esquerda.
      A Esquerda , precisa e rapidamente apresentar um programa de alternativa ás politicas de direita, um programa que seja claro, e que seja uma mobilizador de todos daqueles que querem travar a destruição do estado social.
      Neste momento ambições pessoais, pois é disso que se trata, ou tentativas de criar pseudo-alternativas de esquerda , assentes em pura gelatina, terão como resultado irem dar com os burrinhos na lama.
      A comunicação social pode dar grande realce á COISA, mas para a COISA ser qualquer coisa, precisa de trabalho militante, o que é uma xatisse para os aderentes da COISA.
      PS O ÚNICO projecto politico novo que poderia ter alguma viabilidade , era um Partido de Defesa dos Reformados, pois por este andar, serão a maioria dos portugueses que cá vivem.
    • Rocha diz:
      Sim, sim ele dizia-se anarquista. Diz mais que descobriu que era anarquista/libertário numa biblioteca. Daí que me pareça que este partido decorre de uma simples associação de palavras:
      LIVRO-LIVRE-LIVRA
      O LIVRA é para ter o A de anarquista. Votar no Rui Tavares? LIVRA!
  9. Antónimo diz:
    Pela prosa matutina, a Ana Sá Lopes 8que até aprecio) já aderiu. A jornalista anda há muito em busca de um sítio onde se ancore, ela mais a Vanessa.
    Assim a coisa soa a agremiação para nós inteligentes, bem intencionados, livres e melhores que os outros nos refugiarmos longe do mundo.
  10. Bento diz:
    Estou a ver …. É assim um “socialismo” fofinho….
    Nao lhes dou um ano…..
    Paz à sua alma
    • «Os burgueses socialistas querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e perigos delas necessariamente decorrentes. Querem a sociedade existente deduzidos os elementos que a revolucionam e dissolvem. Querem a burguesia sem o proletariado. A burguesia, naturalmente, representa-se o mundo em que domina como o melhor dos mundos. O socialismo burguês elabora, a partir desta representação consoladora, um meio sistema ou um sistema completo. Quando exorta o proletariado a realizar estes sistemas e a entrar na nova Jerusalém, no fundo só lhe pede que fique na sociedade actual, mas que se desfaça das odiosas representações que faz dela.
      Uma segunda forma, menos sistemática mas mais prática, [deste] socialismo procurou tirar à classe operária o gosto por todos os movimentos revolucionários, mostrando-lhe que só lhe poderia ser útil, não esta ou aquela alteração política, mas uma alteração nas relações materiais de vida, nas relações económicas. Por alteração das relações materiais de vida este socialismo não entende, de modo nenhum, a abolição das relações de produção burguesas, só possível pela via revolucionária, mas melhoramentos administrativos que se processem sobre o terreno destas relações de produção, portanto que nada alterem na relação de capital e trabalho assalariado, mas que no melhor dos casos reduzam à burguesia os custos da sua dominação e lhe simplifiquem o orçamento de Estado.
      O socialismo burguês só alcança a sua expressão correspondente quando passa a ser mera figura de retórica.
      Comércio livre! no interesse da classe trabalhadora; protecção alfandegária! no interesse da classe trabalhadora; prisões celulares! no interesse da classe trabalhadora: esta é a última palavra do socialismo burguês, e a única dita a sério. O socialismo da burguesia consiste precisamente na afirmação de que os burgueses são burgueses — no interesse da classe trabalhadora.»
      (in Manifesto do Partido Comunista)
    • Oh Bento com dirigente do PS à proa, podes crer que vai durar muito mais. Pois tudo serve para tentar afundar o PCP, e outros movimentos dignos de esquerda.
  11. JP diz:
    Boa análise.
    Em boa linguagem “empresarial” este LIVRE não passa de um re-branding do Bloco.
    Primeiro foi a Política XXI e a UDP. Como esses já não davam, criou-se o BE. Agora o BE já é história, crie-se o LIVRE.
    Em qualquer caso, não passa de um “produto de marca branca” do PS.
    Em todo o caso, o “partido” é tão bonzinho, tão assético, tão sem sal que, desconfio, vão distribuir gatinhos na campanha eleitoral…
    Como alguém disse atrás, não passa de um movimento para descansar a consciência de quem se diz de esquerda mas nunca seria capaz de votar no PCP.
    • Victor Nogueira diz:
      O seu comentário aguarda moderação.
      mesmo os felinos, mesmo qd ron-ronam, podem ser perigosos qd colocam de fora as garras afiadas :-)
    • Augusto diz:
      Este LIVRE nada tem a ver com o Bloco de Esquerda, e só que desconhece o per curso do BE e das forças politicas que lhe deram origem pode escrever patacoada como as que escreveu.
      E não é ao Bloco de Esquerda que a COISA irá fazer alguma mossa,a sseus aderentes virão de onde menos se espera.
      E quem é de ESQUERDA e nunca votaria no PCP, é porque tem desacordos de principio com esse partido.
  12. JgMenos diz:
    Uns, com os olhos postos no passado,
    Vêem o que não vêem: outros, fitos
    Os mesmos olhos no futuro, vêem
    O que não pode ver-se.
    Porque tão longe ir pôr o que está perto -
    A segurança nossa? Este é o dia,
    Esta é a hora, este o momento, isto
    É quem somos, e é tudo.
    Perene flui a interminável hora
    Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
    Em que vivemos, morreremos. Colhe
    o dia, porque és ele.
    Interlúdio pessoano….para a promoção deste e de cada dia!
  13. xatoo diz:
    basta o Nuno Cardoso da Silva estar envolvido na “coisa” para ser um sinal de fracasso completo. Isto é o que se infere de alguém que afirma desconhecer a utilidade da teoria do Valor em Marx para medir o que quer que seja. Finalmente! aparece alguém que vai abolir o Trabalho como medida de valor e como força de transformação da natureza para obter os meios de subsistência necessários ao homem. Como é que o “Livre” o fará? ora, isso agora não interessa nada…
    • Xatoo, não venha para aqui falar dessas velharias com 150 anos! Daqui a nada está a defender que usemos de lógica nos nossos raciocínios, qual Aristóteles, como se vivêssemos há 2500 anos…
  14. Camilo Jeremias diz:
    um partido livre… livre de quê?
    ainda se fosse um partido que combatesse qualquer poderoso… ajudar na luta dos de baixo contra os lá de cima… entendia-se que seria livre… mas indo para a cama com todos os poderosos, não passam de uns grandes f…. d p…..!
  15. Miguel diz:
    João Vilela — se, como muito bem aponta, eles ainda não fizeram nada, então por que razão não espera por que eles façam alguma coisa para começar a criticá-los?
    • Porque o ser humano é dotado de um conjunto de faculdades de raciocínio, a começar pela indução. Tendo em conta que Rui Tavares vem pedindo há meses uma aproximação «das esquerdas», isto é, do PCP e do BE ao PS, é uma altíssima probabilidade que o seu partido seja uma muleta do PS. Também é faculdade do raciocínio deduzir: e por aí se percebe, num silogismo básico, (1) Para governar é preciso maioria ou parceiro de coligação; (2) O PS irá governar; (3) O PS precisa de maioria ou parceiro de coligação. Somando a indução feita à dedução que lhe segue, extrai-se da pura lógica que o LIVRE ainda não fez nada, mas tem todos os condimentos para vir a fazer. E muito. E muito mal.
      • Miguel diz:
        E se essa aproximação ao PS é o cúmulo do mal, qual é a estratégia preferível para fazer frente aos interesses da finança e da banca? Deixar que o próximo governo vá ser uma coligação PS-PSD ou PS-CDS?
        • Denunciar o PS como partido ao serviço da banca e combatê-lo junto com os partidos que estão contra ela. Querer uma aliança com o PS é como uma gazela querer uma aliança com uma leoa.
          • Miguel diz:
            É discutível que esteja perdido à partida. Mas, de qualquer modo, o resultado prático da estratégia que propõe será o próximo governo ser PS-PSD.
          • Que me parece a melhor forma de dinamitar o bipartidismo burguês, à imagem e semelhança da Grécia.
        • E qual é a diferença ser um governo PS PSD ou um governo Ps mais muleta???????????? Nenhuma pá! O PS é um partido fascista, e vai continuar a sê-lo. Não o fosse como é que no seu tempo todo de história estivesse ligado ao Cónego Melo, a atentados, ao fmi por três vezes e outras patifarias.
        • Miguel Cabrita diz:
          O problema é que esse “partido” não venha a ser nem o que diz de si nem o que dele se espera, mas antes o tal papão anti-política (á moda antiga), popular e populista. O ar enjoado de uns e a superioridade com que outros se apresentam amputa-lhes capacidade para o serem. Esperemos para ver.
      • O PS é de extrema-direita, como se pode juntar ao PCP?!
  16. Bento diz:
    “Socialismo, no sentido de recusa da mercantilização das pessoas, do trabalho e da natureza. Embora a ação governativa ou estatal seja crucial na criação de uma economia mista, em geral com três setores (privado, público e associativo/cooperativo), o nosso socialismo não é um estatismo.”
    Esta parágrafo da declaração de princípios do LIVRE quer dizer o quê?
    O nosso socialismo nao é um estatismo. É um liberalismo?
    Recusa da mercantilizacao das pessoas, do trabalho…. Então mas o trabalho nao é uma mercadoria na tal economia mista?
    E as classes sociais antagônicas? continuam neste socialismo “cosy” ?
    OH camaradas mas isto já existe agora ! para que tanto esforço?
  17. João Vasconcelos e Sousa diz:
    Deixo aqui o post que fiz ontem na minha página pessoal do Facebook, e que partilha bastantes pontos de vista com este texto. Contudo, aquilo com que acabo por concordar menos é com o primeiro parágrafo. Não simpatizo particularmente com o Rui Tavares e temo que o mesmo venha a acontecer com este LIVRE, mas acredito que as pessoas que o formam tenham por trás algo mais idealista e substancial do que apenas quererem ser cool. Aqui fica, portanto, a minha opinião sobre o tema:
    - o facto de este novo partido entrar na vida política nacional dizendo com galhardia que se vai situar “no meio da esquerda” é significativo. um partido que ainda nem sequer existe e já está a criar subterfúgios e a compartimentar a esquerda está a ser mais audacioso do que o próprio PS – que ainda hoje, apesar de a realidade o desmentir diariamente, diz pertencer à esquerda, sem “meios” nem “centros”. parece haver aqui algum receio da malta do LIVRE (leia-se rui tavares) em ser confundida com a “esquerda-esquerda”
    - é inevitável que se interprete a infeliz expressão “meio da esquerda” como um primeiro piscar de olho ao PS. à semelhança do que acontece na alemanha e em outros países europeus, este partido “verde” pode servir como uma espécie de “CDS da esquerda”, fazendo de muleta a eventuais governos de maioria PS no futuro. nesse sentido, não é descabido concluir que não se poderá contar com o LIVRE para uma oposição afirmativa e sistemática à austeridade e à destruição dos direitos laborais em portugal
    - o LIVRE diz ser socialista, e cito, “no sentido de recusa da mercantilização das pessoas, do trabalho e da natureza, e no sentido de que seja conferida ao estado a garantia de aplicação dos princípios de universalidade, liberdade e igualdade de oportunidades” – fazendo depois a ressalva de que, apesar de reconhecer o papel importante do estado, o socialismo do LIVRE “não é um estatismo” e que defende uma economia mista. ora, da mesma forma que quem solta umas notas no banho não é cantor, ou que quem dá uns toques numa bola com os amigos não é futebolista, também não é apenas por se recusar “a mercantilização das pessoas, do trabalho e da natureza” que se é socialista. quanto muito, é-se um social-democrata com espírito crítico. o LIVRE pode ser o que bem entender, mas que não se sirva nem deturpe ainda mais uma palavra tantas vezes mal interpretada
    - acho curioso que um partido que ainda é pouco mais do que um esboço já esteja a apontar às eleições europeias do próximo ano. é legítimo, mas estranho, que uma nova organização que pretende refrescar o panorama político tome essa atitude. como se não tivéssemos já suficientes partidos eleitoralistas em portugal…
    - a obsessão excessiva com as eleições arrasta frequentemente consigo um certo descuro da realidade e da preocupação com as necessidades da população. daquilo que vi, e mesmo pondo em prática um inusitado contorcionismo entre o PS, o PC e o BE, o LIVRE dificilmente poderá ser um dia um partido de massas – não tem os meios do PS, nem a tradição do PC (que não veio do nada mas sim de anos e anos de lutas, quer se goste ou não) nem tão-pouco um rosto com o brilhantismo semelhante ao do líder que o BE teve até ao ano passado. esta realidade, a juntar ao facto de o LIVRE dificilmente vir a ser um partido com implantação no seio dos trabalhadores (mas sim sobretudo numa elite educada e politizada) faz com que a sua própria razão de ser – servir de apoio aos governos PS – possa rapidamente deixar de fazer sentido
    - por uma questão de princípio só não dou a minha assinatura a partidos fascistas, pelo que, caso encontre alguma banca de recolha de assinaturas, ajudarei sem problemas. contudo, esse muito provavelmente será o meu único contributo para com um partido que para mim não passa do projecto pessoal do rui tavares (e, num futuro próximo, quase que aposto, também do daniel oliveira). qualquer outro ponto de contacto que possamos vir a ter acontecerá nas ruas, isto no caso de o LIVRE estar presente nas manifestações e protestos que são hoje indispensáveis. e, de preferência, que esse contacto entre nós não aconteça apenas enquanto o PSD estiver no poder…
  18. Nuno Cardoso da Silva diz:
    Os camaradas fazem a festa, deitam os foguetes e apanham as canas… Todos sabem o que vai ser o Livre, como ele vai atraiçoar os trabalhadores, como irá para a cama com a burguesia, como será o animal de companhia do capitalismo… Confesso que há muito tempo que não me ria tanto!
    Em termos económicos, apenas para esclarecer, a minha visão – minha, por enquanto, e não assumidamente do Livre – é a de um sistema produtivo de tipo cooperativo, em que os meios de produção são detidos por quem os utiliza, pelo que não há nem capitalismo, nem exploração do factor trabalho, nem proletários. Mas há liberdade de investir, de produzir e de consumir, sem intervenção do estado a não ser para protecção da saúde pública e do ambiente. Logo toda a vossa treta de estar ao serviço da burguesia e do capital não passa disso mesmo: de uma enormíssima treta. A chatice é que numa sociedade em que toda a produção seguisse o modelo cooperativo deixava de haver proletários, e sem proletários deixava de haver partido proletário, ditadura do proletariado, e uma vanguarda exploradora do proletariado. E lá acabava a vaca leiteira do PCP…
    E já agora, falar de pessoas em vez de trabalhadores, é porque qualquer comunidade é constituída por pessoas. As quais desempenham as mais variadas funções. O que é preciso é acabar com a exploração do homem (pessoas) pelo homem (pessoas), não é reduzir a condição humana à função produtiva. Eu, na minha vida, sou produtor apenas numa parte do tempo. No resto do tempo sou consumidor, sou criador, sou pensador, ou sou meramente ocioso. O que os marxistas-leninistas querem é reduzir-me à condição de factor de produção, para condicionar toda a minha vida à exploração do meu trabalho pelo partido e pelo estado dominado pelo partido. Pela parte que me toca escusam sequer de tentar…
    • Com certeza. E o desmantelamento dessa sociedade exploradora não será feito por uma classe, consciente de que o é, e empenhada nesse desmantelamento. Será feito pelas «pessoas». O motor da história é a luta de «pessoas». Este texto é digno de um aluno da 3ª «pessoa».
      • Nuno Cardoso da Silva diz:
        A consciência de uma comunidade de valores e de interesses não faz uma classe. O desmantelamento da sociedade exploradora será certamente feita por pessoas, embora isso exija também uma organização e uma vontade comum. Mas será uma organização criada de baixo para cima, e não de cima para baixo como vocês gostam.
    • Joaquim Amado Lopes diz:
      “Em termos económicos, apenas para esclarecer, a minha visão – minha, por enquanto, e não assumidamente do Livre – é a de um sistema produtivo de tipo cooperativo, em que os meios de produção são detidos por quem os utiliza, pelo que não há nem capitalismo, nem exploração do factor trabalho, nem proletários.”
      Agora já percebo. O Nuno é um troll. Não admira que se esteja a rir, com a atenção que lhe está a ser dada.
    • proletkult diz:
      Para “atraiçoar os trabalhadores” era preciso que os trabalhadores se aproximassem e confiassem nesse partido (?).
    • Victor Nogueira diz:
      Tudo pessoas, tudo all Goodfellas, todos irmanados e de braços dados, tudo pela Nação, Nada contra a Nação.
      Mas esta malta vive onde ? Esta malta nem ao menos consegue ler para além do que dizem os jornais da burguesia ? E no entanto as notícias estão lá. Basta saber ler e não sofrer de Ileteracia. Qual é a irmandade possível entre a panela de barro e a de ferro, entre a banca e os grandes accionistas da banca e os pequenos depositantes reformados a quem ela cobra despesa de gestão, entre o dono da fábrica e o operário à peça ou o desempregado que trabalha por apenas uma bucha porque a isso é forçado, entre o mineiro do ouro no Congo e os accionistas que os exploram ? Em que lugar e época os poderosos, os efectivos senhores do mundo, no seu conjunto, abdicaram do seu poder pacificamente, sem punir os “invejosos” da arraia miúda que tenham ousado afrontá-los ?
      Mas esta malta ainda não conseguiu perceber a lógica do sistema capitalista ? Esta malta sonha com os falanstérios, qual irredutíveis gauleses face ao Império ?
      A lógica predadora e violenta quando não sanguinária do capitalismo não é acumular, acumular, acumular lucros ? Não é procurar sempre investir não em função das necessidades sociais ou das “pessoas” mas sim onde o lucro for maior, nem que para isso invente necessidades e diminua a qualidade e durabilidade dos produtos ou desencandeie guerras destrutivas para depois lucrar com a reconstrução ? Bolas, já no tempo da outra senhora e nas aulas de economia, na universidade, os professores nos debitavam isso.
  19. Bento diz:
    Não duram um ano. Até as eleições europeias. Não vão ser eleitos que é o que pretendem para manterem as mordomias da burocracia europeia e vai-se acabar num instante a tesão.
  20. JP diz:
    Pois eu proponho começar a fazer um apanhado de matérias concretas para sairmos do discurso-redondo das “esquerdas” e da converseta de chacha.
    Ora bem, assim de cabeça, gostava de saber a posição do LIVRE sobre:
    1. Privatizações em curso;
    2. Aumento do salário mínimo;
    3. Aumentos da Função Pública e Pensões;
    4. Austeridade;
    5. Presença no Euro;
    6. Presença na Nato;
    7. Ingerência em países estrangeiros (p.e. Líbia e Síria);
    8. Orçamento de Estado 2014;
    9. Imposto sobre PPP’s;
    10. Orçamento Europeu;
    11. Regra de ouro na Constituição;
    12. Revisão Constitucional.
  21. Rocha diz:
    Se a papoila é um modelo de sucesso no Afeganistão porque não pode ser em Portugal? Grande Rui Tavares! É com o Rui Tavares que vamos para o pelotão da frente da moeda única!
  22. Pier Paolo diz:
    Não sou portugues, pelo que peço desculpa pelos erros. Não sou comunista.
    Sou simplesmente de esquerda e subscrevo integralemente este post.
    Se havia uma coisa que não fazia falta neste país era mais um partido de “esquerda europeista”.
    Ou seja, na situação actual, um oximoro.
    Mais um partido que não percebe:
    - que o tempo que vai demorar em tentar alcançar o sonho de uma UE diferente (uma união das esquerdas e outras tretas parecidas), vai levar o país para o abismo, tal como aconteceu na Grécia e como está a acontecer em toda a periferia.
    - que o Tratado de Lisboa para alem das genericas declarações de principio sobre os direitos fundamentais é o resultado de um projecto politico “Hayekiano” de submissão dos governos democraticos as forças do mercado a partir do “pilar” da Independencia do Banco Central.
    - que foi o Euro (não o euro forte ou fraco mas sim a propria união monetaria) a causa dos desequilibrios internos da zona euro que determinaram a amplificação e o perdurar da crise gerada pelo crack da Lehman.
    Disse “um partido que não percebe”.
    Mas depois de tantos debates internacionais sobre o assunto, começo a desconfiar que mais do que ignorancia trate-se de má fé…
    Mais um partido de direita disfarçado (inconscientemente ou não) tal como PS,BE e em parte o proprio PCP.
    Boa deflação a todos!
  23. Dezperado diz:
    Sinceramente isto nao se faz.
    Então agora que o PCP aparecia nas projecções com 16%, lembraram-se de criar um novo partido de esquerda????
    Na boca de um comunista, acho que deveria ser proibido criar mais partidos de esquerda, porque só servem para roubar votos ao PCP.
    Alias, isto é tudo uma cabala só com o objectivo de enfraquecer o PCP.

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