quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Raquel Varela ~ A comida (não) é uma arma: Carta aberta a Isabel Jonet




A comida (não) é uma arma

A comida (não) é uma arma
Carta aberta a Isabel Jonet,
Não pude deixar de ficar chocada com as suas declarações em como «devemos empobrecer» e que «não podemos comer bife todos os dias» e «que vivemos acima das nossas possibilidades».
O boletim do INE (Balança Alimentar Portuguesa 2003-2008)[1] lembra-nos que a dieta dos Portugueses está cada vez menos saudável. A fome, escreveu um dos seus maiores estudiosos, o médico e geógrafo Josué de Castro, pode ser calórica ou específica, isto é, pode-se comer muitas calorias e mesmo assim ter fome. Hoje os reis são elegantes e os pobres gordos, num padrão histórico inusitado. Os Portugueses estão a comer uma quantidade absurda de hidratos de carbono. O consumo de papas aumentou 7% com a crise, com consequências graves para a saúde – diabetes, doenças degenerativas, obesidade – porque se trata de açúcares simples. As pessoas alimentam-se apenas de forma a garantir a energia necessária para continuarem a produzir. Sentem-se saciadas, mas manifestam carências alimentares de vitaminas, nutrientes, sais minerais e proteínas de qualidade. Os Portugueses têm uma alimentação hipercalórica – média de 3883 kCal por dia – pobre em peixe e carne, proteínas de origem animal, essenciais, porque são de digestão lenta e indispensáveis ao sistema nervoso.
O peixe era um dos raros alimentos na viragem do século XIX para o século XX que os pobres comiam mais que os ricos. Agora, o peixe chega à lota e é imediatamente colocado em carrinhas de frio em direcção à Alemanha e à Suíça, embora umas caixas fiquem na mesa dos ricos e do Governo que a senhora defende. O mesmo começou a passar-se  com os medicamentos – o paraíso das exportações é um inferno para quem vive do salário e empobrece.
No Norte da Europa os trabalhadores foram convencidos a comer «sandes» ao almoço para aumentar a produtividade e quase só a alta burguesia tem acesso a restaurantes. Comer de faca e garfo nos países nórdicos é fine dining.
Depois do 25 de Abril de 1974, as classes trabalhadoras portuguesas estiveram algum tempo entre as mais bem alimentadas do mundo, melhor do que na própria Alemanha ou EUA. O aumento dos salários dos trabalhadores, por via das lutas, greves e ocupações de empresa, a reforma agrária, o congelamento das rendas nas cidades e uma economia fortemente nacionalizada, entre outros factores, permitiram uma produção alimentar de qualidade e sobretudo de acesso policlasssista – não era preciso ser rico para se comer bem. Ir a um restaurante à hora de almoço comer peixe grelhado podia ser feito por um operário ou por um professor. Isso escandalizou os ricaços, claro: a visão de operários a experimentar o sabor do marisco (muitos pela primeira vez na vida) nos restaurantes da Rua das Portas de Santo Antão levou alguns então a apelidá-los, com rancor mal disfarçado, de «nova burguesia da cintura industrial de Lisboa»!
Com o aumento das rendas, diminuição dos salários, perseguição da ASAE e saque fiscal, os restaurantes populares fecham portas na mesma proporção que aumentam as filas do Banco Alimentar.
A fome é um problema cuja origem reside única e exclusivamente no sistema capitalista. Hoje, há tecnologia, terras e conhecimento para que o homem não esteja dependente das vicissitudes Natureza para se alimentar. É aliás isso que distingue o homem dos outros animais, domar a Natureza, através do trabalho, e superar o reino da necessidade, isto é, comer todos os dias e poder compor música ou escrever um livro. Isso é a liberdade.
A fome em Portugal deve-se única e exclusivamente a escolhas políticas pelas quais a senhora é co-responsável, com a sua defesa da política de «empobrecimento». A fome deve-se:1) à manutenção de salários abaixo do limiar de subsistência, abaixo do cabaz de compras, o que torna os sectores mais pobres dependentes das instituições que os alimentam; 2) ao encerramento de fábricas, empresas e aos despedimentos para elevar a taxa de lucro na produção; 3) ao desvio de investimentos para a especulação em commodities, entre elas, grãos; 4) à deflação dos preços na produção, ou seja, se não obtêm uma taxa média de lucro que considerem apetecível, as empresas de produção de alimentos preferem não produzir.
Mas a fome deve-se ainda a um factor mais importante tantas vezes esquecido, a questão da propriedade da terra. Enquanto mercadoria produzida para gerar lucro, a produção de alimentos deve render um lucro médio ao proprietário da produção semelhante ao lucro alcançado na indústria. Para além desse lucro médio temos que arcar também com a renda da terra (um pagamento inaceitável por aquilo que a natureza nos deu de borla). É também essa renda responsável pela existência de subsídios à produção. Porque a agricultura é menos produtiva do que a indústria, a renda da terra é subsidiada.Com a crise do crédito, esses subsídios diminuem e o preço dos alimentos dispara até preços incomportáveis. Por isso, sem emprego e expropriação de terras (reforma agrária) sob controle público, a fome só irá aumentar.
Quem percorre Portugal percebe também que se aqui há fome não é por falta de terras, máquinas ou pessoas para trabalhar. Em Portugal, 3 milhões de pessoas são consideradas oficialmente pobres. Produzimos uma riqueza na ordem dos 170 mil milhões de euros (PIB português que poderia ser bem maior não fosse a política de desemprego consciente do governo) e temos de “empobrecer”? Para onde vai este dinheiro, dona Isabel Jonet? 170 mil milhões de euros produzem os Portugueses juntos e não podem comer bife?
As tropas de famintos são uma mina de ouro para as instituições que vivem à sombra do Estado a gerir a caridade: os nossos impostos, em vez de serem usados para o Estado garantir o bem-estar dos que por infortúnio, doença ou desemprego precisam (solidariedade), são canalizados para instituições dirigidas sobretudo pela Igreja católica (caridade). A solidariedade é de todos para todos, a caridade usa a fome como arma política. Por isso nunca dei um grão de arroz ao Banco Alimentar contra a Fome. A fome é um flagelo, não pode ser uma arma para promover o retrocesso social que significa passarmos da solidariedade à caridade(zinha).
A sua cruzada, dona Isabel Jonet, lembra infelizmente os tempos do Movimento Nacional Feminino e as suas campanhas de socorro «às nossas tropas». As cartas das «madrinhas de guerra» e os pacotes com «mimos» até podiam alegrar momentaneamente o zé soldado, mas destinavam-se a perpetuar a guerra. Os pacotes de açúcar e de arroz do seu Banco Alimentar aliviam certamente a fome das tropas de destituídos que este regime, o seu regime, está a criar todos os dias. Mas a senhora e as políticas que defende geram fome, não a matam.
Raquel Varela, historiadora, coordenadora do livro Quem Paga o Estado Social em Portugal?(Bertrand, 2012)
 Publicado em Novembro de 2010.

~~~~~~~~~~~~~~


Este artigo foi publicado em cinco dias. Bookmark o permalink.

31 Responses to A comida (não) é uma arma

  1. António Costa says:
    Imagino que para a Raquel, um dia que seja ministra da nutrição, o destino dos vegetarianos seja campos de reeducação alimentar, para se deixarem dessa coisa da subnutrição
    • Raquel Varela says:
      Caro,
      Os vegetarianos têm que ser muito ricos em Portugal, com o valor dos alimentos de hoje, para comerem todos os nutrientes que devem. Mas passemos à frente, porque o essencial é escolher o que se pode comer. Quem quer não come carne> Mas quem quer deve poder comer carne.
      • Luis Ferreira says:
        Não é assim. A alimentação vegetariana é sensivelmente ao mesmo preço da restante. Espero que outros dados neste texto não tenham a mesma falta de verdade que o deste comentário.
        A argumentação sobre a nutrição deve ter em em conta o factor da ineficiência da produção de carne.
      • António Costa says:
        Então o essencial resume-se ao que quem deve querer algo, deve poder tê-lo, estando-se aqui a falar de comida? Se eu quiser comer um simples prego de carne, devo poder? Se eu quiser comer uma sapateira devo poder? Se eu quiser comer duas doses de cozido à portuguesa, devo poder? Vamos tentar não ser redutores só para justificar um argumento mal fundamentado
      • XisPto says:
        Mas onde é que o Lenine, ou o Gorgi, mais dado a essas coisas da natureza, disseram que numa sociedade comunista alguém pode ser vegetariano?
    • Nightwish says:
      O que mais se vê são cantinas, refeitórios e restaurantes com pratos vegetarianos…
  2. Isabel says:
    “As pessoas alimentam-se apenas de forma a garantir a energia necessária para continuarem a produzir”: não, não e não. As pessoas alimentam-se assim mal porque não sabem comprar bem, nem com muito, nem com pouco dinheiro. Porque a publicidade impinge alimentos errados que elas não sabem reconhecer, porque nunca aprenderam nem se interessaram por comer melhor. O problema que refere é pura falta de conhecimentos de nutrição, porque ter menos dinheiro nunca foi sinónimo de comer pior; pergunte a qualquer pessoa que tenha vivido em tempos difíceis, como é o caso dos meus avós. Eles não se lembram, nunca, de passar fome, felizmente; lembram-se é de que certas coisas eram um luxo raro. Porquê? Porque não se podiam comprar sempre. Portanto, o segredo está em viver de acordo com as possibilidades e saber gastar BEM o dinheiro, independentemente da quantidade que se tenha; ou será que ser rico e comer bife todos os dias será saudável?
    • Catiamaria says:
      Os seus avós certamente eram dos poucos felizardos que não passaram fome nesse tempo, para sua informação muita fome houve e há hoje em Portugal, não por falta de conhecimento ou de ignorância mas por falta de poder de compra!!… Convido-a alimentar um agregado familiar durante um mês com o ordenado mínimo nacional e depois venha dizer que é falta de conhecimento ou ignorância na hora de comprar os alimentos certos!!… Ignorância é falar do que não sabe e quando está longe da realidade vivida de muitos milhares de portugueses de hoje em dia.
      • Diogo says:
        Ò Cátiamaria, para quê esta última frase? Até estava a dar o seu o seu argumento legitimamente e depois, no fim, um insultosinho desnecessário para acabar.
        Será que não se consegue discutir um assunto sem nos andarmos a ofender uns aos outros? Debates não têm que ser discussões…
  3. Isabel says:
    “Os vegetarianos têm que [sic] ser muito ricos em Portugal” > mais uma vez, grande falta de informação da sua parte. Leguminosas são dos alimentos mais baratos e proteicos que há, por exemplo; ou é daquelas pessoas que acha que quem é vegetariano só se banqueteia em festins de tofu, soja e seitan? (E mesmo que banqueteasse, há processos relativamente simples de produzir estes alimentos em casa, pasme-se! Coisas que se aprendem quando se é vegetariano e não se é rico).
    • Fora de mim says:
      Se as leguminosas são mais baratas, ou se são os bifes…. enfim… E que tal, então, “ensinar a pescar”, em vez de “dar o peixe” aos que dependem do Banco Alimentar e ensinar-lhes os tais “processos relativamente simples de produzir (…) alimentos em casa”?! Afinal, são “coisas que se aprendem quando (…) não se é rico”…
  4. Suspeita says:
    Excelente resposta. Identifico-me na perfeição. Parabéns.
  5. Ana Morin says:
    “Caro,
    Os vegetarianos têm que ser muito ricos em Portugal, com o valor dos alimentos de hoje, para comerem todos os nutrientes que devem.” – para alguém tão [teoricamente] bem informada, a Raquel está longe da realidade…
    Comer bem e saudável não é uma questão de dinheiro, mas de escolha e de informação.
    Além do mais, acho bem que não se coma bife todos os dias, não sei se já leu sobre o assunto, mas a carne vermelha não é a mais saudável!
  6. Agata says:
    Por acaso isso não é verdade, querem comparar o preço de meio quilo de carne com meio quilo (ou mesmo um quilo!) de feijão ou outra leguminosa?! Ou mesmo com soja?! É porque fica muito mais barato ser vegetariano, para além das óbvias questões ambientais.
    Mas não acho que seja essa a questão, pois penso que ela se prende com a falta de vergonha na cara desta mulher que parece querer perpetuar a fome e a pobreza (será para poder manter o seu trabalho de caridadezinha e ser vista com “bons olhos” socialmente?!) invés de os abolir!
  7. Filipa Costa says:
    Parabéns!!!
    Adorei ler o seu artigo, Raquel.
    Uma resposta perfeita às declarações chocantes da Sra. Isabel Jonet.

    Infelizmente a maioria das pessoas tem alguma dificuldade em entender que igualdade significa que todos temos direito à opção. Irmos ao supermercado e podermos escolher que alimentos comprar, deveria ser um direito de todos. Infelizmente alguns acham que a escolha faz parte de uma pequena elite. Comentários como o da Sra. Jonet só demonstram que a desigualdade em Portugal está a aumentar perigosamente.
  8. Carlos Santos says:
    Existe muita contra informação sobre nutrição, devido a interesses económicos e farmacêuticos.
    A verdade é que a fruta e vegetais que consumimos hoje em dia não possuí a mesma quantidade de nutrientes que possuía antigamente, devido à constante utilização dos mesmos solos, que ano após ano, são cultivados e nos quais são utilizados pesticidas e outros produtos nocivos aos mesmos.
    Para uma boa nutrição é necessário ingerir principalmente carne, peixe, vegetais, alguma fruta e ovos. O resto é dispensável e muitas vezes desnecessário como por exemplo o arroz que não passa de hidratos de carbono vazios, com muito poucos nutrientes.
    De notar que o mais importante é comer uma alimentação não processada, sem açucares e outros produtos adicionados.
  9. António says:
    Já aqui foi dito mas nunca é demais repetir. Essa historia da proteinas está obviamente mal contada. Nao precisa de carne e peixe para fazer ter uma vida saudavel e lhe garanto que uma dieta variada vegetariana pode ser até mais barata que uma dieta “normal”. E falo-lhe por experiencia propria eporque tenho as contas feitas. Nao ando subnutrido nem com falta de vitaminas, antes pelo contrario, nunca me senti tao bem, com a vantagem de chegar ao fim do mes com mais dinheiro no bolso. Com alguma informaçao (obtida de forma gratuita na internet por exemplo) qualquer pessoa pode seguir este caminho.
    Disparar disparates nao faz o artigo mais serio…. O paragrafo da alimentaçao dos trabalhadores no pos-25 de abril também é de facto brilhante. Teorias da conspiraçao e a suposta inveja dos ricos porque o vizinho pobre come peixe também é coisa que só podia ser lida neste exemplar blog.
    A confusao contante entre fome e má nutriçao (nao subnutriçao) para tentar convencer-nos desta brilhante peça também nao abona em seu favor.
  10. Ai não que não é.
    A comida é uma arma e a fome também .
    A exms Isabel JONET
    foi à TV para dizer que ” NÃO EXISTE MISÉRIA EM PORTUGAL.”

    Eu pergunto:
    -Se NÃO EXISTE MISÉRIA EM PORTUGAL para que raio serve então o tal Banco alimentar?? Para dar de comer aos ricos amigos da senhora em questão??
  11. será que a corda do ulrich aguenta? says:
    - será que a corda da forca do ulrich aguenta?
    - ai aguenta, aguenta!

    boa resposta, Raquel!
  12. António Paço says:
    Parece que alguns vegetarianos resolveram fingir que não entenderam de que fala este post para aqui defenderem a sua causa. Ou, como o Luis Ferreira, tendo demonstrado zero, nicles, coisa nenhuma, sugerir que os dados citados no post poderão ser falsos. Tem bom remédio, sr. Ferreira: vá verificá-los.
    Há um argumento usado pela Isabel que é verdadeiro (há falta de informação sobre nutrição), mas usado ao serviço de uma péssima causa: afirmar que «ter menos dinheiro nunca foi sinónimo de comer pior». Se a Isabel saísse do seu círculo restrito (as memórias dos avós que «não se lembram, nunca, de passar fome»), saberia que houve e há muita gente que passou e passa fome, e não é por falta de educação alimentar. É mesmo por falta de dinheiro. A falta de informação tem o seu papel, claro. As duas coisas não são sinónimas, mas costumam andar juntas.
    «As pessoas alimentam-se apenas de forma a garantir a energia necessária para continuarem a produzir», cita a Isabel para dizer «não, não e não».
    Olhe que sim, Isabel, olhe que sim. Há anos dei aulas num bairro africano da periferia de Lisboa. A maior parte das minhas alunas (adultas) trabalhavam na limpeza de escritórios. Levantavam-se às 4 da manhã para garantir que os escritórios estariam limpos para as pessoas que iniciavam o trabalho às 9. Depois, faziam outros turnos após as 7 da tarde. A sua alimentação era muito desequilibrada. Por exemplo: em vez de beber água, bebiam bebidas açucaradas (mais caras que a água, claro). Passavam muitas horas sem comer e depois encharcavam-se de comidas baratas e hipercalóricas. Por quê e para quê? Falta de informação, certo. Mas a falta de dinheiro, os horários de trabalho, os condicionamentos à mobilidade (para os mais pobres qualquer deslocação implica fazer contas de cabeça, e não há lojas de comida vegetariana e biológica nos bairros mais pobres) são um condicionamento absoluto. Por isso, comem alimentos que, como se dizia – e ainda diz – no campo, ajudam «a puxar carroça», que forneçam calorias instantâneas para queimar.
    Eu não era professor de nutrição, mas fiz os possíveis por melhorar a informação dos meus alunos e alunas. Estou certo de que muitos professores o fazem, ainda que a sua área seja o português, a matemática ou a geografia. Mas a luta contra a fome não é só, nem principalmente, por melhor informação alimentar. É sobretudo contra as políticas (descritas no post) que geram fome.
  13. Afonso Costa says:
    Fala-se de fome e empobrecimento e aparece o exército dos vegetarianos a defender a sua causa para desviar o assunto da provocação da comendadora Jonet. São todos dos Jonet, ali de S. José à Lapa?
  14. Piskas says:
    Porra António, estava a ver, que andava tudo maluco…obrigado por alguma lucidez…Pessoal, bem vindos ao Portugal real….é que, há que andar na rua, cuzinho sentado a intelectualizar, dá conclusões da treta…
    Obrigado Raquel, e perdoa-os, é que é muita barriguinha cheia, então só conseguem mirar os seus umbigos.
    …e desculpem lá qualquer erro ortográfico, é que sou muita bronco, deve ser da falta de chicha.
  15. Concordo totalmente com a sua carta. Claro que vão aparecer uma série de iluminados a dizer que “as pessoas é que não sabem comer” e “não sabem comprar”, mas pronto, para estas mentes obtusas as políticas educativas existem por si e não influenciam em nada a forma como vivemos em sociedade…
    Os vegetarianos que resolveram vir aqui mandar farpas, que calculo sejam de direita (vá-se habituado Raquel que os partidos têm gente desta a descredibilizar comentários inteligentes, quando estes obtém demasiada popularidade), parece que também falam do que não sabem, a alimentação para vegetarianos é barata que quiserem comer tofu dia sim dia sim. Se quiserem uma alimentação variada, garanto-vos que precisamente de um bom orçamento.
    Espero que essa Isabel Jonet (o apelido diz tudo) seja demitida o quanto antes, apesar de sabermos que no lugar vai ser posta/o outro/a fantoche.
  16. António Melo says:
    É deveras curioso como algumas pessoas insistem em discutir o acessório, esquecendo o fundamental das questões.
    Não está aqui em causa a virtude de uma alimentação ou de outra, mas sim o direito a ter uma alimentação, tendo os meios para o fazer com liberdade e dignidade, sendo pago com justiça pelo valor do seu trabalho, e vendo os seus impostos a serem aplicados onde devem: no pagamento das suas necessidades sociais, educação, saúde, justiça, segurança, etc. e não continuando a sustentar a má gestão do estado, da banca e dos nossos reformados de luxo, que continuam na vida “activa” mas não prescindem das suas “pequenas reformas” e têm moral para vir á comunicação social apelar e justificar sacrifícios e austeridade, para os outros, lógico. Isto sim é, para mim, fundamental e deve ser discutido.
  17. Zé Povinho says:
    Parabéns pela resposta! Temos de denunciar todos os esquemas da direita beata e balofa.
  18. Maria says:
    Bom, para a pobre Isabel Jonet e seus seguidores recomendo;
    Saiam da sua zona de conforto durante 6 meses, providenciem o sustento do vosso agregado familiar, durante esse tempo, com 500 euros por mês e depois venham explicar-nos o que comem todos os dias depois de pagar renda, água, luz, gás, algum medicamento que precisem e transportes para o agregado familiar se deslocar para o trabalho e/ou para a escola, podem então ajudar-nos a ser felizes com o exemplo de tamanho despojamento.
    Se não sobrar nada para comer, podem sempre usar velas, em vez de eletricidade, ir à fonte buscar água, colherem lenha na natureza para cozinhar e viver debaixo da ponte, talvez assim sobre alguma coisa para os filhotes poderem ir aos concertos de rock.
    Os ricos, para ficarem mais ricos, precisam sempre de mais pobres.
  19. Manuela Ferreira says:
    Comer bem é um luxo.
    A fruta e as verduras são caríssimas, e a fruta muitas vezes não tem qualidade.
    Tanto que é luxo que até se converteu num negócio – comida biológica.

    Esta gente da (alta) caridade, são “gente de bem”, geralmente muito católicos (mas nada cristãos) até se reúnem ao Domingo de manhã, para confraternizarem e debaterem as “ajudas”, que e só para disfarçar possam alguma vez sair do bolso deles. Até já se conhecem do clube de ténis ou da natação. Nesses encontros passeiam a vaidade, descrevem a última viagem ao estrangeiro e a que estão agora a planear fazer, quando “tiverem tempo” (para dizer que trabalham). Não dão um cêntimo a um pobre ou fazem qualquer esforço para ajudar o que está à beirinha a precisar de ajuda. Muitos são só pseudo-ricos. São racistas, não gostam de pessoas pobres. Pode andar lá um ou outro enganado.
    Obrigada cara Raquel Varela, e a todos os que ajudam os outros de verdade.

    Victor Nogueira
    Há duas questões que estão baralhadas
    1. - a dieta alimentar
    2. - os custos da dieta alimentar.

    Os seres humanos não são por natureza vegetarianos mas carnívoros. Não sei os termos mas o aparelho digestivo e a dentição são idênticas às dos carnívoros e não dos ruminantes ou equídeos.

    O ser humano pode optar por uma alimentação exclusivamente vegetariana ou omnívora, equilibrada e saudável ou não. Naturalmente condicionado por hábitos alimentares ou pela publicidade, com uma dieta equilibrada ou não. Que em qualquer caso tem custos, comportáveis ou não face ao nível de rendimentos.

    E Raquel Varela questiona dois aspectos relativamente a Isabel Jonet e a instituições como o Banco Alimentar:

    1. - a questão ideológica, da caridadezinha substituir-se à solidariedade e aos direitos como reivindicação e não "esmola" que constam da Declaração Universal dos Direitos do Homem, adoptada pela ONU em resultado da II Guerra Mundial, entre outras. A mesma questão ideológica que leva á fome e subalimentação resultantes da lógica da produção capitalista. A mesma ideologia subjacente às igrejas, independentemente da "boa-fé" e que leva ao conformismo.

    A lógica do Banco Alimentar é que sejam os consumidores a comprarem produtos que dão lucro aos vendedores, sobretudo às grandes superfícies comerciais, as quais fogem não só ao pagamento de impostos, como aliás a Igreja Católica Apostólica Romana, como destroem os excedentes não consumidos para manterem as taxas de lucro.

    Aliás, a própria natureza das recolhas do Banco Alimentar leva a uma dieta desequilibrada: enlatados, arroz, massas. Nem carne nem peixe nem fruta nem legumes frescos.

    2. - É um facto que além de se alimentarem mal e insuficientemente, antes do 25 de Aril as pessoas passavam fome. Dizem-no as estatísticas e diz a vivência de quem contactou as populações em trabalho de campo sociológico ou ouviu as "histórias da vida". Alimentação que melhorou depois do 25 de Abril. Basta as pessoas pensarem ou repararem como eram enfezadas as pessoas do "antigamente" e como os seus filhos e netos, apesar de todos os erros alimentares, são mais altos e saudáveis.

    2. – A  2ª questão é a peregrina ideia de que as pessoas passam fome pk não sabem alimentar-se. É certo que quanto mais baixo o rendimento maior é a parcela da despesa de alimentação. Que outrora, sendo apesar disso insuficiente em termos energéticos, era substituída pelo tal vinho que dava de comer a um milhão de portugueses. Peregrina ideia de que somos todos naturalmente vegetarianos e que se todos fossem vegetarianos não haveria problemas .. de fome e subnutrição, com exemplos anedóticos da esfera familiar tomada como um todo. Havia fome em Portugal antes do 25 de Abril e voltou a haver fome na península de setúbal, então negada pelo 1 Ministro Mário Soares, fome que voltou em força, obrigando hoje muitas autarquias a fornecerem alimentação às crianças. Porque o desemprego e as prestações sociais e subsídios não chegam para as despesas elementares quanto mais para todas as outras consagradas na tal “subversiva” Declaração Universal dos Direitos do Homem adoptada pela ONU e noutras consubstanciadas naquilo que se convencionou chamar os direitos de 2ª e 3ª geração, que consideram o ser humano mais que uma máquina (re)produtora alimentada ao nível de subsistência, como alguém defende. 
    Pk o problema é que o actual desenvolvimento das forças produtivas e da ciência e tecnologia permitiriam alimentar a humanidade desde que a lógica da produção e da organização da sociedade não fossem a da maximização do lucro e da subordinação da economia a esta lógica predadora e desumana.

    http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-os-direitos-humanos/

Sem comentários: