sábado, 27 de outubro de 2007

Retratos (15) - Os deleitos do Camilo

* Victor Nogueira
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Estava eu para aqui alinhavando estas linhas (...) quando o Carlos me entrou pelo quarto dentro, com um "Ah! Estou muito cansado. Imagina lá que andei com o Camilo a ver monumentos; pela milésima vez fui ao Museu e à Sé". Sabes, por causa do Camilo andar na fase cultural! ( O menino agora anda a estudar latim, não conseguiu convencer qualquer de nós - eu e o Carlos - a acompanhá lo em tão profundos estudos, mas nem por isso consegui escapar ás longas dissertações ali à mesa do Arcada, especialmente quando descobriu um interlocutor: o Régua, que também estudou latim! (MCG - 1972.10.07)
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Mas eu já estou calejado demais para trovejar como o Camilo ou ficar com a lágrima ao canto do olho como o Carlos. (MCG - 1972.10.18)
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Já devia ter me levantado para cerrar a janela escancarada, através da qual entram não só o frio como os alegres e rápidos acordes duma qualquer composição para piano que um dos co-hóspedes do Camilo põe a tocar frequentemente. (MCG - 1972.11.08)
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Na mesa ao lado o Camilo escreve. Deve ser o 3º testamento, nesta tarde. (...) (MCG - 1973.01.16)
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Passa os dias no café na conversa. Hoje faltou à aula de Planeamento. Serviu de pretexto o seu cansaço. Que ia para casa dormir. Chego ao café ás 6 da tarde e estava no paleio com o João Luís. (...) Não lucro nada em irritar me, por contraproducente, mas aquele tipo podia ser um pouco mais realista, deixando se de evasões quando é preciso trabalhar. (MCG - 73.02.06)
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Passo agora horas seguidas a escrever, quer rascunhos manuscritos, quer dactilografando. Há pouco o Camilo berrou me ali da casa dele para eu deixar de escrever à noite, pois está farto do tac-tac da máquina [pela noite dentro]. Mas cá em casa ainda ninguém se queixou. [A casa dele ficava na Rua dos Mercadores, o quarto dele na direcção do meu, avistando se os terraços de ambas as casa] (MCG - 1973.04.14)
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O Arcada é um zum-zum de vozes e louça e máquinas e cadeiras atiradas. Na mesa ao lado o Camilo delicia-se com o "Ricardo III" do Shakespeare. De vez em quando comunica-me um ou outro dos diálogos da peça. (MCG - 1973.06.08)
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O Carlos e o Camilo só estão bem na poluição do Arcada. Quem lhes tirar a fumarada tira lhes a vida e o ser !!! (MCG - 1973.07.03)

2 comentários:

De Amor e de Terra disse...

Há gente assim...só consegue conentrar-se no meio do barulho!
Que se há-de fazer?!...



Maria Mamede

A MINHA AMIGA ESTRELA CADENTE disse...

Isso foi uma coisa que sempre me fez confusão. Cono é que se estuad com tanto barulho?...